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É verdade ou fake news?

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Notícia falsa faz mal à saúde. Com o apoio de especialistas e da ciência, desconstruímos os mitos que estão sendo curtidos e compartilhados.
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Faz sentido adotar um treino ou dieta para ter mais mitocôndrias?

Periodicamente esse mito volta a circular pela internet. Conversamos com um especialista que explica por que esses métodos não funcionam

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 26 abr 2022, 15h13 - Publicado em 25 abr 2022, 15h03
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  • Circulam por aí dietas e exercícios físicos com o objetivo de acelerar a produção e a função das mitocôndrias. O objetivo vai de emagrecimento à cura de doenças ou mais energia para o corpo. No entanto, não há estudos científicos que comprovem essa relação. Além de não ter resultado, tal esforço pode fazer mal.

    É o que explica Luiz Gustavo de Almeida, doutor em microbiologia e pesquisador do Laboratório de Genética Bacteriana do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

    Para começar, ele esclarece o papel das mitocôndrias. São estruturas que estão dentro das nossas células e servem como fonte de energia para elas.

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    “Elas funcionam como uma bateria que transforma energia química em energia elétrica no nosso organismo”, explica Almeida. Mais especificamente, o papel delas é produzir uma molécula chamada trifosfato de adenosina (ATP).

    “A mitocôndria é semelhante a uma bactéria, então algumas pessoas pensaram: vamos alimentar esse ‘micro-organismo’ para ele possa fabricar ainda mais energia”, relata Almeida.

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    Os efeitos colaterais da tática

    Alguns experimentos foram feitos, porque essa lógica até faz sentido na teoria, mas não se mostraram frutíferos. Além disso, deve-se considerar os efeitos colaterais da receita.

    “O raciocínio é: ‘vou me alimentar de mais glicose, açúcar ou de gorduras para que as mitocôndrias funcionem melhor’. Mas essa carga faz aumentar também a produção de radicais livres”, conta o microbiólogo.

    Os radicais livres têm sua função no corpo, mas em excesso podem acelerar o envelhecimento e de provocar doenças.

    Não à toa, a máxima da vida saudável e prevenção de doenças é ter uma dieta equilibrada. Sempre que exageramos no consumo de algum tipo de nutriente, o corpo sofre.

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    Essa tentativa de forçar dietas ou treinos específicos ainda mexe com algo feito para funcionar bem. “A produção natural de mitocôndrias ocorre dentro do necessário para a boa regulagem do organismo. Tanto que elas são criadas e mortas o tempo todo justamente para manter o equilíbrio, é uma coisa bem estruturada”, afirma o cientista.

    Existem doenças mitocondriais que afetam a função dessas estruturas, mas elas têm sintomas pronunciados e são consideradas muito raras.

    Treino para as mitocôndrias

    As pesquisas que relacionam exercícios físicos a essas organelas têm como intenção usar os treinos de resistência para aumentar seus níveis. “Fizeram estudos bem pequenos, apenas em homens, sem considerar as diferenças de gênero, e mesmo assim foi constatado que não houve uma produção elevada de ATP”, relata Almeida.

    + LEIA TAMBÉM: 10 amarras para o emagrecimento

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    Artigos que circulam por aí sobre essas práticas não estão levando em conta os resultados negativos ou o fato de que as pesquisas são pequenas ou feitas em roedores, dentro do laboratório — e nossos genomas são diferentes ao dos animais.

    “Esses estudos costumam ter um viés controverso (tendencioso) e não contam que já houve mortes relacionadas a isso. Quando se produz energia demais, o corpo esquenta além do necessário e sai do controle”, explica Almeida.

    É o mesmo princípio dos produtos termogênicos, que prometem emagrecimento, mas, por outro lado, provocam taquicardia, irritabilidade, distúrbios do sono e até casos mais graves, como infarto e AVC.

    Tratamento de doenças neurodegenerativas

    Ao pesquisar sobre a moda das dietas à base de gordura que prometiam turbinar as mitocôndrias, Almeida e chegou no nome da médica americana Terry Wahls, que desenvolveu o Protocolo Wahls.

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    Ela fez uma conferência sobre tema, e sua teoria se espalhou pela internet, até culminar na publicação de um livro em 2017.

    Terry passou a estudar as mitocôndrias após ser diagnosticada com esclerose múltipla. Debruçada em todos os males da mesma família, como Parkinson e Alzheimer, ela concluiu que essas doenças tinham em comum a baixa produção das mitocôndrias — mas essa relação nunca foi comprovada por estudos.

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    A partir disso, a médica criou uma dieta que indicava o consumo de grandes porções de frutas, legumes, verduras e proteína animal. “É a dieta que nossos ancestrais caçadores-coletores supostamente comiam há mais de 40 mil anos, conhecida hoje como dieta paleolítica”, explicou Almeida na revista do Instituto Questão de Ciência.

    Terry afirma que melhorou com a dieta, mas só tem a si mesma como prova, e em redes sociais ainda aparece batalhando contra o avanço da doença, que não tem cura. Não há outros estudos que atestem a teoria da médica americana, e a disseminação dessa desinformação pode levar pessoas a restringirem sua dieta de forma perigosa.

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    + Leia também: Tratamentos alternativos: fique atento aos riscos

    Além disso, há muitos “especialistas” na internet vendendo pacotes de treino, dietas e suplementos para aumentar as tais mitocôndrias. Nesse caso, além do prejuízo à saúde, o bolso pode sair prejudicado.

    Resumindo, a recomendação de Almeida é deixar que as mitocôndrias trabalhem bem sozinhas, mantendo uma dieta equilibrada, com variedade de nutrientes e a prática regular de exercícios físicos.

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