Tirosina: o que é, para que serve e quando suplementar
Suplemento é estudado como forma de melhorar o desempenho do cérebro em situações de estresse, mas não cumpre promessas milagrosas
Dos mais comuns aos menos conhecidos, os suplementos são um tema que sempre chama atenção. A tirosina é um aminoácido não essencial – ou seja, que é produzido naturalmente pelo corpo.
Ela também está presente em alguns alimentos, mas agora aparece nas prateleiras de farmácias isolada ou como ingrediente de suplementos. A tirosina é vendida sob o pretexto de reduzir gordura corporal, ajudar com problemas de saúde mental, diminuir o apetite e melhorar o humor.
Só que apenas uma parte (muito) pequena desses benefícios foi comprovada pela ciência. A tirosina entra na lista dos suplementos protagonistas de propagandas milagrosas que não se confirmam na realidade.
Qual é a função da tirosina?
No organismo, a tirosina é um aminoácido precursor da síntese da dopamina, da noradrenalina e da adrenalina.
Esse trio de neurotransmissores atua em situações de estresse, regula a sensação de prazer e age sobre a memória, dentre outras funções.
A substância também está envolvida na produção de hormônios da tireoide e de melanina, a substância que dá cor à pele.
+Leia também: Suplementos para melhorar memória e concentração funcionam?
Quais alimentos têm tirosina?
A tirosina é naturalmente formada pelo organismo, ou seja, não precisa ser ingerida por meio da alimentação.
O corpo utiliza outro aminoácido para construir a tirosina: a fenilalanina. Esse, sim, precisa fazer parte de uma dieta equilibrada – dá para encontrar fenilalanina em carnes, grãos, leite e derivados.
É raro ter deficiência de tirosina, mesmo assim, alguns alimentos contém o aminoácido, especialmente aqueles ricos em proteínas.
A tirosina está presente em:
- Laticínios;
- Carnes;
- Ovos;
- Nozes e aveia;
- Feijão;
- Trigo.
Quando usar tirosina como suplemento?
A tirosina é um ingrediente comum em bebidas energéticas. Alguns estudos mostram que, junto da cafeína, da teanina, da taurina e de outros ingredientes, o aminoácido pode gerar efeitos sobre a performance atlética. No entanto, a diferença percebida é muito sutil.
Além disso, a tirosina isolada não demonstra vantagens para a prática de exercícios físicos. A promessa de redução de gordura corporal e diminuição de apetite a partir do uso do suplemento é totalmente falaciosa: não há qualquer comprovação de que a tirosina atue nesse sentido.
A tirosina apresenta um potencial bem maior em outra frente: a cognitiva. Embora os resultados relacionados à saúde mental propagandeados não se apoiem em evidências científicas, estudos associam a tirosina a benefícios no funcionamento da memória e das funções executivas.
Ou seja, por enquanto, as pesquisas não validaram o uso da tirosina para depressão, ansiedade e outros transtornos psíquicos. Vale dizer também que os estudos que avaliam os efeitos da tirosina na cognição humana incluíram grupos muito pequenos de pessoas. Ainda há um longo caminho científico a ser trilhado para que as vantagens da suplementação do aminoácido sejam plenamente ratificadas.
O que já se sabe é que a tirosina está envolvida na síntese de neurotransmissores importantes para o acionamento do estado de alerta, para a atenção e para a tomada de decisões, dentre outras funções do córtex pré-frontal.
A hipótese científica diz que, em situações de estresse, o corpo não consiga transformar a fenilalanina em tirosina – daí a ideia de que o suplemento de tirosina possa melhorar a performance cognitiva em contextos que exijam um esforço cerebral maior. Mas isso é apenas uma teoria.
Uma única pesquisa em humanos sugeriu que a tirosina também ajuda a ficar mais alerta após uma noite mal dormida: quem recebeu a tirosina teve uma performance psicomotora melhor do que quem recebeu o placebo. Esses benefícios duraram três horas. De modo geral, são necessárias mais pesquisas para avaliar os efeitos do suplemento a longo prazo.
Ainda não é possível recomendar a tirosina como suplemento para quem deseja melhorar a performance cognitiva. Os resultados, por enquanto, são em sua maioria decorrentes de laboratório. Antes de inserir um suplemento na rotina em busca de uma melhoria milagrosa, busque um médico para investigar suas queixas.
Futuro: usos potenciais da tirosina
A tirosina é estudada como possível tratamento complementar para a fenilcetonúria: uma doença hereditária que gera acúmulo de fenilalanina no corpo. O excesso ocorre porque o corpo não produz corretamente a enzima que quebra a fenilalanina. Como a fenilalanina é precursora da tirosina, a pessoa que sofre de fenilcetonúria pode ter baixos níveis de tirosina.
Por ora, não há evidências suficientes para recomendar a tirosina como tratamento amplo, mas a eficácia da suplementação segue sendo estudada.
Cuidados com a tirosina
Alguns efeitos colaterais do uso da tirosina como suplemento são náusea, dor de cabeça, fadiga e azia. Outro risco é a interação medicamentosa.
Remédios para tireoide podem interagir com a tirosina – e o suplemento pode, inclusive, interferir nos níveis de hormônios produzidos pela tireoide. Por isso, pessoas com qualquer transtorno da tireoide devem evitar o uso da tirosina.
Drogas utilizadas para tratamento da doença de Parkinson também interagem com a tirosina.
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