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Entrevista: “A alimentação tem papel importante na recuperação pós-Covid”

Médica explica como o cardápio ajuda a resgatar a massa muscular perdida e a lidar com outras consequências do coronavírus

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 2 set 2021, 10h45 - Publicado em 31 ago 2021, 18h55

A médica Maria de Lourdes Teixeira da Silva sabe bem como fica o corpo depois da Covid-19. No ano passado, precisou de 15 dias de internação para lidar com a forma grave da doença, mas levou alguns meses para superar totalmente o quadro, hoje chamado de pós-Covid.

“Me recuperei devagarzinho, mas tive muita sensação de fadiga e uma queda de cabelo horrível”, relembra a diretora do GANEP Nutrição Humana. Ela não está sozinha: estudos revelam que uma em cada três pessoas que contraem o coronavírus podem apresentar alguma queixa a longo prazo.

Em um bate-papo com VEJA SAÚDE, Maria de Lourdes conta como a alimentação pode auxiliar quem está nesse processo. Confira!

VEJA SAÚDE: Qual é o papel da alimentação na recuperação da Covid-19?

Maria de Lourdes: A alimentação tem um papel importante para esses pacientes. Em primeiro lugar, é sempre uma oportunidade para corrigir hábitos alimentares. Muitos já não comiam corretamente, e sabemos que a obesidade aumenta o risco de quadros mais graves de Covid-19, que, por sua vez, estão associados a possíveis complicações de longo prazo. Então, é uma chance de colocar a casa em ordem.

Além disso, essa é uma doença que pode trazer perdas importantes de nutrientes e de massa muscular. Então, todos os indivíduos devem ser orientados a buscar uma alimentação saudável e fazer ajustes individuais, baseados nos acometimentos que tiveram.

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Quais são os principais ajustes a serem feitos?

Varia muito conforme o grau de severidade da infecção. Para quem teve formas leves, ao invés de focar em nutrientes específicos, prefiro falar em padrão alimentar saudável. Essa é a base para tudo, e a necessidade de suplementação deve ser avaliada individualmente.

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Pessoas que perderam muito músculo deverão aumentar o aporte de proteínas, até com suplementos, se for o caso. Indivíduos internados por longos períodos, que desenvolveram feridas na pele, podem adicionar alimentos com propriedades cicatrizantes, com nutrientes como vitamina C, zinco, ômega 3 e arginina.

Quem teve o paladar afetado pode treinar esse sentido com alimentos picantes. E, de maneira geral, todos se beneficiam de uma boa hidratação e de consumo adequado de fibras, uma vez que os remédios que costumam acompanhar a internação podem desequilibrar a microbiota intestinal.

E que padrão alimentar saudável é esse?

A conhecida dieta mediterrânea, que inclui itens com propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antitrombóticas. É um cardápio composto por alimentos naturais: frutas, legumes, verduras frescas, boas gorduras, em especial do azeite de oliva, peixes, grãos integrais, laticínios e ovos.

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Diversos estudos já demonstraram que pessoas que adotam esse padrão têm menos infartos e outras doenças cardíacas, além de menor risco de desenvolver distúrbios neurodegenerativas e outros problemas. Pesquisadores também defendem que ela pode ajudar na recuperação da Covid, o que faz sentido, considerando suas vantagens.

E quando é necessário usar suplementos nutricionais?

Em geral, os pacientes que ficaram internados devem garantir o consumo adequado de proteínas para repor a massa muscular perdida. Alguns chegam a perder mais de 10 quilos no período de hospitalização, e não dá para apenas comer mais por conta própria sem levar em consideração o teor nutricional do cardápio.

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Se as boas fontes proteicas não fizerem parte do hábito alimentar desses pacientes, pode ser necessário suplementar. Vale dizer que a alimentação e suplementação não resolvem o problema sozinhas: é preciso realizar um trabalho de fisioterapia e reabilitação física para recuperar os músculos.

Em casos mais severos da doença, também pode haver desnutrição e, nesse caso, é importante repor vitaminas e minerais. Mas é preciso que isso seja feito com a orientação do nutricionista, e conhecendo as deficiências daquela pessoa em específico.

+ Será que você anda desnutrido? Veja os sinais da condição e como resolver

Como foi a sua experiência com a fase aguda da doença e com o pós-Covid?

Eu tive que ficar internada por conta da baixa saturação de oxigênio no sangue, cheguei a ter 75% [o ideal é acima de 95%]. Fiquei 15 dias hospitalizada, dependendo de oxigênio, mas sem precisar entubar. É o que chamamos de forma grave, mas não crítica, porque não precisei de UTI.

Foi difícil, era início da pandemia, todos tinham medo de se aproximar. É uma doença muito solitária, você fica sozinho e não sabe o que vai acontecer. Você tem medo de morrer e acha que a qualquer momento pode piorar.

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Depois, eu me recuperei e fui retomando devagarzinho as atividades. Mas tive muito essa sensação de fadiga, que é amplamente descrita, além de  uma queda de cabelo horrível. Cheguei a perder metade dos fios, e isso começou dois, três meses depois da alta.

É interessante falar que tem pessoas que apresentam sequelas pós-Covid, mas não relacionam com a doença, porque os sintomas demoram um pouco para aparecer. Mas é importante estar atento e buscar ajuda.

dieta pós-covid
Uma dieta no estilo da mediterrânea, com peixes, vegetais, oleaginosas e azeite, pode auxiliar no pós-Covid. (Foto: Alex Silva/A2 Estúdio)

O que se sabe sobre complicações gastrointestinais do pós-Covid?

O coronavírus se liga nas células que revestem as paredes do intestino, causando uma grande confusão local, e também no fígado. Em especial na fase aguda, as pessoas podem ter náusea, diarreia e outros problemas, antes mesmo dos sintomas respiratórios surgirem.

Quem está nesse grupo provavelmente já teve algum grau de desnutrição logo de cara, ainda que com a forma leve da doença, por conta da dificuldade em manter a alimentação.

E alguns ficam com sequelas das alterações, podendo apresentar diarreia, náusea e intestino preso meses depois. Não são as repercussões mais comuns, vale dizer.

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E também pode acontecer de indivíduos que já apresentavam quadros do tipo terem seus sintomas exacerbados. Nesses casos, além das fibras, o consumo de probióticos pode ser uma alternativa interessante.

Então, a desnutrição vem desses problemas na fase aguda?

Sim, não só por comer menos, mas pela maior necessidade calórica.

Quando você tem uma doença infecciosa, o corpo entra num estado de catabolismo ou hipermetabolismo [ou seja, aumenta seu consumo de energia para combater o inimigo], então precisamos de mais calorias, o que acelera o processo de desnutrição. Quanto mais grave a doença, e mais tempo na UTI, maior o risco.

Um padrão alimentar considerado não saudável (rico em ultraprocessados, gorduras saturadas e açúcar) pode atrapalhar?

Pode, porque ele não contempla o que o doente precisa. Nessa fase, a microbiota deve ser recuperada, a massa muscular restabelecida e por aí vai. Isso demanda um aporte adequado de fibras, proteínas e vitaminas, como dissemos.

Um cardápio desequilibrado, baseado em fast-food, tem menos desses nutrientes, então pode atrasar a recuperação. Não é que ele não vai se recuperar, só vai demorar mais para que isso aconteça.

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Quem deve procurar um nutricionista depois da Covid-19?

Muitos já saem do hospital com uma orientação feita pela instituição. Agora, casos que não exigiram internação, mas que deixam essa sensação de estar debilitado, exigem orientação específica. Para os casos leves, a dica é seguir um padrão alimentar saudável mesmo e, se não conseguir realizar essas mudanças, será necessário suplementar. Daí também há necessidade de buscar ajuda.

Em geral, todos podem aproveitar esse momento para recuperar o que foi perdido em anos de padrão alimentar ruim. Na verdade, a atenção ao cardápio teria sido importante antes mesmo de se infectar. Se tivéssemos cuidado melhor disso durante os períodos de isolamento social, teríamos impedido muito ganho de peso na pandemia, que acabou por piorar a saúde das pessoas.

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