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Ultraprocessados de origem vegetal aumentam o risco de doenças cardíacas

Vegetais in natura ou minimamente processados protegem o coração, mas o oposto ocorre quando eles passam por altos níveis de processamento

Por Lucas Rocha
Atualizado em 25 jun 2024, 14h21 - Publicado em 14 jun 2024, 11h27
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Pratos à base de vegetais, inclusive que simulam o sabor e a textura da carne, têm conquistado cada vez mais gente. (Foto: GI/Getty Images)
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Dietas ricas em verduras e legumes são reconhecidas por seus benefícios à saúde. E padrões alimentares que privilegiam vegetais, como o veganismo e o vegetarianismo, se tornaram mais populares nos últimos anos.

Para essas pessoas, o mercado oferece uma série de produtos à base de vegetais, como almôndegas, hambúrgueres e outras fórmulas artificiais que simulam o gosto de carne, criadas a partir de proteínas de soja, ervilha, grão de bico, entre outros ingredientes.

Mas o que parece uma solução para diversificar o cardápio pode, na verdade, oferecer riscos para a saúde, principalmente para o coração. É o que aponta um novo estudo com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).

O trabalho mostrou que a ingestão de ultraprocessados de origem vegetal pode levar ao aumento de 5% das chances de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, além de contribuir também para a alta de 12% da mortalidade por esses agravos. Além das carnes vegetais, a pesquisa avaliou a ingesta de diversos integrantes da categoria, como biscoitos, cereais, bebidas, etc.

Parece um incremento pequeno, mas é um efeito oposto ao esperado de frutas, legumes e verduras, que protegem o coração e reduzem o risco de morte por doenças crônicas.

“Uma alimentação à base de plantas pode trazer benefícios para a saúde cardiovascular, exceto se for repleta de alimentos ultraprocessados”, reforça a doutora em ciências da saúde Fernanda Rauber, autora do estudo e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) e da Faculdade de Medicina, ambos da USP.

Como foi feito o estudo

Para chegar aos resultados, os cientistas utilizaram dados do estudo UK Biobank, que reuniu participantes da Inglaterra, Escócia e do País de Gales. Ao todo, mais de 118 mil participantes, com idades entre 40 e 69 anos, tiveram sua alimentação avaliada em pelo menos dois dias.

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As informações foram complementadas com registros hospitalares e de mortalidade, a fim de obter informações sobre doenças cardiovasculares.

A pesquisa foi uma parceria entre a USP, o Imperial College London e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, em inglês), com financiamento da World Cancer Research Foundation. Os achados foram publicados no periódico científico Lancet Regional Health Europe.

“Os dados mostraram que um aumento de 10% do consumo de alimentos de origem vegetal não ultraprocessados foi associado a uma redução de 7% e 15% no risco de doenças cardiovasculares e mortalidade por esses agravos, com redução de 8% e 20%, respectivamente, no caso da doença arterial coronariana“, pontua a especialista.

No contexto da alimentação saudável, dietas ricas em verduras e legumes são tradicionalmente recomendadas por 10 entre 10 médicos e nutricionistas.

E a explicação está na ciência: esse tipo de alimento contribui para uma série de melhorias no organismo. A lista inclui a manutenção do peso adequado, o bom funcionamento gastrointestinal, além da prevenção da obesidade e de outras doenças crônicas.

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Ultraprocessados podem ser substituídos por alimentos naturais (Foto: Iñigo De la Maza/Unsplash)

Para os autores, além de um alerta para a população, os dados do estudo representam a necessidade de mudanças de políticas públicas na área.

“É importante que os países e organismos multilaterais desenvolvam políticas para reduzir o consumo de ultraprocessados, como tributação, regulamentação da publicidade e proibir a comercialização em ambientes escolares e hospitalares. Ao mesmo tempo, precisam pensar em políticas de incentivo para a produção, comercialização e consumo de alimentos in natura e minimamente processados”, frisa Fernanda.

Os próximos passos da pesquisa incluem estudar os impactos entre brasileiros e brasileiras.

“A ideia é trazer essa investigação para o estudo Nutrinet-Brasil, desenvolvido pelo Nupens, que está em andamento e já conta com mais de 110 mil participantes cadastrados. Esse estudo visa identificar características dietéticas que aumentem ou diminuam o risco de doenças crônicas na população brasileira”, adianta Fernanda.

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+ Leia também: Carne plant-based ou de verdade: qual é a melhor opção para o coração?

Como substituir ultraprocessados de origem vegetal por opções mais saudáveis?

As escolhas alimentares dos indivíduos consideram um conjunto de fatores. Entre eles, disponibilidade e facilidade de acesso, custo dos alimentos, diversidade de opções e exposição à publicidade de produtos não saudáveis.

Por isso, é difícil pensar em uma mudança individual. “Uma alimentação baseada em ‘comida de verdade’, à base de plantas, principalmente orgânicas, ainda tem um custo alto para a população em geral”, enfatiza a médica nutróloga Sandra Lúcia Fernandes, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

A opção por ultraprocessados está associada à praticidade, sabor e ao baixo preço. No entanto, por trás desse pacote atraente há um alto teor de gorduras, açúcares e sódio. A adição desses ingredientes pode favorecer o surgimento de hipertensão, diabetes e obesidade, além de causar um desequilíbrio nutricional.

Veganos, vegetarianos e pessoas que desejam aumentar a ingestão de verduras e legumes devem priorizar a seleção de itens naturais.

“Ao optar por uma dieta à base de vegetais, o paciente deve procurar orientação especializada para estabelecer uma alimentação saudável. Trocar a carne animal por alimentos ricos em aditivos químicos pode realmente levar a outros problemas e, no caso dos ricos em gordura trans ou saturada, a aumento de risco cardiovascular”, diz Sandra.

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+ Leia também: Uma em cada cinco crianças está acima do peso no mundo

Alimentos in natura vêm diretamente de plantas ou de animais e são comercializados sem qualquer alteração. Estamos falando de verduras, legumes, frutas, ovos, raízes e tubérculos.

“Vale investir na alimentação leguminosas como feijão, soja, lentilha e castanhas. A própria mistura de feijão com arroz completa o teor de aminoácidos essenciais necessários para o nosso organismo produzir proteínas”, orienta a nutróloga.

Nesse contexto, vale destacar padrões alimentares associados à redução do risco cardiovascular, chamados de cardioprotetores.

A dieta mediterrânea, por exemplo, favorece a saúde do coração e previne outras doenças crônicas. Nela, há um alto consumo de frutas, vegetais, nozes, cereais integrais e azeite de oliva. O regime inclui também a ingestão moderada a alta de peixes, média a baixa de frango e laticínios e pouca carne vermelha e embutidos.

Temos também a dieta tipo DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que recomenda um planejamento alimentar com baixo teor de gorduras e sódio, que prioriza a inclusão de frutas, verduras, legumes, leite e derivados desnatados, assim como itens que são fontes de magnésio e potássio.

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