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Novos tratamentos trazem esperança contra o câncer de próstata

Estudos divulgados em congresso europeu apresentam resultados positivos para pacientes com tumores em fase avançada

Por Larissa Beani
16 set 2024, 09h17
foto de homem com ilustração da próstata
Tratamento do câncer de próstata e suas repercussões depende de diálogo aberto entre médico e paciente (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Um novo progresso no tratamento de pacientes com câncer de próstata em estágio avançado foi divulgado nesta segunda-feira (16), durante o Esmo 2024, congresso organizado pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica, realizado em Barcelona, na Espanha.

O uso de darolutamida, uma droga que inibe o crescimento tumoral ao bloquear receptores hormonais masculinos, combinado a uma terapia hormonal (a terapia de privação androgênica, mais conhecida como ADT) reduziu em 46% a progressão da doença e morte entre pacientes com câncer de próstata metastático sensível a hormônios — comparado ao uso de placebo e terapia hormonal.

O resultado é fruto da terceira fase do estudo Aranote, que contou com a colaboração de centros de pesquisa de 15 países. O Brasil não só figura na lista de nações participantes como lidera o número de voluntários recrutados para a análise — foram 148 brasileiros entre os 669 pacientes submetidos ao experimento.

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Durante a pesquisa, os voluntários foram aleatoriamente divididos em dois grupos: dois terços deles receberam 600 mg do fármaco duas vezes ao dia e o restante tomou o placebo. Todos, independentemente do grupo, fizeram terapia hormonal concomitantemente.

O principal objetivo do estudo era saber se a combinação de darolutamida e ADT aumentaria o tempo de sobrevida de pacientes que já não têm mais perspectiva de cura – ou seja, que ficassem o maior tempo possível sem apresentar piora do quadro ou que morressem por ele.

A conclusão foi a de que o risco de progressão da doença e morte foi reduzido significativamente pelo medicamento em pacientes com diferentes perfis de câncer de próstata metastático e que ainda respondem à terapia hormonal. O tempo de sobrevida foi 46% maior no grupo da darolutamida.

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Além desse ganho, o combo também demonstrou tornar indetectável o antígeno prostático específico (mais conhecido como PSA, uma enzima associada à presença de tumores na próstata) em 62,6% dos pacientes. No grupo placebo, que estava recebendo apenas ADT, a redução foi vista em 18,5%.

“A darolutamida mostrou benefícios em todos os objetivos secundários do estudo, aumentando a sobrevida global, o tempo até a doença se tornar resistente à terapia hormonal, o tempo sem progressão do PSA e de dor, além de adiar a necessidade de terapias sistêmicas”, listou Fred Saad, coordenador do estudo e professor de urologia da Universidade de Montreal, no Canadá.

+ Leia também: O Brasil está pronto para a explosão de casos de câncer de próstata?

Além de eficaz, a combinação também se mostrou segura. No geral, pacientes de ambos os grupos da pesquisa, os que tomaram o medicamento e os que receberam placebo, tiveram níveis parecidos de eventos adversos, demonstrando que o medicamento não oferece riscos adicionais aos pacientes. 

Entre os eventos adversos observados estão anemia, dores articulares e infecções do trato urinário. Pacientes que receberam darolutamida relataram menos fadiga: foram 5,6%, contra 8,1% do grupo placebo.

A fase 3 do estudo Aranote traz resultados positivos, mas mais dados sobre determinados subgrupos de pacientes sejam necessários, segundo a avaliação de Niven Mehra, oncologista da Universidade Radboud, nos Países Baixos, que mediou a apresentação de trabalho sobre o câncer de próstata na Esmo 2024.

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Os resultados foram publicados simultaneamente no periódico Journal of Clinical Oncology.

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Aprovação nacional

A droga é comercializada sob o nome de Nubeqa e foi desenvolvida pelas farmacêuticas Bayer e Orion Corporation. Ela é um inibidor de receptor de andrógeno (ARi), ou seja, funciona reprimindo a função de um receptores de hormônios que “alimentam” as células do câncer.

A darolutamida é utilizada contra o câncer de próstata em 85 países, inclusive no Brasil, onde já tem aprovação para tratar a doença em dois cenários.

Em 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o medicamento para casos resistentes à castração não metastáticos.

Traduzindo: é uma opção para aqueles cujo tumor não está respondendo a terapias hormonais (que reduzem os níveis de testosterona do paciente, fenômeno classificado como castração), mas não chegou a se espalhar para outras partes do corpo — ainda que o risco de que isso ocorra seja grande.

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Em pacientes com esse perfil, a droga adia o aparecimento de metástase em 22 meses, em média.

Uso sem quimioterapia

Já em 2022, a darolutamida foi aprovada para o tratamento do câncer de próstata metastático hormônio-sensível em combinação com a ADT e o docetaxel (ou seja, junto com a terapia hormonal e com uma quimioterapia).

A liberação se baseou nos resultados positivos do estudo Arasens, que mostrou que o conjunto foi capaz de reduzir o risco de morte pela doença em 32,5%, comparado ao uso de apenas ADT e o docetaxel — tratamento padrão até então. A pesquisa havia sido divulgada naquele mesmo ano, no Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o maior do mundo.

Agora, com o estudo Aranote divulgado no congresso da Esmo, os médicos demonstraram que a darolutamida associada ao ADT é eficaz e segura com ou sem o docetaxel.

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“Isso aumenta e simplifica as possibilidades de tratamento, reduzindo inclusive o risco de eventos adversos decorrentes do uso do docetaxel, que é um quimioterápico“, ressalta Eli Lakryc, vice-presidente da área médica da Bayer no Brasil e na América Latina. 

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Os resultados apresentados no congresso da Esmo ajudarão a submeter pedidos para agências regulatórias em todo o mundo para a inclusão de mais essa indicação da droga no combate ao câncer de próstata.

Compreendendo a doença

Anualmente, cerca de 1,4 milhão de homens recebem o diagnóstico e 375 mil morrem por conta da doença em todo o mundo. O câncer de próstata é o segundo tumor maligno mais diagnosticado no sexo masculino e o quinto em mortalidade.

Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Brasil, quase 72 mil novos casos serão detectados neste ano e mais de 16 mil homens serão vítimas da malignidade.

Na maioria dos casos, o diagnóstico é realizado ainda quando a doença é local, ou seja, atinge apenas a próstata — glândula masculina que fica abaixo da bexiga e envolve a uretra. Por sua localização, os principais sinais da doença envolvem dificuldade de urinar e alterações no fluxo do xixi, sangue na urina ou no sêmen, disfunção erétil, entre outros. 

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Cirurgia, químio e terapia hormonal são, geralmente, as principais linhas tratamentos utilizadas para conter o tumor urológico. Alguns pacientes podem conviver anos com a doença sem precisar de intervenção. Outros, porém, possuem características mais agressivas e resistentes. 

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“É o caso do câncer de próstata metastático hormônio-sensível (CPHSm), que corresponde a cerca de 10% do diagnósticos”, afirma Mayara Ivani de Paula, farmacêutica e gerente médica de oncologia da Bayer. 

Contra resistência

Outra novidade no tratamento do câncer de próstata foi apresentada no sábado (14), durante o primeiro Simpósio Presidencial do congresso, no qual são apresentados estudos que têm o potencial de mudar o padrão de tratamento de diversos tipos de câncer.

A pesquisa clínica Peace-3 mostrou que a combinação do inibidor de andrógeno enzalutamida com o radiofármaco Ra223 é capaz de promover um média de sobrevida de 42,3 meses para pacientes com câncer de próstata resistente à castração e metastático.

O uso de enzalutamida sozinho promove uma sobrevida de 35 meses, sete a menos do que o combo.

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Os pacientes que foram incluídos no estudo estavam em estágio avançado da doença, espalhando-se para os ossos.

A presença de metástase óssea impõe muitos desafios ao tratamento e está associada a um baixo índice de sobrevida. Estima-se que de 80 a 90% dos pacientes que morrem por câncer de próstata avançado apresentam tumores no esqueleto.

O estudo orienta que sejam oferecidos seis ciclos do radiofármaco com o inibidor de andrógeno como tratamento de primeira linha para esse tipo de câncer.

*A jornalista viajou a Barcelona a convite da Bayer.

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