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Leite muito além da vaca

Embora esse tipo reine no país, estão chamando a atenção os leites de outros animais. E não faltam opções para quem prefere a bebida de origem vegetal

Por Thaís Manarini
Atualizado em 19 abr 2021, 10h35 - Publicado em 16 abr 2021, 14h05

Nos últimos anos, o leite de vaca esteve no centro de polêmicas. Seja por causa da presença da lactose, seu açúcar natural — responsável por provocar reações gastrointestinais em um grupo de pessoas —, seja em decorrência do potencial alergênico de suas proteínas. A despeito disso, continuou firme e forte na rotina dos brasileiros. De acordo com o Anuário Leite 2020, publicado pela Embrapa Gado de Leite, a produção do alimento cresceu 139% entre 1990 e 2019, enquanto o consumo total disparou 131%. “Somos um dos maiores produtores do mundo”, informa o pesquisador Paulo do Carmo Martins, chefe-geral da instituição. Ainda assim, ele nota que o brasileiro consome 100 litros a menos por ano do que os europeus e os americanos, povos com grande tradição nesse aspecto. “Isso nos leva a imaginar que podemos crescer ainda mais”, acredita.

Mas há outros leites instigando o gosto dos consumidores, ainda que não sejam produzidos na escala da versão da vaca. Animais como cabra, ovelha e búfala também fornecem o alimento — e geram derivados valiosos, como queijos e iogurtes. Agora, uma fatia que nitidamente não para de aumentar é a de pessoas interessadas na bebida de origem vegetal. Se há alguns anos elas só contavam com opções à base de soja como alternativa ao produto da vaca, hoje o céu é o limite. A cada mês surge uma novidade nas gôndolas. Aqui, vale um adendo: recorrer ao termo “leite vegetal” para se referir a essa categoria está errado. Afinal, só pode ser denominado leite aquilo que vem das glândulas mamárias de fêmeas mamíferas. Não é o caso de uma bebida de amêndoas, por exemplo.

Antes de explorarmos esse universo paralelo, cabe ressaltar que não há nenhum problema em tomar o leite da vaca — a não ser que ele dispare reações indesejáveis no organismo ou não agrade seu paladar. Inclusive, usar o argumento de que o homem é o único mamífero que segue tomando o líquido depois de adulto é algo que já deveria ter sido abolido. “Essa frase pode ser empregada para uma infinidade de coisas”, aponta Desire Coelho, nutricionista que atua nas áreas esportiva e comportamental na capital paulista. “Na verdade, o consumo na idade adulta parece fazer parte de um processo de evolução da espécie humana depois que ela deixou de ser nômade e passou a domesticar os animais”, ensina a especialista, que também é coautora dos livros A Dieta Ideal (clique aqui para comprar) e Alimentação Saudável: Perguntas e Respostas ao Sabor da Ciência (clique aqui para comprar).

No início de 2021, um trabalho do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, na Alemanha, identificou a presença de proteínas lácteas em dentes de fósseis de 6 mil anos encontrados na região nordeste do continente africano. Mais uma prova de que, com a domesticação dos bichos e a ingestão contínua de leite, o organismo do homem se ajustou. “Ele desenvolveu uma adaptabilidade genética denominada pelos cientistas de persistência da lactase, possibilitando que o consumo do alimento não causasse intolerâncias”, relata a nutricionista Kelly Ferreira dos Santos, professora da Universidade São Francisco (USF), em Campinas e Bragança Paulista, no interior de São Paulo.

No fim das contas, as outras espécies só não bebem leite após a fase adulta porque não evoluíram a ponto de conseguir fabricar lactase, que é a enzima responsável pela quebra da lactose — o principal carboidrato do alimento. Sem ela, a digestão do nutriente fica penosa, levando a sintomas como dor de barriga, gases e diarreia. De qualquer forma, o nível de produção da enzima varia entre as populações e os indivíduos. Daí por que alguns se dão melhor com dois copos de leite do que outros. “Cada um precisa descobrir a dose que tolera”, afirma Desire. “Se consumir pouco e tiver muitos sintomas, vale acompanhar”, sugere. Mas driblar os efeitos inconvenientes não é complexo. Hoje, o mercado anda cheio de produtos sem lactose. Sem falar que a enzima lactase é vendida na farmácia.

A alergia ao leite é outro papo. Ela é provocada por proteínas e costuma dar as caras na primeira infância. “A situação está mais frequente, com quadros mais graves e persistentes”, diz a médica Jackeline Motta Franco, coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). Os sintomas incluem vômito, sangue nas fezes e diarreia. Inchaço na boca, urticária e desconforto respiratório também denunciam o problema. Se confirmada a alergia e o bebê estiver sendo amamentado (o ideal até os 2 anos), leite e derivados saem da dieta materna. Caso ele use fórmula, aí tipos especiais devem entrar em cena. O leite em si não pode ser dado à criança antes de 1 ano.

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A boa notícia é que a situação tende a se resolver sozinha e ainda na infância. Como isso pode ocorrer a qualquer momento, Jackeline aponta que é essencial levar a criança para avaliações médicas periódicas. “A reintrodução é desejada não só por vantagens nutricionais como também psicológicas”, argumenta. Afinal, não é fácil evitar um item tão popular quanto o leite.

Embora o leite de vaca seja reconhecido por suas proteínas de alto valor biológico — consideradas completas —, o nutriente mais crítico para a molecada é o cálcio, que auxilia na formação do esqueleto. “Nós fabricamos osso até os 20 anos”, ressalta a pediatra Elza Daniel de Mello, membro do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). É comum ouvir que os vegetais verde-escuros também são ricos no mineral. Mas Elza pondera que esses alimentos costumam ser boas fontes para os adultos — que já estão com a massa óssea feita. Para a criança, o melhor reduto é o leite mesmo.

leite de vaca
(Foto: Ricardo Davino/SAÚDE é Vital)

PERFIL DO LEITE DE VACA

A nutricionista Kelly Ferreira dos Santos, da Universidade São Francisco, informa que ele é fonte de proteínas, carboidratos — olha a lactose aí! — e cálcio. “Apresenta ainda vitaminas A, D, E e K, além de gorduras saturadas e insaturadas”, cita. “Para quem tolera, é um alimento ótimo”, avalia sua colega Desire Coelho.

Se na infância ele tem papel relevante na construção dos ossos, já que é exímio reduto de cálcio, na velhice ganha mais valor devido ao conteúdo de proteínas, essenciais aos músculos. “Com o passar do tempo, a necessidade desse nutriente aumenta, mas os idosos tendem a consumir menos”, comenta Desire. Aí é legal caprichar no café com leite, no mingau e nas vitaminas. Se possível, a nutricionista sugere optar pela bebida que tenha sido envasada na própria fazenda. “Quanto menos intermediários, melhor”, justifica. Uma checada no rótulo ajuda nessa identificação.

O que tem no copo

Os nutrientes que você ganha ao mantê-lo na rotina:

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Cálcio
O mineral dos ossos fortes é o maior trunfo. Em um copo de 240 ml, são 257 mg do nutriente. Um adulto precisa ingerir 1 000 mg ao dia.

Proteínas
Elas são de alto valor biológico, isto é, nos proporcionam todos os aminoácidos necessários. São 7 g em um copo de 240 ml.

Gordura saturada
Varia entre o integral, semi e desnatado. Ela dá saciedade, mas o abuso não é bacana. A indicação do melhor tipo é individual.

Vitamina D
Também auxilia na manutenção do esqueleto. Está sobretudo no leite integral, com mais gordura.

Lactose
É seu açúcar natural. Em algumas pessoas, causa chabus na digestão. Mas há produtos isentos desse carboidrato.

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Novidades do setor

O mercado é tímido, mas há leites com diferenciais que vão além do teor de gordura ou lactose:

Orgânico
O sistema de produção envolve uma série de regras, como pastagem livre de fertilizantes e agrotóxicos, além de troca de remédios veterinários alopáticos por formulações homeopáticas ou fitoterápicas. Segundo Paulo Martins, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, a produção é cara, o que reflete no preço do produto na gôndola. Logo, provavelmente seguirá como uma opção de nicho.

A2
Este, sim, tem potencial de expansão. As vacas só produzem proteínas do tipo beta-caseína A2 — e não A1 e A2, como de costume. “A A1 é ligada à formação de substâncias inflamatórias”, explica o gastroenterologista Clovis Kuwahara, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em certas pessoas, a má digestão pode vir disso. Daí a vantagem do A2. Não tem a ver com alergia, tá?

Como criar vacas felizes

Há várias formas de fazer isso. Uma proposta em alta se baseia no sistema chamado compost barn. Basicamente, as vacas ficam soltas em um galpão (fechado ou aberto), com serragem no chão e temperatura agradável. Também há monitoramento de sono, batimentos cardíacos, e por aí vai. A ideia é apostar em uma abordagem personalizada para cada animal — e não em algo para o rebanho inteiro. “Com esses cuidados, notamos duas coisas: aumento de produção natural de leite e menos problemas de saúde”, informa Martins.

Há 30 anos, na impossibilidade de ofertar a bebida à sua filha, que sofria de alergia alimentar, a bióloga Rita de Cássia Queiroga, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), começou a avaliar as propriedades do leite de cabra. “No caso dela, a resposta foi ótima. Isso me chamou a atenção”, diz a especialista, que passou a se dedicar ao estudo do alimento. Apesar dessa experiência, Jackeline, da Asbai, frisa que as proteínas dos dois tipos de leite têm bastante similaridade — de 80 a 90%. Então, para quem recebeu diagnóstico de alergia, a troca não é recomendada. O ideal é buscar orientação médica caso a caso.

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Durante suas pesquisas, Rita observou que o alimento vindo da cabra possui glóbulos de gordura de menor tamanho. “Isso favorece a digestão”, informa a professora. A lactose e o cálcio também batem ponto no produto. “O que ele não tem é betacaroteno. Tanto que o leite é branco, diferentemente do de vaca, levemente amarelado”, compara, citando o pigmento precursor da vitamina A. Para a bióloga, passou da hora de enaltecermos esse leite, produzido majoritariamente no Nordeste do Brasil. “Há muito preconceito. Ele é associado a um cheiro e sabor acentuados”, exemplifica. “Mas é questão de hábito”, pondera. Em regiões de maior vulnerabilidade social, Rita nota que a produção do alimento poderia melhorar as condições de vida de muitas famílias.

Outro tipo pouco reconhecido é o de ovelha. “Até estranhamos. Porque os nossos colonizadores já tinham o costume de explorar os leites de cabra e ovelha”, comenta o veterinário Octávio de Morais, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos e membro da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos de Leite (Abcol). Ele acredita que, lá atrás, os criadores não enxergaram potencial na bebida da ovelha por causa de seu maior teor de gordura. Fora que o custo de produção é alto. Assim, ficaria complicado competir com o leite de vaca.

Daí que o foco se voltou para os itens derivados do leite de ovelha, como iogurtes e queijos — considerados especiais. “São produtos mais cremosos”, descreve Morais. O pesquisador ressalta que o iogurte grego, por exemplo, é originalmente feito de leite de ovelha. “Ele não precisa de nenhum aditivo ou filtragem para ter uma consistência mais firme”, garante. Para os itens à base de leite ovino se espalharem por aqui, Morais acredita que basta a produção engrenar. “Não há dificuldade para vender. Mas, por enquanto, tem pouco produto para ofertar”, avalia o especialista.

Também fazem cada vez mais sucesso os derivados do leite de búfala, com destaque para o queijo do tipo burrata, de textura ímpar. “Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Búfalo, o crescimento na procura é de 20 a 30% ao ano”, conta Edson Martins, vice-presidente comercial da UltraCheese, detentora da marca Búfalo Dourado. De novo, o leite em si é difícil de achar. “Além da questão cultural, há o obstáculo da sazonalidade”, explica Martins. De acordo com ele, a grande safra começa em meados de março, sendo que o ponto alto fica entre abril e junho. “A partir de julho, a produção começa a cair, até chegar novembro, quando se inicia a entressafra”, conta. Nesse período, muitos produtores enfrentam queda expressiva em suas vendas. “Isso torna inviável o comércio de leite de búfala in natura”, conclui.

Para os estudiosos da área, os consumidores sairiam ganhando caso houvesse maior investimento nos leites de cabra, ovelha e búfala. “Quanto mais opções de alimentos tivermos, com diferentes tipos e teores de nutrientes, melhor”, reforça a nutricionista Larissa Kauly Rosa Silva, professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob) e membro do grupo de estudos em leite da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).

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leites de cabra, ovelha e búfala
(Foto: Ricardo Davino/SAÚDE é Vital)

PERFIS DOS LEITES DE OUTROS ANIMAIS

Búfala

Em comparação ao leite de vaca, ele concentra mais gorduras, carboidratos e proteínas. Para ter ideia, enquanto 100 ml da versão bovina guarda 3 g de gorduras, esse teor salta para 7 g no de búfala. “Por isso, tem um melhor rendimento na obtenção de derivados”, conta a nutricionista Larissa Kauly Rosa Silva, da Ufob.

Também é dificílimo achar o líquido em si porque há um período em que a produção despenca. Para Edson Martins, vice-presidente comercial da UltraCheese, o brasileiro está aprendendo a apreciar o queijo desse animal, que chama a atenção pela brancura e cremosidade. Na hora da compra, Larissa pede olho vivo na lista de ingredientes, já que há itens ditos de búfala com adição de leite de vaca. Martins indica ainda buscar pelo Selo de Pureza 100% Búfalo.

Cabra

De acordo com a bióloga Rita Queiroga, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), as gorduras do alimento são de menor tamanho, facilitando a digestão. Porém, quem enfrenta percalços com a lactose não deve se animar. “Ela tem tanto desse carboidrato quanto o leite de vaca”, diz. O cálcio também marca presença.

A pesquisadora acha uma pena que o leite caprino não esteja disseminado por aqui. “A indústria não investe porque não tem consumidor, que, por sua vez, não conhece o produto porque não o encontra. É preciso destravar esse nó”, defende. Um passo significativo: a Assembleia Legislativa da Paraíba aprovou a inclusão do alimento na merenda escolar. A produção ainda mobiliza a economia local.

Ovelha

“A ovelha produz pouco leite, mas ele é muito rico”, conta a veterinária e doutora em tecnologia de alimentos Andrea Troller Pinto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “É um produto mais viscoso, por causa da concentração de gorduras, e também mais adocicado, devido à lactose”, esmiúça. A pesquisadora garante que ele carrega um maior teor de proteínas e minerais do que outros tipos.

Pena que muita gente vai ficar só na imaginação. Mais uma vez, falamos de uma bebida difícil de ser obtida, até porque o custo de produção é elevado. Andrea pondera que há várias particularidades na criação de cabras, búfalas e ovelhas. “Tem toda uma logística industrial por trás”, informa. “Mas eu enxergo potencial de crescimento.”

Em um reino distante

Agora, um mercado que anda aquecido pra valer é o de bebidas de origem vegetal. Enquanto o leite de vaca tem variações apenas em relação ao teor de gordura e à presença de lactose, a categoria plant-based é vasta. “Os produtos têm ingredientes diferentes, alguns são enriquecidos com nutrientes, há aqueles com sabor…”, lista a nutricionista Alessandra Luglio, consultora da marca A Tal da Castanha, que chegou às gôndolas há sete anos, quando a versão de soja nadava sozinha. “Lançamos um dos primeiros produtos do mundo só com castanha-de-caju e água”, revela. O objetivo era ofertar uma receita similar à feita em casa.

Há cerca de seis anos, quem também estreou na praça foi a Vida Veg, com iogurtes, queijos e requeijões de origem vegetal. “A primeira bebida foi lançada em 2018. Só existiam umas cinco marcas no mercado. Hoje, são mais de 30”, relata Anderson Rodrigues, sócio-diretor da empresa. Para ele, esse boom é extremamente positivo. “Impulsiona o consumidor a escolher as melhores opções e estimula a gente a desenvolver produtos cada vez mais inovadores”, reflete.

bebidas de aveia e amêndoas
(Foto: Ricardo Davino/SAÚDE é Vital)

PERFIS DE ALGUMAS BEBIDAS VEGETAIS

Aveia

Seguindo a característica do alimento, a bebida tem alto teor de carboidratos. A aveia ainda é celebrada pela presença marcante de fibras, substâncias que dão saciedade e estimulam o funcionamento intestinal. “Mas elas são perdidas quando o líquido é coado”, avisa a nutricionista Luna Azevedo, do Rio de Janeiro. Se o preparo for caseiro, a expert ensina um truque: secar o resíduo no forno e usá-lo como farinha. No processo industrial, também não dá para manter as fibras.

“Com o tempo, elas se depositariam no fundo da caixinha, deixando o produto espesso”, explica a nutricionista Alessandra Luglio, consultora da marca A Tal da Castanha. Quem sofre de doença celíaca precisa escolher com cuidado. Embora a aveia não tenha glúten, ela pode acabar contaminada pelo contato com o trigo. Busque marcas que afirmem não levar a substância.

Dica: Combina com receitas que pedem leveza. Pode ser usada para preparar uma espécie de iogurte

Amêndoa

O alimento faz parte do time das oleaginosas, reconhecido por seu conteúdo caprichado de gorduras. Mas são versões bem-vindas ao organismo — um mix de mono e poli-insaturadas, parceiras sobretudo do coração. Segundo Luna, como o processo para chegar à bebida é feito com água quente, a maior parte dessa combinação migra para o líquido.

Agora, independentemente da qualidade, esse grupo de nutrientes é sinônimo de calorias. Então, pegue leve nos goles. “Se tomar de um a dois copos por dia, não vai extrapolar nas gorduras”, calcula Alessandra. Ela destaca outra vantagem de incluir a bebida de amêndoas na rotina: o acesso à vitamina E, antioxidante que blinda as células. Sem falar no sabor. “É o produto mais apreciado entre os consumidores”, percebe Luna.

Dica: Para um achocolatado, bata um copo com uma banana congelada e duas colheres de cacau em pó

A nutricionista Gabriela Parise, da clínica NutriOffice, em São Paulo, acredita que a demanda por essa categoria aumentou não só por causa do crescente público vegetariano e vegano. “Muitas pessoas desejam diminuir o consumo de alimentos de origem animal, e isso inclui o leite de vaca e seus derivados”, diz. O empenho em moderar vai além da preocupação com a própria saúde. Hoje, sabe-se que, para obter produtos vindos dos bichos, o impacto no meio ambiente é bem maior do que aquele gerado para elaborar itens plant-based. Alessandra recorda que, em levantamento do Euromonitor de 2019, uma das principais tendências levantadas foi justamente o consumo consciente. “As pessoas querem saber como suas escolhas interferem no planeta”, resume.

Dar um descanso à soja e focar em ingredientes como castanhas, amêndoas, coco e arroz só facilitou a migração. “A soja tem um grande potencial alergênico. Além disso, na maioria das vezes é transgênica e possui alto teor de agrotóxicos, fazendo com que não seja uma opção para parte dos consumidores”, pontua a nutricionista Luna Azevedo, do Rio de Janeiro. Com a variedade de sabores, ela nota também que há maior chance de as pessoas identificarem opções que se ajustem à sua situação financeira, condições de saúde e, claro, preferências de paladar.

Encontrar um corredor de supermercado abastecido de bebidas vegetais também tem lá seus desafios: segundo Alessandra, o consumidor precisa ficar muito mais concentrado nos rótulos antes de tomar sua decisão. Olha só: no caso do leite de vaca há uma padronização, e os teores de gorduras são predeterminados para as versões integral, semi e desnatada. Não há surpresas nesse aspecto. “Já os produtos vegetais ampliaram demais os horizontes, podendo ter várias bases diferentes”, esclarece a nutricionista. Uma bebida formulada com castanha-de-caju terá uma composição totalmente diferente de outra à base de coco, por exemplo. Mais do que isso, é fundamental saber detectar ingredientes dispensáveis.

bebidas de castanha de caju e soja
(Foto: Ricardo Davino/SAÚDE é Vital)

PERFIS DE ALGUMAS BEBIDAS VEGETAIS

Castanha-de-caju

Outro alimento representante da turma das oleaginosas. “Sua bebida é muito nutritiva, especialmente por causa da presença de gorduras boas”, analisa a nutricionista Gabriela Parise, da clínica NutriOffice, na capital paulista. Ainda de acordo com a profissional, estudiosa de vegetarianismo, o produto tem tudo para exibir uma bela porção de proteínas. “Vai depender da quantidade de castanhas utilizadas na bebida”, pondera.

Para escolher a melhor opção nesse quesito, não deixe de investigar o rótulo. Para fechar com chave de ouro, Gabriela informa que o alimento é fonte de antioxidantes e outros compostos bioativos. Para Alessandra, esse ingrediente é o que melhor se comporta na caixinha. “Ele é incorporado integralmente.”

Dica: Mais encorpada, cai bem em shakes, vitaminas, estrogonofe vegano, mingau, tortas e quiches

Soja

“Entre as bebidas vegetais, a de soja é a que apresenta o melhor perfil de aminoácidos”, afirma Luna, fazendo menção aos elementos que compõem as proteínas. Por muito tempo, ela imperou sozinha no mercado plant-based. Mas aí algumas questões atrapalharam o domínio: tem gente que começou a descobrir alergia à leguminosa.

Além disso, o produto costuma ser preparado com o grão transgênico, o que afasta uma parcela dos consumidores. Some aí o medo de alterações hormonais, particularmente em crianças e homens, por causa dos fitoestrógenos encontrados no vegetal — eles atuariam como o hormônio feminino estrogênio no organismo. “Porém, as análises científicas já têm conseguido provar que se trata de um alimento seguro”, tranquiliza Luna.

Dica: Evite a saborizada. Geralmente conta com aromatizantes, corantes, açúcar e outros aditivos

A nutricionista Gabriela ensina um jeito de chegar à bebida de qualidade superior: concentrar-se nas opções com a menor relação de ingredientes possível. “Dê preferência àquela sem açúcar adicionado, conservantes, edulcorantes e aromatizantes artificiais”, aconselha. Em resumo, no mundo perfeito uma bebida de amêndoas deve ter na caixinha somente água e… amêndoas. Segundo Luna, quando surgem muitos nomes na lista de ingredientes, trata-se de um indicativo de que há uma quantidade pequena do vegetal diluída em um monte de água — aí o fabricante inclui várias substâncias químicas para alcançar sabor, aroma e textura parecidos com os do alimento de verdade. “O produto se torna mais barato porque leva água e aditivos”, informa Alessandra.

Outra coisa: se a intenção é realmente dar adeus ao leite de vaca e derivados, a participação de outras fontes de cálcio na rotina merece ser revista, já que o mineral é o grande destaque no produto animal. Nesse cenário, as bebidas vegetais enriquecidas com o nutriente são uma mão na roda. A incorporação de vitaminas D e B12 também é encarada com bons olhos. Claro, se a dieta for rica e variada, dá para intercalar as versões turbinadas com as mais genuínas, sem fortificação.

Para o público infantil, considerando a maior dificuldade de obter cálcio por outras vias, cai bem buscar produtos plant-based que assegurem a adição do mineral. “É preciso contar com os nutrientes adequados ao crescimento e à prevenção de doenças na fase adulta”, sintetiza Elza. Quem não fizer um estoque de massa óssea no início da vida tem risco elevado de encarar a osteoporose lá na frente. Segundo a médica da SBP, além da suplementação na bebida, vale verificar as concentrações de açúcar. Atualmente, a molecada anda exagerando nesse ingrediente — e as repercussões negativas do hábito podem durar a vida toda.

Nunca é demais repetir que qualquer alimento está inserido em um padrão muito mais abrangente, formado por tudo aquilo que a gente come do momento em que acorda até a hora de dormir. Por isso, não dá para esperar que um único item seja o salvador da pátria. “O consumo dessas bebidas deve ser acompanhado por uma alimentação saudável, com participação frequente de frutas, verduras e legumes”, resume Kelly. Isso quer dizer que cabe moderação em carne vermelha, embutidos, itens açucarados e produtos ultraprocessados e cheios de aditivos. Em um contexto equilibrado, dá para provar um pouco de tudo. Ou (por que não?) seguir com seu leitinho.

bebidas de arroz e coco

PERFIS DE ALGUMAS BEBIDAS VEGETAIS

Arroz

Assim como a aveia, esse cereal abriga um montante expressivo de carboidratos e uma ínfima quantidade de gordura. Porém, em termos de vitaminas e minerais, a aveia sai na frente. Pois o líquido à base de arroz segue com essas características. Segundo Gabriela, da NutriOffice, seu sabor vai de neutro a adocicado, dependendo da marca escolhida e se há outra bebida adicionada.

Aliás, se essa é sua versão favorita da categoria, vale buscar produtos que ofereçam a fortificação. Para ter ideia, 200 gramas de arroz concentram apenas 8 mg de cálcio. Enquanto isso, um copo de 240 ml de leite de vaca, como já contamos, reúne 257 mg do mineral. Alessandra comenta que a bebida de arroz é boa pedida para receitas que exigem mais leveza, já que a textura não é tão encorpada.

Dica: Segundo as nutris, a bebida de arroz casa bem com receitas de molhos, cremes e também sobremesas

Coco

O alimento possui uma maior quantidade de gorduras. Mas, ao contrário das oleaginosas, a versão predominante na fruta é a saturada. “O coco está entre suas principais fontes no reino vegetal”, ensina Alessandra. E o exagero é ligado a um maior risco de doenças cardíacas. “Portanto, deve-se ficar atento às quantidades ingeridas”, aconselha Gabriela. “Acho que não vale usar como a bebida de todos os dias”, opina Alessandra.

Outro traço marcante do líquido é o sabor mais pronunciado da fruta. Isso merece ser levado em conta durante a elaboração de receitas. Não dá para se esquecer também de que o líquido tem uma textura mais consistente. No mercado, há itens que misturam a bebida de coco com outros tipos. Aí cai a concentração de gordura saturada e o gosto fica menos intenso.

Dica: Embora remeta ao gosto do coco, a bebida pode ser empregada em receitas doces e salgadas

Como escolher a sua versão vegetal

Pontos que exigem apreciação:

Lista de ingredientes: “Assim como em todos os itens industrializados, ela deve ser a menor possível”, diz Luna. Se houver só água e o alimento, melhor.

Açúcar: A adição do ingrediente deixa o produto gostoso, mas contribui com o exagero na rotina, que está por trás de vários problemas de saúde.

Cálcio: Se a ideia é dispensar o leite de vaca, é interessante que o mineral seja adicionado à bebida — sobretudo para crianças.

Vitamina D: O nutriente também participa da formação óssea, além de garantir outros tantos benefícios ao corpo. A fortificação é desejada.

Preço: Se um produto estiver muito mais barato do que os similares, desconfie. Pode ter mais aditivos do que alimento de verdade.

Tipo de uso: Há bebidas encorpadas, outras mais leves. O sabor pode ser pronunciado ou neutro. Avalie seus objetivos ao escolher.

Na cozinha

Você mesmo pode preparar sua bebida vegetal. Analise os prós e contras dessa versão:

Vantagens
O ponto forte é ter total controle da fórmula, chegando a um produto natural. “Mas é preciso um rígido controle higiênico-sanitário para evitar contaminação”, alerta Gabriela. Outro benefício é ousar nas misturas de ingredientes, algo que nem sempre a indústria oferta. Pode ficar mais barata.

Desvantagens
Não é tão prático. Tem também a questão da homogeneidade: se você prepara a bebida hoje, amanhã verá a parte sólida sedimentada no fundo da garrafa. “Já o processamento industrial faz todas as moléculas se agregarem”, contrapõe Alessandra. Não dá para adicionar nutrientes.

Mergulho no copo

Tire dúvidas mais gerais sobre as bebidas à base de plantas

São pasteurizadas?
Todas são submetidas a altas temperaturas antes do envase. “Isso garante a ausência de micro-organismos”, justifica Alessandra.

Tem a versão fresca?
Fora a bebida UHT, de caixinha, há marcas que ofertam a bebida fresca, sim, caso da Vida Veg. No mercado, elas ficam refrigeradas.

Como é a vida útil?
A validade da caixinha fechada chega a um ano. A bebida fresca dura 90 dias. Após abrir, aí é bom tomar em poucos dias.

Pode ferver?
Não há necessidade, porque a pasteurização garante a segurança do produto. Mas, se quiser esquentar a esse ponto, está liberado.

Substitui o leite?
Em termos culinários, sim. Mas atenção ao critério de uso. Uma bebida adocicada não casa com estrogonofe, por exemplo.

E a versão em pó?
É fácil de transportar e ótima para quem bebe menos. “Depois de abrir, a caixa de 1 litro precisa ser consumida rápido”, reforça Alessandra.

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