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TDAH: o que é, como diagnosticar e tratamentos

O transtorno é definido por sintomas que envolvem desatenção, hiperatividade e impulsividade em nível elevado, trazendo prejuízos em vários âmbitos da vida

Por Lucas Rocha
Atualizado em 30 ago 2024, 11h47 - Publicado em 1 dez 2023, 14h03
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Tratamento do TDAH envolve medicamentos, atividade física regular e psicoterapia cognitivo-comportamental (Ilustração: Augusto Zambonato/Veja Saúde)
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O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, também conhecido pela sigla TDAH, é uma condição do neurodesenvolvimento, ou seja, que afeta a formação do cérebro e do sistema nervoso central.

O quadro é caracterizado por sintomas que envolvem desatenção, hiperatividade e impulsividade em nível elevado, com prejuízos em diferentes âmbitos da vida, como as relações sociais e os desempenhos cognitivo, escolar e profissional.

Estima-se que 5% a 8% da população global conviva com o transtorno.

+ Leia também: TDAH decodificado: por dentro do déficit de atenção

O que é TDAH?

A condição acomete o indivíduo desde o nascimento, embora possa demorar anos para ser diagnosticada.

“O que caracteriza o TDAH é a dificuldade para se concentrar. A pessoa não consegue focar em uma única tarefa ou ficar parada por longos períodos, por exemplo”, afirma o médico psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “E esses sintomas atrapalham a rotina”, acrescenta.

O que pode causar TDAH?

As causas e os fatores de risco não são amplamente conhecidos, mas a ciência aponta algumas pistas. Estudos recentes, por exemplo, sugerem que a genética pode ter um papel relevante nesse contexto.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, lista outros aspectos que podem estar envolvidos no surgimento do transtorno, como lesões cerebrais, exposição a contaminantes como o chumbo, uso de álcool e tabaco na gravidez, parto prematuro e baixo peso ao nascer.

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Do ponto de vista neurológico, o TDAH é caracterizado por alterações na estrutura e na função cerebral, como explica a neuropsicóloga Tammy Marchiori, membro da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp) e da American Psychological Association (APA).

“Isso inclui atrasos na maturação do córtex, mudanças na matéria branca e cinzenta do cérebro, e disfunções nos circuitos neurotransmissores. Estas mudanças estão ligadas aos sintomas cognitivos e comportamentais do TDAH”, destaca a especialista.

+ Leia também: Por que precisamos falar de TDAH na vida adulta?

Quais são os sintomas do TDAH?

O transtorno se manifesta de maneiras diferentes entre uma pessoa e outra. Os sintomas que definem o TDAH dividem-se em dois grupos principais: desatenção e hiperatividade-impulsividade.

“A desatenção inclui dificuldades em manter a concentração, distração fácil e esquecimentos no dia a dia. Já a hiperatividade-impulsividade envolve inquietação, falar excessivamente e agir de modo impulsivo”, afirma Tammy.

O psiquiatra da UFRJ destaca ainda que o quadro varia de acordo com a idade.

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“Crianças com o transtorno geralmente são agitadas, apresentam dificuldade de linguagem e na interação social. Adolescentes em geral não conseguem prestar atenção e manejar o tempo para terminar as tarefas, ficam inquietos e podem ter impulsividades”, detalha Nardi.

Em resumo, os sintomas do TDAH são:

  • dificuldade de concentração
  • distração
  • esquecimento
  • inquietação
  • fala excessiva
  • impulsividade
  • baixo desempenho escolar
  • perda de objetos
  • dificuldade em seguir instruções
  • interrupção de outras pessoas

Além desses sinais, também podem estar presentes outros tipos de comportamento.

“Há sintomas menos divulgados, como desregulação emocional, déficits da memória de trabalho, hiperfoco, sensibilidade sensorial, baixa autoestima e procrastinação”, afirma Tammy.

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TDAH acomete o indivíduo desde o nascimento, embora possa demorar anos para ser diagnosticado (Foto: jcomp/Freepik/Divulgação)

Desafios no diagnóstico

O avanço no conhecimento nos últimos anos melhorou o entendimento do TDAH.

Contudo, o diagnóstico ainda é um desafio especialmente pela semelhança da sua forma de apresentação com outras condições clínicas e com características comuns ao desenvolvimento humano.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5, em inglês) categoriza os sintomas do TDAH em dois domínios principais: desatenção e hiperatividade-impulsividade, como mencionamos anteriormente.

Para fechar o diagnóstico, é necessário que o indivíduo apresente os seguintes critérios:

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• Sintomas de Desatenção: Pelo menos seis sintomas, como dificuldade em manter a atenção, cometer erros por descuido, ser facilmente distraído e esquecimento em atividades diárias.

• Sintomas de Hiperatividade-Impulsividade: Pelo menos seis sintomas, incluindo inquietação, falar excessivamente, dificuldade em realizar atividades tranquilas e agir sem pensar.

• Idade de início: Os sinais devem estar presentes antes dos 12 anos, com evidência de prejuízo em múltiplos contextos, como casa, escola ou trabalho.

• Prejuízo: Os impactos devem comprometer significativamente o funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.

• Critérios de exclusão: Condições psiquiátricas ou médicas que também possam justificar as manifestações, como ansiedade ou depressão, devem ser descartadas.

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“Os critérios do DSM-5 para o TDAH foram refinados para incluir o diagnóstico em adultos, com modificações na idade de início e no limiar de sintomas. O documento enfatiza ainda a importância de avaliar as queixas em diferentes ambientes e o impacto delas na vida do indivíduo”, pontua Tammy.

Diante de uma suspeita, deve ser feita uma avaliação clínica e psicossocial por profissionais capacitados.

Um protocolo aprovado pelo Ministério da Saúde orienta que o diagnóstico deve ser realizado por um médico psiquiatra, pediatra ou outro profissional de saúde (como neurologista ou neuropediatra).

“O médico deve avaliar os sintomas apresentados pelo menos nos últimos seis meses. É importante que haja um padrão persistente”, diz Nardi.

A confirmação do diagnóstico é clínica, a partir da avaliação médica. Embora não existam exames físicos ou laboratoriais para determinar que um indivíduo tenha TDAH, eles podem ser utilizados para eliminar a suspeita de outras doenças.

O perigo do autodiagnóstico

Circulam em redes sociais relatos de pessoas que se autodiagnosticam com o problema. Além de um equívoco, a prática é perigosa, alertam especialistas.

“Autodiagnóstico não existe, é um erro grave. Quem sofre de sintomas semelhantes deve procurar um médico. Na maioria das vezes, o diagnóstico é de um transtorno de ansiedade ou outro transtorno do desenvolvimento”, frisa Nardi.

“Existem diagnósticos diferenciais que apenas um profissional pode fazer. Além disso, transtornos associados podem estar presentes, como estresse crônico e depressão. E o tratamento adequado só pode ser estabelecido quando o quadro é compreendido”, complementa o médico neurocirurgião Fernando Gomes, professor livre-docente do Hospital das Clínicas de São Paulo.

+ Leia também: Em busca do foco perdido: o que fazer para recuperar a concentração?

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As causas e os fatores de risco do TDAH não são amplamente conhecidos (Foto: vecstock/Freepik/Divulgação)

Tratamento do TDAH é multidisciplinar

Na maioria dos casos, a abordagem mais adequada é multidisciplinar, envolvendo psiquiatra, psicólogo e neuropsicólogo, entre outras especialidades.

“O tratamento pode ser realizado por meio de terapia comportamental especializada, reabilitação neuropsicológica, utilização de fármacos e neuromodulação cerebral. Além disso, é importante a reorganização consciente do estilo de vida”, afirma Gomes.

Os medicamentos são empregados para melhorar a atenção e reduzir a impulsividade, enquanto as terapias comportamentais dão ferramentas para enfrentar desafios específicos e oferecem estratégias de manejo.

Os remédios mais utilizados no controle do TDAH são o metilfenidato e a anfetamina, mais conhecidos pelos nomes comerciais de Ritalina e Venvase, respectivamente, que atuam no aumento da ação de alguns neurotransmissores.

Recentemente, entrou nesse cenário a atomoxetina, primeira medicação não estimulante para o transtorno. Ela age no aumento da disponibilidade do neurotransmissor noradrenalina, de maneira mais específica que os demais compostos.

O tratamento também inclui monitoramento contínuo para avaliar a eficácia e ajustar as estratégias conforme necessário, considerando a importância da coordenação entre profissionais de saúde, educadores e cuidadores.

“Além disso, é importante tratar também as condições que frequentemente acompanham o TDAH, como transtornos de ansiedade, dificuldades de aprendizagem e outros, garantindo assim um cuidado completo e efetivo”, diz Tammy.

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