“Estamos em uma situação de urgência climática.” É assim que a médica e professora da Universidade de São Paulo (USP) Thais Mauad, em coro com outros tantos cientistas, define a conjuntura atual. Para ela, nenhuma ação visando à preservação do planeta pode ser postergada ou acontecer devagar. “Se não revertermos a elevação da temperatura logo, acabou. A vida na Terra será inviável”, diz. Simples (e grave) assim.
A temperatura global já subiu 1 °C no último século. Se nos próximos anos saltar mais 2 °C, isso ameaçará o cultivo de alimentos, causará desastres naturais, impactará o fornecimento de água e fará cidades costeiras sumirem, entre outras catástrofes.
Além disso, nosso organismo não está preparado para tanta quentura — lembremos que o último verão na França matou mais de 1 500 pessoas. No livro A Terra Inabitável – Uma História do Futuro (clique para comprar), o jornalista David Wallace-Wells prevê que, com esses 2 graus extras, “cidades na faixa equatorial do planeta se tornarão inabitáveis, e mesmo em latitudes mais setentrionais as ondas de calor matarão milhares de pessoas todo verão”.
E esse seria o melhor cenário. Com 4 °C a mais, Wallace-Wells, que se dedica a escrever sobre a mudança climática, afirma que a mortalidade ligada ao calor pode aumentar 9%. Na América Latina, ainda conviveríamos com 8 milhões de novos casos de dengue todo ano.
Uma das medidas para evitar o colapso, acredite, passa por revisar nossos hábitos à mesa — isso impulsionaria uma mudança no sistema de produção alimentar, que tem tudo a ver com a preservação ambiental. E montar um prato mais sustentável ajudaria, por sua vez, na manutenção da saúde individual.
De olho nessas duas frentes, uma comissão formada por 37 pesquisadores de 16 países elaborou um documento no qual apresenta um cardápio ideal. Batizado de The Planetary Healthy Diet, algo como A Dieta Saudável Planetária, ele foi publicado no prestigiado periódico médico The Lancet.
“Nós não podemos ser saudáveis em um planeta doente”, justifica Walter Willett, professor de epidemiologia e nutrição da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e líder do projeto.
Para garantir o bem-estar geral, Willett e seus colegas sugerem uma redução no consumo de alimentos de origem animal, com ênfase na carne vermelha, e um aumento nos de procedência vegetal, a exemplo de frutas, verduras, legumes, leguminosas, grãos integrais e oleaginosas.
Faz todo o sentido pensar no prato e no meio ambiente como duas faces da mesma moeda. Para o engenheiro agrônomo Luis Fernando Guedes Pinto, gerente de políticas públicas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), por muito tempo o sistema agropecuário se preocupou em produzir, sem ter noção da influência dos alimentos na saúde dos indivíduos. A ciência da nutrição, por outro lado, pouco olhava para a forma com que a comida era obtida e os efeitos disso no planeta.
“Mas hoje temos que integrar esses dois universos e pensar em um sistema agroalimentar, ou seja, que vá da lavoura ao prato”, defende.