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Suplementos para melhorar memória e concentração funcionam?

Saiba como atuam cafeína, coenzima Q10, colina e outras substâncias comercializadas nesses produtos... E entenda por que elas não fazem milagre

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 13 nov 2023, 17h41 - Publicado em 13 nov 2023, 17h28

Na era dos ladrões de atenção e do cansaço mental, muitos suplementos garantem que a solução para o cérebro funcionar melhor está a uma cápsula de distância.

À venda nas farmácias, os produtos fazem menção a um “booster” para a cabeça, super foco, raciocínio mais ágil, aumento de memória e concentração e outras benesses.

Para isso, basta ingerir componentes como cafeína, coenzima Q10, colina e até mesmo vitaminas do complexo B e alguns aminoácidos facilmente obtidos pela alimentação.

Mas será que é mesmo simples assim?

Não existe nada que isoladamente melhore a performance cognitiva”, esclarece o nutricionista Thiago Barros, mestre pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Além disso, o consumo de vitaminas e micronutrientes isolados têm indicações específicas, não sendo benéfico para todas as pessoas. E não substitui o básico para manter a saúde em dia.

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“Para uma pessoa sem nenhuma condição crônica, um bom estilo de vida e uma alimentação balanceada valem muito mais do que qualquer suplemento” complementa a nutricionista Daniela Seixas, doutora em bioquímica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em suplementação de micronutrientes.

+Leia Também: No labirinto da nutrição: as maiores tendências para você seguir (ou não)

Barros completa: “Existem 4 pilares para um bom desenvolvimento cognitivo: sono, hidratação, exercício físico e consumo correto de carboidratos, que fornecem a energia favorita do cérebro. O efeito de qualquer suplemento se a pessoa não segue esses pilares é irrisório”.

Ou seja, não adianta tomar 10 cápsulas por dia e dormir mal, ser sedentário ou ter uma alimentação muito restritiva.

Mas e os compostos encontrados nesses produtos? Não servem para nada?

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“Muitos são essenciais para o corpo, por isso existe plausibilidade teórica. Mas isso é completamente diferente de desfecho clínico”, aponta Barros. Em suma, faltam estudos mostrando quais são os efeitos práticos de turbinar a ingesta deles por meio de cápsulas, sachês e bebidas.

A seguir, conheça um pouco mais sobre essas substâncias.

+Leia Também: Suplementos vitamínicos: uso deve ser baseado em evidências científicas

Cafeína

O único com comprovação científica de que, sim, pode melhorar a cognição. Mas só temporariamente.

As moléculas de cafeína são quimicamente parecidas com as de adenosina, substância essencial para que o sono se instale no cérebro.

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A caféina “desperta” porque ocupa o lugar da adenosina e impede que ela a se ligue aos seus receptores cerebrais, o que suprime temporariamente o sono, prolonga o tempo de vigília, combate a fadiga e até eleva o foco nas atividades.

Só que não é assim para todo mundo. Os chamados metabolizadores lentos, que não conseguem digerir corretamente a substância, podem ter vários problemas com a sua ingestão.

“Eles não têm nenhum efeito benéfico, pelo contrário, podem ficar mais ansiosos e agitados, o que prejudica a concentração. Alguns têm sudorese e até mesmo taquicardia. Nesses casos, ela é contraindicada”, afirma Daniela.

E, em exagero, a  cafeína é prejudicial para todos por atrapalhar a qualidade do sono.

“É ruim até mesmo para aquelas pessoas que tomam café antes de deitar e não veem problema, porque elas adormecem, mas não atingem o sono REM, considerado o estágio reparador. Isso é prejudicial para o organismo e para a cognição”, explica.

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O descanso, vale lembrar, é insubstituível para o bom desempenho do cérebro. Ou seja, tudo bem apelar para a cafeína um dia ou outro, mas tornar isso um hábito pode ter efeito contrário ao desejado.

+Leia Também: Os supercafés e a nova onda das bebidas energéticas

Coenzima Q10

Também conhecida como ubiquinona, ela é uma molécula lipídica produzida naturalmente pelo nosso corpo que participa da produção de energia nas mitocôndrias, organelas responsáveis pela respiração das células.

Para o nosso cérebro, ter bons níveis de Q10 é importante, já que ele é o órgão que mais consome energia de todo o corpo.

Então parece lógico: se faz bem para o cérebro, a suplementação faria ele funcionar ainda melhor, certo?

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Errado. Não há comprovação de benefício em pessoas que naturalmente produzem a coenzima Q10.

Segundo os estudos, só há benefício cognitivo em pessoas com deficiência comprovada.

Alguns idosos, por exemplo, poderiam se dar bem com a suplementação, pois a síntese de Q10 costuma reduzir com a idade. Mas isso é bem individual, e deve ser acompanhado por um especialista.

“A recomendação desse suplemento é comum para pessoas com doenças genéticas que alteram o metabolismo mitocondrial, assim como para aquelas que tomam estatina, medicamento para baixar o colesterol, porque ele também interfere na síntese da coenzima Q10”, complementa Daniela.

+Leia Também: Em busca do foco perdido: o que fazer para recuperar a concentração?

Colina

Componente essencial para a produção de acetilcolina, um importante neurotransmissor relacionado a memória e ao aprendizado.

A partir dela também é produzida citicolina, substância necessária à mielinização dos neurônios, crucial para uma boa transmissão do impulso nervoso e correto funcionamento do organismo.

Alguns alimentos são ricos em colina, como gema de ovo, carne vermelha, cebola e leveduras.

Mas, é preciso ter muito cuidado com o excesso e com a forma química da colina, principalmente pela suplementação.

A maioria dos suplementos vêm na forma química de bitartarato. A partir desse composto, nossa microbiota bacteriana pode produzir trimetilamina, que no fígado vira óxido de trimetilamina.

Esse óxido comprovadamente inflama os vasos sanguíneos e aumenta o risco cardiovascular, deixando o organismo mais propício a sofrer um derrame, por exemplo. Além disso, ele também inflama o cérebro.

“O ideal é que o nutricionista ou médico, ao prescrever um suplemento, indique marcas que possuam a forma química adequada do composto, para que não haja um efeito adverso”, pondera Daniela.

E esse, aliás, é um exemplo de como a auto suplementação pode ser perigosa. “A maioria dos produtos não é isenta de riscos, a pessoa acha que é algo inócuo, mas não é, pode levar a desfechos graves de saúde”, completa a especialista.

+Leia Também: Como manter a saúde mental e cognitiva com o envelhecimento

TCM (triglicerídeos de cadeia média)

São lipídeos mais facilmente absorvidos pelo organismo, presente em alimentos como óleo de coco e de palma. Ficaram conhecidos por estarem amplamente presentes nos chamados “supercafés”.

Segundo as fabricantes destes produtos, os TCM contribuem para uma melhor performance esportiva e cognição. Mas não há comprovação científica para nenhuma das duas alegações.

“A suplementação de TCM não é levada a sério pela comunidade científica porque os estudos mostram que eles não estão ligados a esses efeitos’’, informa o educador físico Guilherme Artioli, professor de fisiologia da Universidade Metropolitana de Manchester, na Inglaterra.

E Daniela ainda chama atenção para outra problemática relacionada a suplementos: a extrapolação do resultado das pesquisas a favor de marketing.

“Até existem trabalhos com TCM que demonstram melhora cerebral, mas são feito com populações idosas com déficit cognitivo, ou mesmo Alzheimer. Achados nessa condição não podem ser extrapolados para nenhuma outra faixa etária, muito menos para jovens sem nenhum problema’’, revela.

Dietas restritivas

Os especialistas ouvidos pela reportagem destacam ainda que dietas restritivas, como as que reduzem os carboidratos, são um dos maiores problemas para quem quer melhorar a cognição.

“Existem pessoas que não comem frutas e vegetais porque têm carboidratos, sendo que eles são ricos em fitoquímicos antioxidantes muito importantes para a cognição. E não adianta tomar vitamina C isolada porque não vai adiantar. Alimentação variada e saudável é a chave”, conclui Daniela.

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