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A próstata que se cuide: novidades sobre as doenças que afetam a glândula

Com o avançar da idade, doenças na glândula se tornam praticamente inevitáveis, mas a medicina está cada vez mais apta para cercá-las

Por Larissa Beani (reportagem e texto) | Laura Luduvig (design e ilustração)
25 nov 2024, 09h19
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A partir dos 50 anos, homens precisam ficar atentos à saúde da próstata (PIXOLOGICSTUDIO/Getty Images / Ilustração: Laura Luduvig/Veja Saúde)
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Aos 54 anos, Seu Jorge considera que está vivendo uma segunda juventude. Dono de um timbre grave que levou a música popular brasileira a todos os continentes, o cantor se desdobra em uma agenda de shows, gravações e atuações no Brasil e no exterior.

A vida pessoal também anda agitada desde o nascimento de Samba, o quarto filho do artista, fruto do relacionamento com a terapeuta Karina Barbieri. Para dar conta de qualquer recado, o artista nunca priorizou tanto sua saúde.

“Eu entendo que é um dever me cuidar para viver com plenitude essa paternidade atemporal”, disse a VEJA SAÚDE. Nem todo mundo, porém, tem a consciência de que a vida, aos 50, pode estar apenas (re)começando, ainda que apareçam alguns percalços no corpo pelo caminho.

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Exames de rotina

Para manter a vitalidade nessa fase, o autocuidado não pode se esquecer de um pedacinho do organismo em especial, a próstata. Com a idade, digamos que ela fica bastante vulnerável a problemas.

Por isso, os médicos recomendam, entre os exames periódicos, a realização anual do teste que mensura no sangue o antígeno prostático específico (PSA) e do toque retal — ainda um tabu para muitos nessa faixa etária.

“Eu tenho uma banda de músicos que está comigo há 20 e tantos anos. Somos da mesma geração, tenho intimidade com eles e os conheço profundamente, mas muitos ficam com a guarda levantada”, contou Seu Jorge durante o lançamento da campanha FelizIdade, da qual é porta-voz.

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Promovida pela farmacêutica Apsen, em parceria com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a iniciativa busca facilitar o acesso ao diagnóstico da hiperplasia benigna da próstata (HBP), quando a glândula começa a inchar e, por vezes, a atormentar seu dono.

Com a campanha, homens de todo o país são convidados a responder a um questionário online para identificar se têm sintomas típicos do quadro, sendo orientados, em caso positivo, a buscar ajuda médica e a ir a uma das 3 mil farmácias cadastradas, onde poderão fazer um exame de PSA gratuito.

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Dados sobre a saúde prostática dos brasileiros (Design e ilustração: Laura Luduvig/Veja Saúde)

Hiperplasia prostática benigna

Apesar do nome complicado, a hiperplasia até que é simples de entender: trata-se do aumento da próstata, o tecido localizado abaixo da bexiga e próximo da uretra responsável por produzir o sêmen e nutrir os espermatozoides. Mas esse crescimento é benigno — diferente, portanto, de um câncer.

Na juventude, a glândula tem o tamanho de uma noz, mas, conforme o homem envelhece, ela tende a se avolumar e pode chegar a triplicar ou quadruplicar de peso.

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“Aí esse aumento estreita a uretra e causa incômodos na hora de urinar”, explica o urologista Wagner Matheus, presidente da SBU de São Paulo. “Os homens passam a sentir dificuldade para esvaziar a bexiga, acordam várias vezes à noite para fazer xixi, sentem dor, têm jatos fracos e, em casos mais graves, chegam à incontinência urinária ou precisam usar sonda”, detalha.

A condição atinge metade dos homens a partir dos 50 anos e é facilmente diagnosticada por meio do toque retal — exame ainda escanteado por muito macho!

+ Leia também: O toque retal ainda é necessário para o rastreio do câncer de próstata?

Medo do diagnóstico

Segundo levantamento realizado pelos organizadores da campanha, apenas 39% dos brasileiros a partir dos 50 anos realizaram exames para checar o aumento da próstata no último ano e 36% nunca fizeram toque retal, PSA ou ultrassom.

Ainda assim, 80% dizem saber da importância do toque para o diagnóstico do quadro. O tabu pode explicar parte da falta de iniciativa para fazer o check-up, mas a desinformação e o medo de receber um diagnóstico grave são o que mais afasta os homens dos consultórios.

“Fizemos uma pesquisa para desvendar por que os homens vão sete vezes menos ao médico do que as mulheres e o que pudemos concluir é que eles têm receio não do exame em si, mas do resultado que ele pode acusar”, afirma Matheus, que é professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Ainda há aquela visão machista de que o homem deve ser forte, que não pode ficar vulnerável ou doente.”

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O desconhecimento também está disseminado. No estudo da Apsen, da Abrafarma e da SBU, 60% dos respondentes disseram acreditar que a hiperplasia pode evoluir para um câncer, o que não é verdade.

Mesmo assim, o autocuidado e as consultas médicas não devem deixar essa outra doença fora do radar. Isso porque o câncer de próstata é o segundo mais comum na população masculina, atrás apenas do tumor de pele não melanoma — estima-se que 72 mil brasileiros recebam o diagnóstico por ano.

Então agora você já sabe quem são os grandes inimigos da próstata — e do homem — ao envelhecer. Resta se antecipar a eles.

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Câncer de próstata e desinformação

Uma pesquisa realizada pelo A.C.Camargo Cancer Center, referência no tratamento oncológico em São Paulo, mostra que ainda há muitos mitos circulando sobre o tumor de próstata. Realizado em parceria com a consultoria Nexus, o levantamento ouviu quase mil homens acima dos 16 anos e revelou que 35% deles acreditam que o exame de toque retal só é necessário caso o paciente apresente sintomas — uma mentira!

O fato é que o exame pode detectar enfermidades antes mesmo que essas condições manifestem sinais. Até porque, em geral, os pacientes só sentem algo estranho quando os problemas estão em fase avançada — e, assim, os tratamentos se tornam mais complexos e, no caso do câncer, as chances de cura diminuem.

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Considerando que não há formas de prevenir diretamente os tumores, os homens devem investir na adoção de hábitos saudáveis e manter os exames em dia para flagrar quaisquer alterações silenciosas na glândula.

“O diagnóstico precoce de qualquer doença é essencial para um melhor prognóstico. E, quando falamos de câncer, precisamos entender as particularidades do tumor de cada paciente, já que há aqueles com perfil menos agressivo, que podem ser acompanhados por um tempo antes do início do tratamento, e outros com maior potencial de se disseminar pelo corpo e de resistir a terapias”, contextualiza o urologista Stênio Zequi, líder do centro de referência em tumores urológicos do A.C.Camargo Cancer Center.

+ Leia também: Um retrato inédito do câncer de próstata no Brasil

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Entenda as principais características da hiperplasia prostática benigna e no câncer de próstata (PIXOLOGICSTUDIO/Getty Images | Design e ilustração: Laura Luduvig/Veja Saúde)

Rastreamento do câncer de próstata

No Brasil, não há uma política oficial de rastreamento para o câncer de próstata. Em 2023, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) publicaram uma nota técnica desaconselhando o rastreio populacional, sob o argumento de que a realização dos exames de toque e PSA aumenta o número de diagnósticos, mas não reduz de maneira significativa a taxa de mortalidade pela doença.

O documento espelha uma diretriz americana publicada há mais de uma década e que já foi atualizada após a divulgação de novos estudos apontando que a conduta ajudaria a salvar vidas, promovendo uma redução de até 8% no número de vítimas da malignidade.

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“A posição brasileira está defasada. O ideal é que a população masculina faça os exames de toque retal e PSA anualmente a partir dos 50 anos e que aqueles que possuem histórico familiar e outros fatores de riscos comecem essa rotina aos 45”, afirma o urologista João Brunhara, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e colunista de VEJA SAÚDE.

O rastreamento é uma bandeira levantada por médicos, pacientes e familiares que clamam por maior atenção à doença. O Instituto Lado a Lado pela Vida, fundado em homenagem ao urologista Eric Roger Wroclawski, criou, há 13 anos, a campanha Novembro Azul no país para difundir informações e apoiar quem convive com o câncer.

“Os desafios são muitos: quase 70% dos homens recebem o diagnóstico quando o tumor está localmente avançado ou já se disseminou para outras partes do corpo, o que reduz muito as chances de cura”, elucida Marlene Oliveira, presidente e fundadora da entidade.

Além disso, na hora do tratamento, existem diferenças na incorporação das novas tecnologias pelos sistemas público e privado. “Pacientes que não vivem próximos a centros oncológicos de referência acabam tendo menos acesso aos melhores recursos”, argumenta Marlene.

+ Leia também: Por que os exames de rastreamento são importantes no combate ao câncer

Tratamentos inovadores

Ainda que os desafios sejam grandes, o Brasil tem colaborado para o desenvolvimento de novas terapias para as principais doenças que atingem a glândula.

Um exemplo é o estabelecimento da embolização da próstata como mais uma opção no arsenal contra a hiperplasia benigna. O método foi consolidado no país no final dos anos 2000 pelo médico paulistano Francisco Carnevale, do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

“É um procedimento minimamente invasivo, seguro e de rápida recuperação, que consiste em bloquear a passagem de sangue em uma região da próstata para que ela diminua de tamanho e libere a passagem da urina”, descreve.

Em setembro, o médico se tornou o primeiro latino-americano a receber uma medalha de ouro em reconhecimento à sua trajetória profissional durante o congresso da Sociedade de Radiologia Cardiovascular e Intervencionista da Europa.

Ao longo de sua carreira, Carnevale destaca que teve a oportunidade de sanar as dores do próprio pai com a solução que ajudou a trazer para o Brasil para tratar o inchaço da próstata. “Foi muito gratificante”, recorda.

Mais recentemente, novas abordagens têm sido introduzidas no país com a mesma finalidade. É o caso de um equipamento, conhecido como Rezum, que utiliza jatos de vapor de água para encolher a glândula, além de terapias a laser.

Na sala de cirurgia, robôs entram em cena para auxiliar os médicos a alcançar maior precisão e a preservação das funções miccionais e sexuais dos pacientes com aumento benigno ou câncer.

+ Leia também: Câncer de próstata: as vantagens da cirurgia robótica

“O sucesso das cirurgias robóticas está atrelado a uma combinação de imagem em alta qualidade, movimentação adequada de instrumentos e experiência da equipe”, expõe André Berger, coordenador nacional de uro-oncologia da Oncoclínicas&Co.

Por falar em câncer, novos medicamentos também despontam para ampliar o arsenal contra a doença. E o Brasil faz parte dessa história de desenvolvimento.

O país foi o maior recrutador de voluntários para a última fase de estudos montada para atestar a segurança e a eficácia do uso da darolutamida, um fármaco criado pela Bayer que bloqueia receptores hormonais masculinos, associada à terapia hormonal para tratar casos avançados.

A combinação reduziu em 46% a progressão da doença e a mortalidade entre pacientes com tumores disseminados, segundo trabalho apresentado no último congresso europeu de oncologia. Ao todo, 148 brasileiros participaram dos testes entre os 669 voluntários espalhados por 15 países.

“Metade deles foi recrutada por centros de pesquisa no Nordeste, o que mostra que há demanda e capacidade para a criação de novos polos de pesquisa e tratamento no Brasil, além do Sudeste”, celebra o oncologista Augusto Mota, coordenador do experimento no Brasil.

Os cientistas estão fazendo a parte deles nessa história. Agora é com o leitor.

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Tire dúvidas sobre como cuidar da saúde prostática (Design e ilustração: Laura Luduvig / Foto: PIXOLOGICSTUDIO/Getty Images)
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