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Entrevista: veganismo é coisa de rico?

Muita gente pensa que, para ter uma dieta vegana, é preciso esbanjar dinheiro. Mas a criadora do grupo "Veganos Pobres Brasil" no Facebook nega essa ideia

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 18 ago 2020, 10h49 - Publicado em 10 jan 2020, 12h10
comidas veganas
Membros de grupo em rede social compartilham dicas de receitas veganas e baratas. (Foto: Dulla/SAÚDE é Vital)
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Ainda que a premissa do veganismo de proteger a vida dos animais seja admirável, não é todo mundo que adere a esse estilo de vida. As justificativas vão desde “faz mal à saúde” — o que diversos estudos contestam — até “é coisa de rico”. Mas será que abolir os alimentos e produtos de origem animal sai tão caro assim?

De fato, há itens veganos nas prateleiras dos supermercados que pesam no bolso. No entanto, nem só de leite vegetal de caixinha e tofu vive essa turma.

Duvida? Pois inclusive tem gente na internet tentando quebrar essa ideia, como a estudante Carolina Soares, de 29 anos. Cansada de só encontrar receitas à base de ingredientes com preço salgado (e que às vezes nem eram vendidos no nosso país), em 2016 ela criou o grupo “Veganos Pobres Brasil” no Facebook.

Esse espaço virtual pretende mudar a percepção de que o veganismo é um estilo de vida elitizado. A ideia é que os participantes compartilhem receitas saborosas e com ingredientes acessíveis. Hoje, o grupo reúne mais de 90 mil membros.

SAÚDE conversou com Carolina sobre sua iniciativa e o veganismo como um todo. Confira:

SAÚDE: Como você se tornou vegana?

Carolina Soares: Demorei um pouquinho pra chegar ao veganismo em si. Parei de comer carne há dez anos, porque não achava certo consumir animais, pagar para alguém matá-los. Mas como não tinha consciência de que a exploração ia além da carne, fiquei um bom tempo como ovolactovegetariana, só não comendo carne.

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Um belo dia, por volta de quatro ou cinco anos atrás, tive um problema de saúde grave. Tenho asma e sofri uma parada respiratória dentro de casa. Morri e minha mãe me ressuscitou. Quando voltei, percebi que havia coisas na vida que não eram tão importantes. Tive uma epifania, sabe? Aí, fiz a transição para o veganismo.

As duas mudanças foram da noite para o dia. Os produtos de marcas que testam em animais, conforme iam acabando, fui trocando.

De onde veio a ideia de criar o grupo?

Eu sou periférica. Se a gente joga veganismo no YouTube ou no Google, só aparecem coisas de alimentação e dieta caras. Aquilo não me representava. Não me sentia representada pela quantidade e pelo preço.

Por causa disso, passei a publicar receitas no meu perfil do Facebook. Tenho um álbum de fotos com receitas chamado “Vivendo de alface”, no qual posto a imagem e a descrição da receita. Quando ele bateu mais de mil curtidas e comentários, percebi que não era só eu que tinha esse problema.

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Aí, criei o grupo. Pensei em milhares de nomes, mas nenhum parecia certo. Até que cheguei a “Veganos Pobres”. Só acrescentei o “Brasil” no final por causa dos produtos que vêm de fora. Eu mesma sentia uma carência de coisas baratas no nosso país.

O grupo cresceu muito rápido pela falta de representatividade que a galera periférica tem. Quando aparece alguém, eles já se sentem representados.

Produtos veganos normalmente são mais caros mesmo. Como você lida com isso?

Então, é caro, mas também não é. Muitas marcas não são veganas, mas surfam na ideia e querem vender pelo preço de um rim. [risos]

Existem pequenos produtores que fabricam itens de qualidade por serem artesanais. A gente dribla as grandes empresas e foca neles. Aí, sai mais barato.

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Dá para manter uma alimentação bem balanceada baseada em itens mais básicos ou fazer comida em casa com algumas substituições. Eu, particularmente, opto por fazer hambúrguer, coxinha, leite e queijo vegetal porque os industrializados, além de não serem tão saudáveis, muitas vezes a gente não sabe o que tem ali dentro.

Então, dá para ser vegano e gastar pouco, como dá para ser e comer só industrializados. Mas eu optei por consumir apenas aquilo que eu conheço a fabricação ou de pequenos produtores.

Você considera o movimento vegano elitista?

O veganismo não é elitista. Porém, algumas empresas, assim como fazem com os itens para celíacos e intolerantes à lactose, vendem mais caro porque na cabeça deles, se você não comer isso, não come mais nada.

Elas é que tornam os produtos elitizados, mas o veganismo é baseado em uma alimentação simples, como macarrão de sêmola, temperos baratos, legumes de fim de feira, hambúrguer de lentilha ou de grão de bico… A base alimentar do brasileiro é arroz e feijão, por exemplo. O que torna caro são as corporações. Você pode viver só de industrializados ou pode gastar menos com alimentação natural. A gente aprende a economizar comendo tudo do bom e do melhor.

As marcas de outros segmentos que não a alimentação [cosméticos e itens de uso geral do dia a dia] estão se conscientizando também. Há dez anos, não tinha nada barato. Haviam três opções caríssimas, no máximo. Hoje, existem os pequenos produtores e os grandes têm concorrência. Consigo me manter, na questão de cosméticos, gastando pouco.

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