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Como a alimentação ajuda a ouvir melhor

O conteúdo do prato também influencia na qualidade da audição. Descubra o porquê e conheça os melhores nutrientes que fazem bem para os ouvidos

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 28 out 2019, 10h31 - Publicado em 7 dez 2018, 10h30
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  • É comum pensar que, com o tempo, todo mundo fica pelo menos um tiquinho surdo – personagens de filmes e programas de televisão ajudaram na construção desse conceito. Mas, segundo a ciência, quem faz boas escolhas na alimentação provavelmente será um bom ouvinte por décadas a fio. “Perder a audição parece algo inevitável, só que nossos achados sugerem fortemente que não é assim”, afirma a médica Sharon Curhan, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

    Ela e seus colegas acompanharam a dieta e a capacidade auditiva de quase 80 mil mulheres durante cerca de duas décadas. Os resultados, publicados no periódico científico Journal of Nutrition, mostram que dietas saudáveis diminuem em até 30% a possibilidade de os ouvidos pifarem com o passar dos anos. “Trata-se de uma redução significativa”, ressalta Sharon.

    Para analisar que tipo de prato teria mais influência na história, os pesquisadores compararam o menu diário das participantes com três estilos famosos de cardápio: a dieta mediterrânea, a Dash (Abordagem Dietética para Frear a Hipertensão, na sigla em inglês) e o Ahei (Índice Alternativo de Alimentação Saudável, também na sigla anglofônica) de 2010. Símbolos de equilíbrio, os três demonstraram potencial para barrar falhas moderadas e severas na capacidade de ouvir.

    Outros estudos já haviam encontrado resultados semelhantes, como um levantamento feito na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Ao avaliar 2 366 pessoas, os cientistas descobriram que a audição de quem ficava exposto a ruídos intensos, mas comia de um jeito bacana, era similar à de pessoas que viviam em ambientes mais silenciosos, porém seguiam uma dieta pobre, com altas doses de gordura, sal e açúcar.

    Para entender esse elo, é preciso saber que escutar é um processo complexo. Ele começa com neurônios modificados chamados de células ciliadas, que “nadam” em um líquido dentro do ouvido interno, pouco distante do buraco da orelha. Essas estruturas, que parecem filamentos, transformam os impulsos mecânicos do som em sinais elétricos, que, por sua vez, viajam pelos nervos ao cérebro. Só lá eles são compreendidos como palavras, músicas, risadas… Ocorre que essa jornada ouvido adentro depende da saúde do organismo como um todo para tocar em sintonia.

    “A perda auditiva adquirida é o resultado do acúmulo de vários fatores, como fluxo de sangue comprometido, falta de oxigenação, danos provocados pelos radicais livres, inflamação e neurodegeneração”, explica Sharon. E uma alimentação balanceada é capaz de atenuar todas essas agressões.

    É o caso da dieta mediterrânea – para ficarmos em um exemplo citado pelo estudo -, que prega o consumo abundante de azeite, hortaliças, peixes e oleaginosas, com pouco espaço para carne vermelha e doces. “Ela já é conhecida por prevenir o encolhimento do cérebro em idosos e reduzir o risco de obesidade e doenças cardiovasculares“, contextualiza Jacqueline Moniz Anversa, nutricionista que atua na capital paulista.

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    Já a Dash prioriza vegetais, gorduras mono e poli-insaturadas, consideradas benéficas, além de orientar a redução no uso de sal e gordura saturada, cujo exagero ameaça o coração. A abordagem é indicada para os hipertensos, mas não só.

    O ouvido, que tem uma circulação consideravelmente mais fina e sensível que a dos órgãos maiores, acaba tirando vantagem do seu poder de reduzir a formação de placas de gordura nas artérias. “Elas dificultam o abastecimento de sangue para a região e a chegada de nutrientes, hormônios e oxigênio necessários ali”, detalha a pesquisadora de Harvard.

    Fora que as doenças que podem ser evitadas com esses cardápios, como diabetes tipo 2 e hipertensão, estão ligadas a quedas no desempenho cerebral. Ou seja, a própria transmissão da mensagem capturada pelas células nervosas do ouvido acaba comprometida depois de anos de esbórnia alimentar.

    Os grupos de alimentos que fazem a diferença para a integridade dos ouvidos

    Frutas: Seus pigmentos, como os carotenoides do mamão e da laranja, são protetores da orelha. Coma duas porções ao dia.

    Peixes: Eles contêm gorduras consideradas benéficas, a exemplo do ômega-3, com reconhecida atividade anti-inflamatória.

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    Oleaginosas: Fora terem gorduras vantajosas, carregam zinco, mineral que é ótimo para o sistema nervoso e, logo, para a audição.

    Folhas verde-escuras: O ácido fólico presente nelas é um dos compostos mais estudados por seus préstimos ao ouvido.

    Água: O sistema que recebe os sons externos é banhado por um líquido que depende de água para se manter atuante.

    Sal e açúcar em excesso são inimigos da audição

    Se uma bela salada soa como música para os ouvidos, dá para dizer que um banquete açucarado é recebido como uma britadeira. “O líquido que envolve as células ciliadas tem uma concentração adequada de sódio e potássio, mas pode se desequilibrar quando os níveis de açúcar disparam”, ensina a otorrinolaringologista Jeanne Oiticica, chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

    Tanto a glicose como a insulina produzida para dar conta dela agem como uma bomba metabólica. “A circulação do líquido sobe e as células ciliadas passam a trabalhar mais rápido, o que pode provocar a quebra dessas estruturas”, detalha Isabela Papera, fonoaudióloga da Telex Soluções Auditivas.

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    O problema é que, uma vez que isso ocorre, o abalo é irreversível. Não por acaso, a perda auditiva é uma das complicações do diabetes tipo 2. “Algumas pesquisas indicam ainda que a surdez súbita, que é mais rara, ocorre com mais frequência nos diabéticos”, complementa Jeanne.

    O excesso de sal à mesa, hábito comum entre os brasileiros, é outro elemento que bagunça a fluidez do sistema. O impacto é progressivo: as células vão deixando de funcionar até que o silêncio se estabelece de vez. Assim, balancear o prato pode frear o processo destrutivo.

    Agora, se os danos já apareceram, nenhum nutriente, remédio ou reza brava são capazes de revertê-los. “Não dá para esperar uma mudança radical. A prevenção segue sendo o mais importante”, frisa a otorrinolaringologista Renata Di Francesco, professora da USP.

    Nutrientes que abalam a audição

    Sal: o sódio, mineral abundante em itens salgados, faz parte do líquido que banha as células sensoriais, mas o nível deve estar equilibrado para tudo funcionar bem.

    Açúcar: quando surge em excesso, o corpo dispara a produção de insulina e acelera o metabolismo, o que também afeta o tal líquido que lubrifica a região dos ouvidos.

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    Gordura: a ação é indireta, porque a gordura pode, aos poucos, obstruir os pequenos e sensíveis vasos sanguíneos que abastecem o aparelho auditivo.

    Álcool: os drinques extras não apenas desidratam o organismo como elevam a pressão interna. Como consequência, nossas células sensoriais sofrem prejuízos.

    Ouvidos blindados desde o berço

    Uma pesquisa assinada pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, revelou que uma alimentação pobre em nutrientes durante a infância está associada a uma probabilidade duas vezes maior de perda auditiva ainda na juventude. “Crianças com déficit nutricional estão mais propensas a apresentar infecções recorrentes no ouvido. E elas são capazes de causar lesões permanentes”, justifica Renata.

    A influência chega a ser até mais profunda. De acordo com a fonoaudióloga Ana Cláudia Vieira Cardoso, da Universidade Estadual Paulista, em Marília, a desnutrição ainda pode afetar o desenvolvimento da porção do sistema nervoso que se ocupa da audição.

    Até o prato da mãe faz diferença para garantir ouvidos aguçados no futuro. “Se ela tiver uma privação na gestação, há mais risco de o bebê nascer prematuro ou abaixo do peso, o que é, por si só, um fator preponderante para a perda da audição”, avisa Ana Cláudia.

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    E nem sempre esse déficit se manifestará logo na infância. “As crianças de hoje viverão por mais tempo e, assim, estarão mais sujeitas às perdas que talvez possam ser prevenidas com a alimentação adequada desde sempre”, ressalta Renata.

    Nessa toada, não custa lembrar que, para não se ver em meio ao silêncio, a boa dieta precisa ser acompanhada de outros hábitos bem-vindos – como evitar escutar música com os fones no talo ou trabalhar em ambientes barulhentos sem proteção.

    Sem falar na relevância dos exercícios físicos. Afinal, suar a camisa não só oxigena a região responsável pela audição como melhora a conexão local com o cérebro, além de atuar em outra função fundamental dos ouvidos: manter o equilíbrio corporal.

    Frente às projeções de uma população cada vez mais longeva, não dá para se fazer de surdo em relação a esses cuidados. Até mesmo porque, se a queda no desempenho cerebral associada às doenças crônicas afeta a audição, o oposto também é verdade. “Pessoas que escutam menos têm maior propensão a se isolar, sofrer de depressão e apresentar déficits cognitivos”, relata Isabela.

    Diante de tantas encrencas, ter mais zelo com o prato, do lanche rápido ao almoço em família, é um pedido simples. Tão simples quanto deveria ser participar de uma conversa à mesa e conseguir ouvir, com clareza, os causos contados de geração em geração.

    Os primeiros sinais de perda de audição

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