A ioga é imbatível contra o estresse relacionado ao trabalho. Essa foi a conclusão de uma meta-análise publicada no Journal of Occupational Health, que reuniu estudos comparando a prática a outras técnicas, como massagem terapêutica, relaxamento muscular progressivo e alongamento.
No estudo, foram avaliados 688 profissionais de saúde, conhecidos por estarem sob constante pressão. A massagem alcançou uma boa pontuação na tarefa de desestressar, mas nada se comparou aos ganhos proporcionados pela ioga.
Aliás, não é a primeira vez que a prática tem seus benefícios exaltados pela ciência.
“O estresse ativa o cortisol e a adrenalina, um hormônio que deixa a gente pronto para atacar ou se defender. Há estudos que apontam a queda dos níveis dessa substância no corpo imediatamente após uma aula”, relata Deni Galdeano, professor e coordenador do curso de anatomia aplicada a ioga na Faculdade da Santa Casa de São Paulo.
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Galdeano inclusive está conduzindo um estudo semelhante com alunos, médicos e funcionários da Santa Casa. “Colhi a saliva dos praticantes para medir o cortisol, e as primeiras análises demonstram os efeitos positivos da ioga em relação às taxas de estresse”, compartilha o professor.
Em experiência com mais de 800 participantes, cientistas europeus já observaram também que quem se dedica à atividade com frequência tem níveis menores do fator nuclear kappa b. Não precisa decorar esse nome estranho: basta saber que ele controla um gene relacionado à produção da citocina, outra substância que aparece no corpo em períodos de alto estresse.
Investigações avaliam ainda a influência da ioga na massa cinzenta. “Ficou comprovado que a prática interfere rapidamente na neuroplasticidade do cérebro, porque estimula o corpo de forma completa. Para ter ideia, estudos apontam que fazer ioga por 12 semanas já provoca uma modificação estrutural do córtex pré-frontal, a parte responsável pelo foco e pela concentração”, explica Carol Rache, professora de ioga e neurocientista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
A respiração, que é ponto central em qualquer modalidade da ioga, está relacionada diretamente ao sistema nervoso – mais um ponto que faz a conexão da prática com o manejamento do nervosismo. “Por meio da respiração, você consegue tranquilizar ou estimular o seu sistema nervoso. Em longo prazo, o corpo ‘aprende’ a voltar à calma se ocorrer uma situação de estresse”, diz a professora.
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O que a ioga tem de especial?
Há diversos tipos de ioga, mas todos eles têm como essência o trabalho da concentração. Está aí uma das explicações para a prática ser tão eficiente no combate ao estresse.
“As aulas vão desde a simples meditação ou entoação de mantras até posturas mais elaboradas. Mas todas as modalidades promovem a concentração de alguma forma, seja dedicando toda a atenção ao corpo, à respiração a um objeto ou à força”, ensina Galdeano.
Outro benefício da ioga é ser democrática. “Há diferentes tipos justamente para que as pessoas casem a sua personalidade com a melhor vertente”, avalia Galdeano.
E ninguém precisa “ser bom” de foco ou alongamento para dar uma chance à atividade. “É como qualquer outro exercício: quanto mais se pratica, mais fácil fica alcançar esses objetivos”, encoraja o professor.
Carol Rache concorda com essa máxima. “Tem muitas diferenças entre as modalidades, mas todas têm o mesmo objetivo: usar o desafio físico para trazer a mente para o momento presente. Cabeças agitadas podem precisar de mais estímulo, enquanto pessoas calmas talvez considerem aulas mais leves como suficientes”, defende a neurocientista.
O tempo dedicado à prática precisa evoluir aos poucos. “Ter apenas um dia por semana de alimentação saudável terá pouco efeito na saúde. É o mesmo para a ioga. Claro que o iniciante pode incluir essa nova rotina devagar, com uma aula, até chegar a três ou quatro vezes por semana”, aconselha Carol.
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Pode ser à distância?
A pandemia disparou a ansiedade em muitas pessoas, que acabaram buscando a ioga e a meditação como formas de aliviar a tensão. Com a possibilidade de fazer aulas à distância, muitos arriscaram suas primeiras posições pela primeira vez na sala de casa.
“A internet aproximou a ioga das pessoas. Não tem o trabalho do deslocamento e basta o professor ser didático o suficiente para direcionar o aluno. Por ser uma prática individual, em que cada um define o seu limite, não é extremamente necessário fazer parte de um grupo”, opina Carol.
Claro que, em casa, também há alguns desafios, como o gato ou cachorro pulando de um lado pro outro e o filho pedindo atenção. No entanto, Galdeano só vê com bons olhos o fato de a internet ter disseminado a cultura da ioga por todo o Brasil. “Tem cidades que não contam com escolas, por exemplo. A internet me possibilitou levar para longe até as minhas aulas de formação de novos professores”, comemora.