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O novo guia de prevenção ao câncer

Uma das mais respeitadas entidades na luta contra tumores publica um documento robusto, no qual lista os principais fatores de risco que devem ser evitados

Por Thaís Manarini
20 nov 2020, 14h41

Em linhas gerais, dá para dizer que o câncer é resultado de mutações genéticas que, entre outras coisas, culminam na multiplicação desordenada das células. Acontece que a menção ao DNA faz a história parecer um único caminho, numa reta só: tudo dependeria de ter ou não uma predisposição particular ao problema. Uma questão de sorte, no fim das contas. Pois acreditar nisso é um perigo.

“Alterações genéticas que levam ao câncer também podem ser causadas pelos nossos hábitos”, resume o oncologista Jairo Lewgoy, gestor do Centro Integrado de Oncologia do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ou seja, os comportamentos diários são peças centrais no labirinto que termina (ou não) em um tumor.

Com o intuito de reforçar essa mensagem, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês) publicou neste ano um extenso documento em que destaca 11 grandes fatores por trás da doença. Nem todos têm o mesmo peso, claro. Mas, entre os mais determinantes, estão hábitos que dependem majoritariamente da gente para serem modificados.

É o caso de tabagismo, sedentarismo, alimentação desequilibrada, além de exposição solar excessiva e abuso de álcool. Ainda assim, os demais merecem ser conhecidos — nos referimos, por exemplo, a poluição do ar e contaminação da água. “Dessa forma, as pessoas podem inclusive se mobilizar e pressionar os governantes para que diretrizes sejam implementadas nessas áreas”, justifica Adeylson Ribeiro, doutor em saúde pública e pesquisador do Hospital de Amor, em Barretos, no interior paulista.

Para se livrar do câncer, outra medida imprescindível é realizar consultas de rotina. “Nelas, os profissionais de saúde podem passar orientações detalhadas sobre hábitos e medidas capazes de prevenir doenças”, justifica o oncologista William Nassib William Jr., da BP — A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Inúmeros especialistas que têm contato diário com os pacientes, como pediatras, ginecologistas, urologistas, clínicos gerais, cardiologistas e dermatologistas, são decisivos aqui.

O cuidado periódico tem mais uma função crítica: realizar a detecção precoce de um eventual tumor. “Quando identificamos a doença em estágios iniciais, as chances de cura são muito maiores”, ressalta o médico da BP. Recado dado, agora é hora de conhecer os fatores de risco abordados pela Iarc — e as atitudes que ajudam a se desviar deles e do câncer.

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1. AGENTES INFECCIOSOS

Estima-se que 13% de todos os tumores flagrados em 2018 foram causados por infecções disparadas por vírus, bactérias e parasitas. “É um número estrondoso”, afirma Daniela de Freitas, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. O dado é particularmente surpreendente porque muitos desses patógenos são facilmente evitados. Para o vírus da hepatite B, associado ao câncer de fígado, temos uma vacina, por exemplo.

Também há um imunizante para deter o papilomavírus humano (HPV), ligado sobretudo ao câncer de colo de útero, um dos mais comuns por aqui. Por ser transmitido pelo sexo, o contato com o HPV é limitado ainda pela camisinha. “É preciso falar sobre a prevenção dessas infecções nas consultas de checkup e avaliar a necessidade de fazer exames de sorologia para detectá-las”, orienta Daniela.

Inimigos invisíveis

Cinco patógenos ligados ao câncer

Papilomavírus humano (HPV)
Além do câncer de colo de útero, pode causar o de boca, pênis e ânus. O certo é se vacinar antes do início da atividade sexual — dá para tomar a dose na rede pública.

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Helicobacter pylori
A bactéria é transmitida via alimentos contaminados e está por trás do câncer de estômago. Antes, pode ocasionar gastrite e úlcera. Vale investigar azia e dores.

Vírus da hepatite B
Eleva em 100 vezes o risco de câncer de fígado. É passado adiante por transfusões, sexo e de mãe para filho. Tem vacina desde 1982. Se não tomou, vá atrás.

Vírus da hepatite C
A transmissão é parecida com a da hepatite B. Só que não há vacina. Assim, é crucial fazer diagnóstico e tratamento. Dos infectados, 4% têm câncer.

Vírus Epstein–Barr
É associado a tumores linfáticos. O contágio ocorre por meio da saliva. Pode provocar a mononucleose, a doença do beijo. Não há vacina e a prevenção é um baita desafio.

HIV, um capítulo à parte

O vírus causador da aids também é mencionado no documento da Iarc, mas sua participação no aparecimento de um tumor não é tão direta. O dilema aqui está no fato de que o HIV prejudica as defesas naturais de quem convive com ele. “Como consequência, todos os outros agentes infecciosos acabam se tornando mais ameaçadores”, explica Daniela. De acordo com a médica do Sírio-Libanês, se proteger nas relações sexuais e manter a imunidade em dia é indispensável para debelar as demais infecções. “Investir em uma dieta saudável e praticar exercícios são hábitos que auxiliam nessa tarefa”, informa.

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2. SOL E RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA

Embora o astro-rei seja vital para a produção de vitamina D, a exposição excessiva tem link direto com o câncer de pele. Há duas versões: o não melanoma e o melanoma. O primeiro corresponde a 90% dos casos. Segundo o médico Elimar Gomes, do Departamento de Oncologia Cutânea da Sociedade Brasileira de Dermatologia, seu crescimento é um pouco mais lento e a capacidade de migrar para outros órgãos, menor. Já o melanoma é agressivo e mais letal — a incidência se eleva entre 30 e 60 anos.

O conselho da Iarc é evitar a exposição desnecessária ao sol. “Os raios UVB, mais intensos entre 9 e 15 horas, alteram o DNA das células, favorecendo o tumor”, explica Gomes. Mas a radiação UVA, que ultrapassa vidros, já está na mira dos experts. “Ela induz a formação de radicais livres e dispara o estresse oxidativo”, avisa o dermato. Aí é confusão na certa. Se trabalhar perto de janela, use protetor. E não demore a examinar feridas e pintas diferentes.

Como resguardar a pele

Alguns truques amenizam os riscos da exposição solar

Horário ideal
A Iarc pede para limitar o tempo fora (na praia, no campo ou na cidade) entre 9 e 15 horas, quando a intensidade dos raios é sabidamente mais forte.

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Roupas com proteção
São úteis especialmente para esportistas (que não conseguem reaplicar o protetor) e indivíduos de alto risco, como aqueles que trabalham ao ar livre.

Chapéu e guarda-sol
Os chapéus de aba larga colaboram muito para a proteção do rosto, das orelhas e do cucuruto. Na praia, não dá para ficar sem um bom guarda-sol.

Filtro solar
Seu uso tem que virar rotina. “O ideal seria acordar, escovar os dentes e passar protetor”, diz Gomes. Isso se aplica a crianças, adultos e idosos.

 

Zele por cada cantinho

Nariz, careca, nuca, mãos, pés e lateral do peito são áreas sujeitas ao câncer, mas costumam ficar sem protetor. Capriche nelas!

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3. TABACO

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

Este é provavelmente o item do guia que as pessoas mais vinculam ao câncer. Com razão. “O uso de tabaco é a principal causa evitável da doença”, pontua a Iarc. A cardiologista Jaqueline Scholz, coordenadora do Comitê de Controle do Tabagismo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), nota que o cigarro segue como o grande veículo para esse consumo.

Trata-se de um produto com mais de 8 mil compostos, sendo que pelo menos 70 são carcinogênicos. Para ter ideia, mais de 20 tipos de tumor estão atrelados ao fumo. “Mas hoje temos tratamentos muito eficientes contra a dependência. Basta querer parar”, afirma Jaqueline. Para quem se sente mais seguro ao usar cigarros eletrônicos, um aviso: no que diz respeito ao câncer, o impacto em longo prazo ainda é desconhecido. “Já para o coração, o risco é o mesmo do cigarro convencional”, alerta a especialista.

  • 2,4 milhões é o número estimado de mortes por câncer relacionadas ao tabaco que ocorrem todos os anos
  • 1 bilhão é a projeção de mortes para este século, no mundo, em decorrência do uso de itens à base de tabaco
  • 114 mil é a quantidade de óbitos por câncer associados ao fumo passivo anualmente

Tripé de combate ao vício

A médica da SBC conta o que funciona

Cuidado com emoções
“Às vezes, um distúrbio de humor impede o indivíduo de abandonar o cigarro”, relata Jaqueline. “Por isso, um diagnóstico adequado de saúde emocional faz diferença”, completa.

Prescrição de remédios
Para quem é altamente dependente do fumo, adesivos e chicletes de nicotina tendem a não controlar a fissura. “Há medicamentos potentes para indicar nessas situações”, diz a médica.

Substituição da memória
Para Jaqueline, a pausa para o cigarro deve deixar de remeter a algo prazeroso. Daí a expert criou uma técnica: o paciente até pode fumar, desde que em pé, parado e diante de uma parede branca.

4. ÁLCOOL

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

Em seu relatório, a Iarc esclarece que as bebidas alcoólicas reúnem inúmeros elementos carcinogênicos, mas o etanol em si é o mais ardiloso. “Ele é capaz de produzir radicais livres, que induzem oxidação e prejuízos ao DNA”, justifica o oncologista Rodrigo Munhoz, do comitê científico do Instituto Oncoguia. Além disso, Munhoz lembra que sua degradação gera subprodutos que são tóxicos e podem danificar o DNA diretamente.

Para a Iarc, o risco precisa ser mais alardeado — a entidade sugere até incluir mensagens no rótulo das bebidas alcoólicas. E de qualquer uma, viu? Embora o vinho tenha fama de benéfico por causa do resveratrol, os autores do guia calculam que, para cada câncer que tal substância venha a prevenir, outros 100 mil casos são promovidos pelo etanol. Para tirar proveito do resveratrol, melhor seria optar pelo suco de uva.

  • 4% dos falecimentos por câncer no mundo, em 2016, foram culpa do consumo excessivo de álcool
  • 14% das mortes por câncer entre pessoas de 30 a 34 anos ocorridas em 2016 estão ligadas à ingestão frequente de álcool
  • 43% é a porcentagem de adultos ao redor do planeta que, em 2016, ingeriram álcool, substância cujo exagero leva a câncer de garganta, fígado…

Como manter a linha

Não vale abusar nem no fim de semana

Pegue leve
É a mensagem crucial. Mulheres devem se contentar com uma dose ao dia (uma taça de vinho ou uma latinha de cerveja, por exemplo). Para homens, até duas doses.

Não tem compensação
Caso não tenha bebido de segunda a quinta-feira, não existe acúmulo de saldo para o fim de semana. Esse comportamento é extremamente prejudicial.

Invista em outros hábitos
Se a bebida funciona como muleta para aliviar a ansiedade — algo mais comum durante a pandemia de coronavírus —, tente trocá-la por leitura, meditação, exercícios…

Procure ajuda
Ao notar dificuldade para maneirar nas doses, busque um especialista. Há remédios para acabar com a fissura por álcool. A psicoterapia também tem seu papel.

Conheça grupos de apoio
O Alcoólicos Anônimos, cujo método é baseado em 12 passos, é o mais famoso deles — e funciona pra valer, como estudos pelo mundo já atestaram.

5. DIETA

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

Um modelo alimentar desajustado é estopim para a obesidade. “E ela está relacionada a 12 tipos de tumor”, expõe a nutricionista Thaís Manfrinato Miola, do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo. E, mesmo que um indivíduo não seja classificado como obeso, é totalmente plausível que seu estilo de dieta dê subsídios para o surgimento de um câncer. “O consumo de carnes processadas e o abuso de carne vermelha e de produtos ultraprocessados aumentam o risco da doença por mecanismos específicos”, observa Thaís.

Mas o que seria uma dieta protetora? Bem, a Iarc deixa claro que se trata de um padrão geral. “Ele deve ser composto sobretudo de alimentos de origem vegetal, naturais ou minimamente processados”, resume a nutricionista Maria Eduarda Melo, do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Na prática, é abastecido de fruta, verdura, cereais integrais e leguminosas — trate de trazer diversidade à mesa. Na contramão, o espaço para proteínas animais, sal, carboidratos refinados, bebidas açucaradas e fast-food deve ser restrito.

A equação no menu

A fórmula geral da dieta anticâncer

Coma mais
Frutas, verduras, legumes, cereais integrais, fontes de proteína vegetais (feijão, soja, lentilha…) e oleaginosas (nozes, castanhas, amêndoas…)

Coma menos
Carnes vermelha e processada, grãos refinados, bebidas açucaradas, doces, sal e itens ultraprocessados.

Café: pode ou não pode?

Ele não é componente fundamental da dieta, mas é saboreado nos quatro cantos do mundo — e por um tempo houve dúvida sobre sua relação com o câncer. Mas a Iarc esclarece que, lá pela década de 1970, os estudos provavelmente fizeram confusão porque muitos tomadores de café eram, em paralelo, fumantes. Daí por que a maior probabilidade de câncer despontava nas análises desse pessoal.

Hoje, os achados vão no sentido oposto: muitas pesquisas indicam que o hábito de tomar café teria um efeito protetor contra alguns tipos de tumor. “Mas ainda não temos uma definição sobre a dose ideal”, repara Maria Eduarda. Uma boa pedida é se concentrar em três a cinco xícaras, quantidade vista como segura por grande parte dos especialistas.

A polêmica das cápsulas

Vira e mexe ouvimos que determinadas vitaminas ou certos minerais possuem poder contra o câncer. Isso muitas vezes leva à falsa impressão de que ingerir suplementos à base dessas substâncias isoladas afugentaria, então, um tumor. Contudo, o documento da Iarc adverte que a estratégia não mostra vantagens. Pior: há situações inclusive em que oferece riscos.

Por outro lado, os estudos conduzidos com multivitamínicos (que misturam várias dessas substâncias) não apontam malefícios. Alguns até deram pistas de vantagens, mas mais em homens. De qualquer maneira, o guia destaca que as organizações de combate ao câncer tendem a contraindicar a suplementação. Elas instruem obter os nutrientes por meio da comida.

6. CARCINOGÊNICOS NA COMIDA

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

A Iarc separou um capítulo para abordar agentes nocivos específicos que podem ser encontrados nos alimentos, como a aflatoxina. Associada ao câncer de fígado, a substância é produzida por um fungo que costuma se proliferar no amendoim mal armazenado. Por isso, na hora da compra, dê preferência a produtos com o selo Pró-Amendoim.

Nessa seara, temos também as carnes vermelha e processada, que inspiram cuidados redobrados — afinal, os elementos ameaçadores são inerentes a elas. Ainda assim, há diferenças entre as duas turmas. “Quando a carne vermelha é submetida a altas temperaturas, ocorre a formação de substâncias com potencial carcinogênico, como as aminas heterocíclicas”, alerta Maria Eduarda. “Mas as carnes oferecem nutrientes importantes. O problema está no consumo excessivo”, pondera.

Já as carnes processadas, representadas por salsicha e companhia, não inspiram elogios. “As técnicas usadas na fabricação, como defumar e curar, geram compostos nitrosos e carbonetos aromáticos, considerados carcinogênicos”, detalha a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz, diretora do corpo clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. “Do ponto de vista nutricional, esse grupo não oferece nada”, reforça a especialista do Inca. Quando o assunto é câncer, a Iarc até coloca as carnes processadas no mesmo patamar do tabaco.

Manual da carne segura

O que saber antes de ir para a cozinha

Nada de abusos
O Inca indica restringir o consumo a 500 gramas por semana. Se for um bife médio, de uns 150 gramas, falamos de três a quatro refeições de domingo a domingo.

Olho na temperatura
Priorize a versão ensopada, guisada ou assada. Se quiser grelhar, faça um pré-cozimento. Assim, o bife fica exposto a altas temperaturas por menos tempo.

Churrasco não pode ser rotina
Ele combina temperatura elevada e presença de carvão, um baita agravante. Substâncias que se soltam dele e grudam na carne têm propriedades cancerígenas.

Capriche no acompanhamento
Ao botar o bife no prato, não se esqueça de incluir vegetais, como tomate, beterraba, cenoura, brócolis… Eles ajudam a reduzir a absorção dos carcinogênicos.

Carnes processadas: uma lista para evitar

Para cada 50 gramas desses produtos ingeridos na rotina, sobe 18% o risco de ter câncer colorretal. Então é bom passar longe de salsicha, salame, peito de peru, presunto e afins.

7. SEDENTARISMO E OBESIDADE

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

Nos últimos 40 anos, a ciência coleciona estudos que ligam esses fatores à gênese de um tumor. Em síntese, os motivos por trás disso abrangem o aumento na circulação de determinados hormônios, a resistência à ação da insulina e uma inflamação crônica. O oncologista Jairo Lewgoy, do Hospital Mãe de Deus, enfatiza que o sedentarismo por si só, sem a presença da obesidade, já contribui para os problemas.

Tem mais um detalhe crítico. Ainda que você faça atividade física religiosamente — musculação, caminhada, natação, e por aí vai —, permanecerá na rota do caos se a sua rotina for bastante ociosa. É o que os especialistas chamam de comportamento sedentário. De acordo com a Iarc, isso inclui ficar parado no escritório, diante da televisão, ao ler e ao se deslocar de carro, ônibus ou trem.

“Passar mais de oito horas sentado é um fator de risco isolado, e não só para o câncer”, aponta Lewgoy. Para quem trabalha nessa posição, a dica é dar uns passos com certa frequência. Que tal colocar um alarme a cada 30 minutos? É claro que isso não dispensa a necessidade dos exercícios planejados.

Segundo a Iarc, há evidências de que eles reduzem a probabilidade de encarar pelo menos 13 tipos de tumor. E nunca é tarde para dar o pontapé inicial. “Tornar-se ativo traz benefícios em qualquer momento da vida”, encoraja Lewgoy. Até mesmo após o diagnóstico de um câncer. “Praticar atividade física contribui com a diminuição de mortalidade. Não podemos nos esquecer desse remédio tão importante”, diz o oncologista.

  • 24% é a prevalência de inatividade física no planeta. A saúde padece com isso!
  • 1,97 bilhão dos adultos no mundo estavam acima do peso ou eram obesos em 2016
  • 338 milhões das crianças e dos adolescentes também tinham sobrepeso ou obesidade em 2016

Por um dia mais movimentado

O que levar em conta ao planejar a saída do sofá

Frequência ideal de exercício
Não há fórmula exata para prevenir um tumor. Mas a última diretriz da Sociedade Americana do Câncer indica de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada por semana ou 75 a 150 minutos da versão vigorosa. Entre as crianças, a pedida é de uma hora por dia.

Misture as modalidades
Na diretriz, os autores assumem que faltam dados sobre a relação entre exercícios de força (tipo musculação e pilates) e a prevenção do câncer. Ainda assim, as vantagens dessas atividades à saúde são indiscutíveis. Por isso, aconselham que sejam realizadas duas vezes por semana.

Deixe a rotina mais ativa
De nada adianta virar atleta de manhã ou à noite se o resto do tempo é uma pasmaceira só. Por isso, organize-se para levantar mais durante o expediente. Além disso, troque a televisão por passeios, desça do ônibus uns pontos antes, substitua o elevador pelas escadas…

8. MEDICAMENTOS HORMONAIS

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

De cara, a Iarc pontua que é um desafio estabelecer o nível de ameaça de um remédio em relação à formação do câncer porque, ainda que muita gente recorra a eles, é necessário um longo tempo de vigilância para que seus riscos ou benefícios se manifestem. Devido ao uso desde a década de 1960, os contraceptivos hormonais entraram no rol de substâncias que podem ser destrinchadas um pouco melhor.

No documento, os autores consideram que, até agora, há sinais de que os tipos que combinam estrogênio e progesterona seriam carcinogênicos — eles elevariam o risco especificamente dos tumores de mama, colo de útero e fígado. Já as opções somente de progesterona foram definidas como possivelmente carcinogênicas, e atreladas ao câncer de mama.

“Mas a magnitude do aumento é desprezível do ponto de vista clínico”, pondera o oncologista Felipe Ades, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. Por isso, o médico entende que não há motivo para contraindicar os contraceptivos ­— pelo menos no que se refere à prevenção de um tumor. “Esse dado deveria ser tratado de maneira mais prudente no relatório, justamente para não estimular um pânico desnecessário”, reforça.

Agora, o que já é consenso, e o guia faz questão de salientar, é o elo entre a reposição hormonal — tratamento indicado para aliviar os sintomas da menopausa — e o câncer. Para Ades, o segredo aqui é pesar os prós e contras após uma longa conversa com o ginecologista.

Para mulheres de baixo risco, como aquelas sem histórico familiar de câncer e que não estão expostas a outros fatores importantes, recorrer à terapia hormonal por uns três ou quatro anos tem tudo para ser tranquilo e seguro. “Mas é fundamental começar o tratamento já sabendo em qual data irá acabar”, frisa o oncologista. Fora isso, a mulher deve ser acompanhada de perto pelo médico.

  • 100 milhões de mulheres ao redor do planeta fazem uso, todos os dias, de contraceptivos hormonais
  • 1 milhão de casos de câncer de mama estão associados à terapia de reposição hormonal em países de alta renda desde 1990

E os tratamentos para fertilidade?

Cada vez mais comuns, eles também envolvem hormônios. Contudo, a Iarc registra que os estudos publicados até agora têm limitações e, por isso, não dá para chegar a nenhuma conclusão quanto ao risco de câncer. “De qualquer maneira, com as pistas que temos, já daria para identificar se houvesse algo muito preocupante”, comenta Ades. O próprio documento calcula que mais de 1,5 milhão de ciclos de reprodução assistida começaram no mundo durante 2011, sem falar na quantidade desconhecida de induções de ovulação.

9. RADIAÇÃO IONIZANTE

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

O nome é complicado, mas veja: há inúmeras fontes desse tipo de radiação. A natural tem origem na crosta terrestre e em raios cósmicos, por exemplo. A artificial vem da indústria nuclear e da medicina. “A radiação ionizante pode causar danos diretos ao DNA. Mas, no dia a dia, a gente se preocupa mais com a exposição frequente por procedimentos médicos”, esclarece Munhoz. Entre eles estão os exames de raios X e tomografia computadorizada, além de tratamentos como a radioterapia.

Evidentemente que esses são recursos de enorme valia à saúde. Por isso, nada de desespero. “O ponto-chave é que exames desnecessários devem ser desencorajados”, sintetiza o oncologista. Parece óbvio, mas eles ocorrem mais do que você imagina. Por uma questão cultural, muita gente só se sente cuidada de verdade quando o profissional de saúde pede esses procedimentos — e aí vira uma bola de neve. A corrente precisa ser quebrada com uma comunicação clara, que ilustre como o excesso pode trazer mais estragos do que soluções.

O mistério do celular

A radiofrequência emitida pelo celular, considerada não ionizante, também é alvo de estudos — mas, até o momento, não há conclusões sobre sua influência no surgimento de um câncer. Diante das incertezas, a sugestão da Iarc é que, durante o uso, as pessoas não fiquem com o aparelho grudado ao corpo. “Isso resultará em uma redução substancial da exposição”, afirma o documento.

10. ATIVIDADE PROFISSIONAL

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

Por vezes, a convivência com agentes carcinogênicos se dá no ambiente de trabalho, como o contato com benzeno no posto de gasolina ou na siderurgia. “Se a exposição durar anos e ocorrer sem equipamentos de proteção individual, a probabilidade de desenvolver um câncer é extremamente alta”, alerta o médico Alfredo Scaff, consultor da Fundação do Câncer, no Rio de Janeiro.

Para ele, é primordial conhecer esses elementos para que ocorra maior vigilância nos setores em que estão inseridos. O especialista frisa que o risco ocupacional não está vinculado somente à proximidade de uma substância perigosa: também vale, por exemplo, para quem labuta debaixo do sol. Pior ainda quando as duas ameaças andam juntas. É o caso do trabalhador rural, que lida, muitas vezes sem os acessórios necessários, com agrotóxicos (substâncias capazes de desencadear tumores) enquanto recebe a radiação solar.

11. CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL

(Ilustrações: Eber Evangelista (vírus) e Guilherme Henrique (ícones)/SAÚDE é Vital)

Segundo a Iarc, ao longo da vida estamos involuntariamente expostos a uma ampla gama de poluentes — e muitos são suspeitos de favorecer a aparição de um câncer. Dá até a impressão de que não temos saída, certo? Mas não é bem assim. Para o doutor em saúde pública Adeylson Ribeiro, do Hospital de Amor, conhecê-los nos permite pressionar os governantes por um lugar melhor.

As fontes do perigo

São basicamente quatro. Acompanhe:

No ar
A poluição atmosférica é o fator ambiental de maior relevância, especialmente em grandes centros, onde a exposição é contínua. “A frota de caminhões e ônibus contribui com 50% da poluição do ar”, conta Ribeiro. Não à toa, durante estudo na capital paulista, o cientista identificou que os moradores da periferia, que gastam mais tempo no transporte público, correm maior risco de encarar um tumor do aparelho respiratório. Uma troca de veículos a diesel pelos elétricos já amenizaria esse impacto. Do ponto de vista individual, seguir com o uso de máscaras após a pandemia também ajudaria.

No solo
Pode acabar contaminado por atividades humanas, como as agrícolas. A Iarc alerta para a possibilidade de inalação, ingestão acidental (em brincadeiras de criança) e incorporação na comida.

Na água
A aplicação de agrotóxicos é capaz de afetar o lençol freático. Além disso, produtos usados para desinfetar a água dos rios e torná-la potável estão na mira da Iarc. Eles gerariam elementos carcinogênicos.

Na comida
A contaminação do solo e da água acaba interferindo nas plantas, que absorvem substâncias nocivas. Sem falar no emprego direto de agrotóxicos, nem sempre manipulados da forma adequada.

  • 350 mil é o número aproximado de mortes por câncer de pulmão que foram ligadas apenas à poluição atmosférica em 2017

EXAMES DE ROTINA

O oncologista William Nassib William Jr. explica os procedimentos empregados no rastreio e no diagnóstico precoce do câncer

Mamografia
Em geral, é solicitada a partir dos 50 anos. Mas isso pode variar — assim como a frequência. Em mulheres de alto risco para o câncer de mama, a ressonância é um complemento. E começa mais cedo.

Papanicolau
Flagra o câncer de colo de útero, um dos mais incidentes entre as brasileiras. Deve ser realizado a partir do início da vida sexual. Exames para o HPV podem reforçar os cuidados preventivos.

Sangue oculto nas fezes
Apesar de pouco disseminado, evita mortes por câncer de intestino, já que muitas vezes o primeiro sinal da doença é justamente sangue imperceptível nas fezes. É aconselhado a partir dos 50 anos.

Colonoscopia
Tem o mesmo intuito do exame que analisa a existência de sangue oculto nas fezes — isto é, rastrear um possível tumor no intestino. Mas esse acontece com o paciente anestesiado.

Tomografia de pulmão
É prescrito para fumantes e também ex-fumantes (caso não tenha completado 15 anos sem cigarro) por volta dos 50 anos. O intervalo varia. E lembre-se: raios X não servem para caçar tumor no pulmão.

Dosagem de PSA
Auxilia na detecção do câncer de próstata — mas não há consenso sobre seu benefício na ausência de sintomas. Converse com o urologista. O exame de toque retal pode integrar a análise.

Outros procedimentos
Enquanto o rastreamento é essencial para pessoas saudáveis, há exames que só fazem sentido em caso de sintomas — como a endoscopia, se houver dor de estômago, vômito com sangue etc.

 

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