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Hipotireoidismo: por que há tanta tireoide lenta por aí

Excesso de sal, uso de remédios, estresse... Investigamos o que faz a glândula entrar em parafuso, situação cada vez mais comum hoje

Por André Biernath
Atualizado em 23 jun 2022, 19h02 - Publicado em 25 Maio 2016, 08h00

É na região da garganta que fica a tireoide, glândula com o formato de borboleta que orquestra o funcionamento do organismo — e influencia, inclusive, nossas emoções. Foi pensando em resguardá-la que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, mandou reduzir o teor de iodo do sal de cozinha. As taxas, que antes ficavam entre 20 e 60 miligramas por quilo, precisaram se adaptar à faixa, de 15 a 45 miligramas.

O corte, segundo a entidade, teve a ver com o aumento de casos de hipotireoidismo, distúrbio que prejudica a produção dos hormônios pela glândula. “A doença desacelera o metabolismo, gerando fadiga, sonolência, depressão e raciocínio vagaroso. E o iodo em excesso é um gatilho para o seu surgimento”, diz a endocrinologista Roberta Frota, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

A Anvisa resolveu agir com base em estatísticas preocupantes: o brasileiro consome, em média, 12 gramas de sal todos os dias. “É um exagero se considerarmos a recomendação da Organização Mundial da Saúde, de apenas 5 gramas”, contextualiza Paula Bernadete Ferreira, especialista em regulação e vigilância sanitária da agência.

O abuso do condimento nas refeições elevou, por sua vez, a porção de iodo no prato dos cidadãos. “A iodação do sal foi calculada pensando em uma dieta de 9 gramas diárias de sal e está, portanto, defasada. Essa resolução da Anvisa não poderia ter sido mais adequada”, elogia o endocrinologista Geraldo Medeiros, professor sênior da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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Na época de sua aprovação, a medida, porém, dividiu opiniões. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia criticou a regra. “O foco deveria estar na quantidade de sal que o brasileiro ingere”, analisa a endocrinologista Gisah Amaral, vice-presidente do Departamento de Tireoide da sociedade. “Ainda nos causa mais preocupação a falta de iodo, que pode trazer complicações, principalmente na gestação e nos primeiros anos de vida”, justifica.

Nem só o iodo deixa a tireoide lenta. Os cientistas possuem uma lista de suspeitos envolvidos nessa história. “Ainda não está totalmente demonstrada a relação entre hábitos e componentes químicos com o hipotireoidismo”, ressalva Medeiros. Mas não faltam estudos procurando evidências sobre seu papel no colapso da glândula.

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Uma investigação, por exemplo, procurou estabelecer o impacto da poluição na tireoide. A pesquisa, da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo, acompanhou mais de 6 mil pessoas durante 15 anos. Elas foram divididas em dois grupos. O primeiro morava perto de um parque industrial petroquímico, enquanto o segundo habitava uma área residencial menos poluída.

Em 1992, cerca de 2% dos indivíduos que viviam nas cercanias das fábricas — e travavam contato com poluentes — tinham hipotireoidismo. Em 2001, a quantidade de pessoas com a mesma doença nessa região subiu para 57%. Já na área com menos sujeira no ar, as taxas não tiveram modificações tão gritantes. “É como se a tireoide não soubesse se proteger dos agentes químicos e, ao tentar reagir, prejudicasse a si mesma”, ensina a neuroendocrinologista Maria Angela Zaccarelli, autora do trabalho.

Se poluentes disparariam distúrbios na glândula em pessoas predispostas, o que dizer de remédios e produtos de limpeza? “Alguns medicamentos, como xaropes expectorantes, contêm iodo. E o mesmo vale para certos desinfetantes que, em contato com a pele, podem passar o mineral para o organismo”, alerta a endocrinologista Tania Furlanetto, da Universidade Federal do Rio Grande o Sul. Nesses casos, a saída é consultar o médico e, na hora de limpar a casa, investir em luvas.

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Potes plásticos e panelas antiaderentes também geram polêmica. “Existe uma suspeita de que esses utensílios soltariam compostos tóxicos que atingem a tireoide”, desconfia o endocrinologista Luciano Giacaglia, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. Outro inimigo em potencial se esconde sob a vida conturbada das grandes cidades. “Toda vez que o corpo passa por um estresse, há uma resposta do sistema imune, que pode afetar a glândula”, especula Giacaglia. Enquanto a ciência levanta dados para bater o martelo, convém relaxar e, como sugerem pesquisas recentes, tentar escapar da poluição e maneirar no sal. Tudo para a borboleta continuar na ativa, isto é, fabricando seus hormônios.

Se hoje é farto, ontem faltava

A deficiência de iodo foi um grave problema de saúde pública no século 20. A carência do mineral estava por trás do bócio, um inchaço na região da garganta, e até retardo mental em bebês. Embora a iodação do sal no Brasil para mudar esse panorama tenha começado nos anos 1950, a primeira lei nacional sobre o assunto é de 1995. E os resultados são incontestes: os casos de bócio em crianças caíram de 20,7% em 1955 para 1,4% em 2000.

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Nas asas do equilíbrio

A dosagem correta de iodo é um dos fatores mais importantes para manter uma tireoide saudável

Nem demais…

A tireoide usa o iodo para produzir os hormônios T3 e T4. Se a substância está em excesso, o órgão sofre um processo de inflamação. O sistema imunológico manda anticorpos para a região, que acabam atacando a própria glândula.

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…Nem de menos

Se o iodo escasseia, a tireoide não tem matéria-prima para fabricar a dupla hormonal. Na tentativa de compensar a baixa produção, ela cresce de tamanho. A deficiência está relacionada a casos de bócio e problemas de desenvolvimento na infância.

Nódulo de tireoide na ponta da agulha

Novo método, ainda em fase de testes, elimina essas formações sem deixar cicatriz no pescoço

O surgimento de massas tumorais na glândula costuma incomodar, seja por questões estéticas, seja por problemas funcionais. Para retirar esses nódulos hoje, é preciso passar por uma cirurgia que deixa uma cicatriz na garganta. Mas um equipamento ainda sob estudos no Brasil promete resolver o problema com mais comodidade.

“Introduzimos uma agulha bem fina na região do pescoço. Ela é guiada por ultrassom e emite um raio laser sobre os nódulos”, explica o radiologista intervencionista Rodrigo Gobbo, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, pioneiro no uso da técnica. Esse laser queima a formação defeituosa, que então diminui e é eliminada pelo organismo.

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