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Melatonina: tudo sobre o hormônio do sono

A começar pela melhora das noites dormidas, saiba para que serve essa substância cada vez mais estudada e quais suas indicações

Por Jeanne Callegari
Atualizado em 27 Maio 2020, 18h17 - Publicado em 16 jan 2018, 10h05
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  • No centro da nossa cabeça, bem no meio do cérebro, existe uma estrutura do tamanho de uma semente de laranja. É a glândula pineal, que o filósofo francês René Descartes (1596-1650) considerava a morada da alma, e os hindus, a sede de um dos chacras mais importantes do corpo. É ali, conforme a ciência desvendou depois, que se produz o hormônio da noite, a melatonina.

    Uma substância que já foi copiada e sintetizada pelo homem e está cada vez mais em evidência nas pesquisas e no mercado. Enquanto no Brasil ela começa a dar as caras, nos Estados Unidos é largamente encontrada. E vendida sobretudo com a promessa de um sono melhor.

    Fabricada pelo corpo, a melatonina não só regula o momento de dormir como participa da reparação das nossas células, expostas a estresse, poluição e outros elementos nocivos. “Ela é um antioxidante poderoso e combate os radicais livres que agridem o organismo”, conta José Cipolla Neto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

    Na realidade, a substância está entre as mais primitivas de que se tem notícia e aparece em todos os seres vivos, incluindo as plantas. “A melatonina é o hormônio da noite”, crava o endocrinologista Bruno Halpern, diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.

    Em sincronia com o fim do dia e da luminosidade, ela passa a ser liberada a fim de preparar o organismo para o período noturno. A resposta a esse fenômeno varia de acordo com a espécie: ratos ficam espertos e ativos para procurar comida, a gente quer ir para a cama.

    A melatonina sintética é uma molécula igualzinha à versão natural. Em terra americana, é vendida como suplemento alimentar – daí a alta disponibilidade. Na Europa e em outros países, porém, o controle é mais rigoroso.

    É o caso do Brasil. No momento, nenhuma farmacêutica tem licença para produzir e comercializar a substância por aqui. O laboratório Aché está no meio do processo para conseguir esse aval, o que deve demorar entre um e dois anos. Até lá, só há dois meios de ter acesso à melatonina: via farmácias de manipulação, que obtiveram o direito de formulá-la em 2017, ou trazendo de fora.

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    Segundo os estudos, o composto sintético mostra eficácia para corrigir algumas irregularidades do sono, como quando a pessoa demora muito a adormecer, ou se o indivíduo com tendência a dormir e acordar tarde precisa se reajustar à rotina. Outra indicação é amenizar o jet lag, aquela confusão com o fuso horário causada por longas viagens

    Idosos com problemas de sono também tirariam vantagem porque, com a idade, cai a produção natural. E a melatonina ainda pode ser receitada a deficientes visuais com o objetivo de organizar seu relógio biológico.

    Mas o hormônio sozinho não é indicado para resolver qualquer desarranjo de sono. Quem tem insônia terminal, aquela em que se acorda no meio da noite e não se dorme mais, nem sempre se beneficia. Trabalhadores noturnos também só devem usar com alguns cuidados – como não tomar a melatonina de dia, sob o risco de dessincronizar ainda mais o organismo. “Nesses casos, o ideal seria tomá-la só nos dias de descanso”, diz Cipolla.

    A melatonina também já é usada em outras frentes, como coadjuvante no controle de desordens neurológicas e psiquiátricas. Um exemplo são crianças autistas. “Com a substância, há melhoras na ansiedade e no comportamento”, nota a neuropediatra Eliete Chiconelli, da Universidade Federal de São Paulo.

    Também está cada vez mais documentada a participação da melatonina no sistema imunológico. Ela não só ajuda a prevenir o aparecimento do câncer como há experiências com o uso dentro do próprio tratamento.

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    A lista de outros males que podem ganhar o reforço do composto não é pequena: vai de enxaqueca a Parkinson. Até a obesidade e suas consequências metabólicas estão na mira.

    “Muitas pessoas acima do peso têm distúrbios do sono e alteração do ritmo circadiano, com um potencial prejuízo na liberação da melatonina”, justifica o cardiologista Luciano Drager, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, que prepara um promissor estudo a respeito. “Nossa intenção é avaliar se, além de regular o ritmo do corpo, a melatonina traria benefícios como redução do peso e da pressão arterial”, adianta.

    O hormônio é encontrado em comprimidos, cápsulas, gotas ou spray nasal… e a forma de administração e o horário de uso dependem da indicação médica. Aliás, por se tratar de uma substância com inúmeras repercussões no organismo, é primordial consultar um profissional para saber se há realmente necessidade dela. Até porque, se não existir irregularidade em jogo, o melhor jeito de assegurar a ação da melatonina é cuidar bem da nossa própria fabriquinha natural.

    Nesse sentido, um dos principais conselhos é evitar muita luz à noite, especialmente a azul, emitida pela tela de qualquer equipamento eletrônico. Hoje já existem inclusive programas que filtram essa luz em celulares, tablets e computadores.

    Algumas horas antes de dormir, nada de fazer refeições pesadas ou cheias de carboidrato simples, capazes de atrapalhar a produção interna. Vale, isso sim, investir em fontes do aminoácido triptofano, como banana e leite, porque o hormônio é sintetizado a partir dele. São cuidados para garantir que a melatonina continue trabalhando, enquanto a gente repousa e se recupera para o dia seguinte.

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    (Ilustrações: Helena Duppre/SAÚDE é Vital)

    Como funcionam a produção e a atuação da melatonina

    A fábrica

    À medida que escurece, os olhos e o cérebro avisam a glândula pineal, também na cabeça, que é hora de liberar a melatonina. Ela vai para a corrente sanguínea e viaja pelo corpo.

    O trabalho

    Em contato com as células, o hormônio induz o corpo ao sono e ao jejum. Cerca de 90% da melatonina circulante vai parar no fígado, onde é destruída para ser eliminada pela urina depois.

    Outras praças

    Segundo Cipolla Neto, algumas áreas do corpo produzem melatonina para uso próprio – nesse caso, ela age na defesa local e não como hormônio. Isso ocorre na pele, na retina, no intestino…

    Indicações do hormônio do sono

    Enxaqueca

    Em alguns tipos, ligados ao sono ou a distúrbios no ritmo biológico, a substância é suficiente para resolver o problema.

    Câncer

    Por reforçar a imunidade, ela ajuda a destruir células tumorais, virando coadjuvante no tratamento de alguns quadros da doença.

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    Autismo

    A maioria das crianças com a condição produz pouca melatonina, tendo um sono inadequado, o que impacta no comportamento.

    Atraso do sono

    Para quem tem dificuldade de adormecer, ou vai para a cama muito tarde, dá pra antecipar o sono com o hormônio.

    Envelhecimento

    A síntese de melatonina cai com a idade. Então idosos podem se beneficiar (inclusive para o sono) com a reposição.

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