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Dieta para a tireoide: a nova novela

A alimentação ajuda a preservar essa glândula, vital para o funcionamento do organismo. O cardápio pode, sim, prevenir o hiper e o hipotireoidismo

Por André Biernath
Atualizado em 8 abr 2019, 18h03 - Publicado em 2 mar 2018, 09h32

Entra temporada, sai temporada, surgem alimentos “milagrosos” para fazer a glândula que dita o ritmo do corpo funcionar direito. Na maioria das vezes, porém, tais receitas não passam de ficção. Nas próximas linhas, nos debruçamos sobre essa trama para desvendar quais ajustes no cardápio repercutem mesmo na tireoide – uma história que tem reflexos no peso, na disposição, no humor… E que pode até ajudar a afastar o hipotireoidismo e o hipertireoidismo. Acompanhe os capítulos dessa novela cheia de reviravoltas e descobertas científicas. Você não vai desgrudar os olhos da tela.

(Ilustração: Sérgio Bergocce/SAÚDE é Vital)

A tireoide, pobrezinha, foi apontada durante anos como a vilã do excesso de peso. Após declarações de celebridades, todo mundo passou a crer que o hipotireoidismo, marcado pela queda na produção dos hormônios tireoidianos, levava ao ganho de barriga. Mas a ciência vem desmentir a acusação: o distúrbio gera um acréscimo de, no máximo, 5% no valor da balança.

Segundo estudos recentes, o que acontece é exatamente o processo inverso: quem está acima do peso corre maior risco de ver a glândula em encrenca. “O aumento da gordura abdominal eleva a secreção de uma substância, a leptina, e isso prejudica o funcionamento da tireoide”, revela o endocrinologista Joaquim Custódio Junior, da Universidade Federal da Bahia.

“Também se especula uma relação entre a obesidade e a maior incidência de câncer de tireoide”, relata o endocrinologista José Augusto Sgarbi, da Faculdade Estadual de Medicina de Marília (SP). Como diria a personagem Dona Jura, da novela O Clone (2001): “Não é brinquedo, não”. Quer um conselho? Siga um menu balanceado e que não extrapole nas calorias.

(Foto: Artproem/iStock e Ilustração: Sérgio Bergocce/SAÚDE é Vital)

O iodo é o ator principal na fabricação do T3 e do T4, a dupla de hormônios feitos pela tireoide — o numeral que está no nome deles alude à quantidade de moléculas de iodo que cada um carrega. Nossa grande fonte desse composto é o sal de cozinha. Desde 1974, uma lei federal exige que se coloque o mineral nos grãos brancos. A ideia é evitar o bócio, quadro de privação que faz a glândula inchar e pifar. Em 2013, o governo resolveu rebaixar os limites do ingrediente, que caíram de 20 a 60 miligramas do mineral por quilo de sal para 15 a 45.

Como a maioria das pessoas excede no consumo de alimentos salgados, o iodo aos montes atrapalha a glândula por tabela. Mas esse corte drástico levantou uma preocupação com as gestantes, que necessitam de uma carga maior do elemento para garantir o desenvolvimento do seu bebê. “Há grávidas que devem se valer de 200 microgramas (mcg) diários de iodo por meio de suplementos vitamínicos”, informa o endocrinologista Hans Graf, da Universidade Federal do Paraná. Essa prescrição, claro, precisa vir do médico.

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As principais fontes

Além do sal, é possível encontrar o iodo em frutos do mar, algas, peixes e alguns vegetais

Quanto você deve comer por dia

De 0 a 7 anos: 90 mcg

De 7 a 12 anos: 120 mcg

Mais de 12 anos: 150 mcg

Grávidas ou lactantes: de 200 a 250 mcg

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(Foto: Alex Silva e Ilustração: Sérgio Bergocce/SAÚDE é Vital)

Sabe aquela personagem coadjuvante que, no auge da narrativa, ganha importância até que vira uma das queridinhas do público? Pois essa tem tudo para ser a história do zinco. Algumas pesquisas detectaram baixas porções desse mineral em indivíduos com hipotireoidismo subclínico — o termo “subclínico” faz referência a um desbalanço nos níveis hormonais que ainda não traz sintomas.

Os cientistas começaram a se perguntar qual seria a função desse nutriente no trabalho da tireoide. “Acredita-se que ela faça a conversão do T4 em T3, que é o hormônio ativo no sistema nervoso e nos músculos“, conta a nutricionista Thais Mezzomo, da Universidade Positivo, em Curitiba.

Apesar de interessantes, esses achados são iniciais e aguardam comprovação. Portanto, nada de sair tomando uma montanha de cápsulas por aí, ok? Melhor esperar as cenas dos próximos capítulos. Enquanto isso, o que vale é investir numa dieta variada e rica em peixes, nozes e castanhas para assegurar o aporte de zinco. Até porque seu papel na imunidade, na cicatrização da pele e na prevenção de doenças do coração está mais do que consagrado.

As principais fontes

Carnes e pescados: de 4 a 7,7 miligramas

Castanhas e nozes: de 2,1 a 4,7 miligramas

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Quanto você deve comer por dia

15 miligramas

(Foto: Dercílio e Ilustração: Sérgio Bergocce/SAÚDE é Vital)

Se indagassem ao empresário Giovanni Improtta, interpretado por José Wilker (1944-2014) em Senhora do Destino (2004) qual o poder do selênio na saúde, ele responderia sem pestanejar: “É felomenal!”. E estaria certíssimo, apesar do erro no português. A tireoide é a área do corpo que mais concentra esse mineral. Ali ele exerce uma dupla ação. Primeiro, funciona como um escudo e protege as células desse tecido da inflamação e dos ataques de agentes externos. Em segundo lugar, é peça-chave na conversão de T4 em T3 (o hormônio ativo) em todos os órgãos e estruturas.

“Para suprir a indicação diária, basta comer duas castanhas-do-pará, um alimento riquíssimo nesse nutriente”, aconselha o endocrinologista Cley Rocha de Farias, do Hospital das Clínicas de São Paulo. De acordo com os levantamentos feitos no país, não há carência na população brasileira — o consumo de selênio flutua entre 18,5 e 114,5 microgramas por dia, dependendo do estado analisado.

Só é preciso cautela com os exageros. Alguns experimentos demonstraram um elo entre o excesso desse mineral e maior risco de diabetes tipo 2. Além disso, quem exagera na dose por meio de suplementos pode enfrentar diarreia, prostração e até hemorragias, numa intoxicação conhecida por selenose. Moderação é a palavra de ordem, caro leitor-espectador.

As principais fontes

(Em 100 gramas do alimento)

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Castanha-do-pará: 27,4 microgramas por unidade

Carnes e pescados: De 2,8 a 80,9 microgramas

Feijão-preto: 11,9 microgramas

Quanto você deve comer por dia

Adultos: 55 mcg

Gestantes: 60 mcg

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Mulheres que estão amamentando: 70 mcg

(Foto: Budgaugh/iStock e Ilustração: Sérgio Bergocce/SAÚDE é Vital)

Eles têm até nome de gangue de personagens maus: radicais livres. Quando fogem do controle do organismo, estão relacionados a males da pesada, como câncer e Alzheimer. E nem a tireoide escapa de suas garras. Essas moléculas, a bem da verdade, se originam a partir de atividades comuns, como respirar e fazer exercício, ou da exposição à poluição e à radiação solar, por exemplo. Se o corpo não consegue neutralizá-los, entra em cena o estresse oxidativo, que danifica as células.

Para salvar a pátria, precisamos dos prestigiados antioxidantes, presentes na vitamina C das frutas cítricas, no selênio da castanha, nos flavonoides do morango e dos frutinhos roxos e vermelhos. “Eles ajudam a regular a quantidade dos tais radicais livres”, conclui a nutricionista Adriana Ávila, do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região (SP/MS).

Uma investigação do Hospital Governamental de Tunceli, na Turquia, descobriu que pessoas recém-diagnosticadas com hipotireoidismo ou hipertireoidismo apresentavam níveis de antioxidantes abaixo do recomendado. Por mais que ainda não dê para estabelecer uma ligação direta entre a falta desses ingredientes e tumultos na tireoide, não custa ficar de olho — e caprichar, se for o caso – na inclusão de frutas, verduras e legumes no seu prato.

Quanto você deve comer

Não existe uma recomendação fixa de ingestão de antioxidantes. De maneira geral, a sugestão é comer cinco porções de vegetais por dia

(Foto: Deborah Maxx e Ilustração: Sérgio Bergocce/SAÚDE é Vital)

Ela preenche todos os requisitos de um anti-herói, o personagem que amamos odiar ou odiamos amar, como você preferir. Além das diversas aplicações na culinária e dos atributos nutricionais, o grão é aproveitado nos fitoterápicos: a isoflavona, uma de suas substâncias, alivia as queixas da menopausa.

Porém, existe um temor sobre as repercussões de seu uso, alimentício ou farmacêutico, na tireoide. “Sabemos que ela interfere na síntese dos hormônios ali por afetar a ação de algumas enzimas”, diz a endocrinologista Marisa Dreyer, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Num estudo inglês que envolveu voluntários com hipotireoidismo em estágio subclínico, aqueles que ingeriam 30 gramas de proteína de soja e 16 miligramas de isoflavona por dia — algo facilmente alcançável em uma dieta vegetariana — tinham uma probabilidade triplicada de experimentar posteriormente sinais típicos do distúrbio, como cansaço e apatia.

Comer vez ou outra esse vegetal não traria problemas: o risco está associado à ingestão regular e em grandes quantidades. Indivíduos que têm algum pepino na tireoide devem ficar atentos e avisar o médico se perceberem qualquer piora nos sintomas.

(Foto: Dercílio e Ilustração: Sérgio Bergocce/SAÚDE é Vital)

Brócolis, couve-flor, couve-manteiga, repolho… Quem diria, esses alimentos não são exatamente os melhores amigos da tireoide. “Eles têm algumas moléculas que competem com a captação de iodo na glândula”, avisa a médica Laura Ward, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo. Mas, calma lá, esses itens listados não são símbolos de uma dieta saudável e vivem aparecendo nesta revista?

Isso mesmo: eles seguem com a reputação intacta e só acarretariam chateações se vão para o prato crus, sem nenhum cozimento. Ou se são protagonistas de tudo que é refeição — caso dos sujeitos que costumam engolir aqueles copos enormes de suco de couve em todos os cafés da manhã, por exemplo.

“O consumo adequado deles, como parte de uma alimentação equilibrada, não está associado a riscos para a função da tireoide”, diz a endocrinologista Gláucia Mazeto, da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu. Estamos combinados: sem vilanizar essas comidas ou ignorá-las na feira e no restaurante. Até três vezes na semana, elas só vão fazer bem. Após tantas descobertas e surpresas que vêm à baila com a ciência, Sinhozinho Malta (Lima Duarte), de Roque Santeiro (1985), poderia questionar: “Tô certo ou tô errado?”. Tá certo! É com informação e equilíbrio nas escolhas que você garante um roteiro feliz para a sua tireoide.

Cálcio: tem que esperar

Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, mostrou que leites e derivados atrapalham a absorção da levoritoxina, remédio clássico para o hipotireoidismo. É por isso que os especialistas pedem para aguardar 30 minutos pela manhã entre a ingestão do comprimido e o desjejum — o fármaco precisa do estômago vazio e com pH mais ácido para surtir efeito. Além do cálcio, ingredientes ricos em ferro, fibras e o café também devem ser evitados nesses primeiros minutos do dia de quem precisa tratar a condição.

Outros elementos que mexem com a tireoide

Bisfenol A

Utilizado na fabricação de plásticos e latas, possui uma estrutura química similar à de determinados hormônios, o que confundiria nosso organismo. Evite comprar produtos com esse composto. Geralmente essa informação está escrita na embalagem com a sigla BPA.

Radiação

Acidentes nucleares que ocorreram em Chernobyl, na Ucrânia (1986), e em Fukushima, no Japão (2011), foram seguidos de um aumento nos casos de câncer de tireoide. Agentes radioativos deixam a glândula em parafuso.

E o glúten?

Outra teoria da conspiração diz que essa proteína do trigo, do centeio e da cevada é nociva à tireoide. Nada a ver, rebatem os experts. “A dieta isenta de glúten só deve ser prescrita a quem tem doença celíaca”, afirma a médica Gisah Amaral. Gente com hipo ou hipertireoidismo não teria ganhos específicos ao cortar pães e massas.

Mau negócio

Surgiu na internet uma moda de usar a levotiroxina, remédio empregado contra o hipotireoidismo, para emagrecer. Cuidado! “Essa prática pode levar a sérias consequências nos ossos e no coração”, alerta o cirurgião de cabeça e pescoço Erivelto Volpi, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP). A perda de peso até ocorre, mas se dá pela redução de massa magra, não de gordura.

Garganta em perigo

O medicamento lugol, que traz uma bomba de iodo, caiu nas graças da internet com um suposto efeito de prevenção do câncer. Só que não há evidência científica alguma a favor da propaganda. Pior: esse líquido pode perturbar a tireoide. “Uma gota de lugol 5% contém cerca de 6 mil microgramas de iodo, 40 vezes mais do que a necessidade diária de um adulto”, calcula a endocrinologista Patrícia de Fátima dos Santos, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro. E olha que tem quem beba de quatro a seis gotas de uma só vez. Uma cilada!

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