Um bife com ovo, uma moqueca com azeite de dendê. Uma tábua de queijos ou um simples pãozinho com manteiga. Refeições com gorduras saturadas, encontradas em grande parte das mesas brasileiras, podem contribuir para o aparecimento de uma das doenças mais perigosas para a saúde: o diabetes tipo 2 (ou DM2).
O diabetes é uma incapacidade metabólica que faz com que o hormônio insulina, produzido no pâncreas, não cumpra seu papel de processar a glicose consumida, deixando o açúcar acumulado no sangue.
Isso promove, em médio e longo prazos, problemas circulatórios: um portal para riscos cardiovasculares, como o infarto ou o AVC, popularmente conhecido como derrame.
São dois tipos de diabetes: o tipo 1 é uma doença autoimune, ou seja, o sistema imunológico não reconhece as células-beta, que ajudam a produção de insulina no pâncreas, e as destrói. Esta modalidade costuma aparecer na infância ou adolescência.
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Já o tipo 2, responsável por 90% dos casos, tem mais probabilidade de surgir na fase adulta e, assim como a maioria das cardiopatias, tende a derivar de uma alimentação desregrada, obesidade e sedentarismo.
O Brasil é o sexto país em incidência de diabetes no mundo, com 15,7 milhões de pessoas convivendo com a doença.
Hoje, 14 de novembro é o Dia Mundial do Diabetes e a Socesp promove uma campanha de prevenção durante todo o mês, com a publicação de um e-book gratuito da série Diálogos com a Nutrição, com base no Posicionamento sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular.
Diabetes à la carte
Temos, no cenário das pesquisas científicas na área, um grande número de trabalhos sobre alimentos vilões no desenvolvimento do diabetes tipo 2 e, apesar de os resultados não serem conclusivos, existe uma indicação clara sobre as gorduras saturadas serem corresponsáveis pelo problema.
A explicação tem a ver com o fato de que esse tipo de gordura provoca uma reação inflamatória no organismo que, no fim das contas, leva à maior resistência à insulina. Com isso, reduz-se sua capacidade de fazer a lição de casa e atuar sobre o açúcar no organismo.
Esses estudos comprovaram que a ingestão de gorduras saturadas se associou à tendência de ter diabetes, tanto em pré-diabéticos como em não diabéticos.
Entre os alimentos ricos em gordura saturada, e que devem ser restritos para evitar diabetes e outras doenças como AVC, aterosclerose e pressão alta, estão: banha de porco, bacon, sobrecoxa e coxa de frango com pele, leite integral e queijos amarelos, pizzas, além dos industrializados, como biscoitos recheados, bolos, salgadinhos e sorvetes.
Porém, afirmar que nenhum desses alimentos pode participar de nossas refeições é uma condição difícil de cumprir. Mas devemos ter em mente que seu consumo deve ser a exceção, e não a regra.
Já os vegetais e peixes frescos estão convidados para a nossa mesa diariamente. E aqui também há respaldo científico: muitos trabalhos mostram relação direta entre a substituição de parte da gordura saturada por poli-insaturados – como é o caso dos ácidos graxos e ômega-6 e ômega-3.
O principal representante das fontes de ômega-6 é o ácido linoleico, que está em itens como óleos de girassol, milho e soja, além de nozes e castanha-do-Pará.
Já os ácidos graxos da série ômega-3 são o ácido alfalinolênico de origem vegetal, encontrado na soja, na canola, na linhaça e na chia; e os ácidos eicosapentaenoicos (EPA) e docosaexaenoico (DHA), provenientes de peixes e crustáceos de águas muito frias dos oceanos Pacífico e Ártico.
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Mas a sardinha, a cavala e o atum também são bons redutos desses ácidos graxos.
Os ácidos graxos linoleico e alfalinolênico são considerados essenciais aos seres humanos, uma vez que não são produzidos pelo corpo, mas necessários por vários motivos – incluindo a saúde cardiovascular, prevenção do câncer, função cognitiva, entre outros. Sua ingestão por meio da alimentação é vital.
Os estudos, por vezes controversos, sobre qual a pior ou melhor dieta quando a ideia é deixar o diabetes a uma distância segura nos apontam apenas um caminho: o do equilíbrio.
É preciso evitar o que sabidamente faz mal ao corpo, como as gorduras e industrializados, e criar rotinas alimentares que incluam frutas, legumes e verduras. Assim, é possível fechar essa conta sempre com saldo positivo para uma vida doce – mas nunca por causa do excesso de açúcar no sangue.
*Maria Cristina Izar é diretora da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) e professora livre-docente de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).