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Diabetes: 10 notícias que podem mudar o tratamento

Mapeamos as novidades que devem aprimorar o controle da doença. Tem injeção que virou comprimido, remédio 3 em 1, insulina inalável, aplicativo de celular

Por Maurício Brum e Juan Ortiz
Atualizado em 17 jan 2020, 15h39 - Publicado em 2 dez 2019, 10h15
o que é bom para diabetes
As novidades no tratamento de diabetes vão de insulina inalável à aplicativo de monitoramento da glicose. (Ilustração: Otávio Silveira/SAÚDE é Vital)
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O diabetes é uma doença cada vez mais comum na população, e com consequências sérias quando não controlado direito. Mas os avanços da medicina têm trazido boas notícias: estão surgindo cada vez mais novos aprimoramentos que facilitam o tratamento e a monitorização da glicemia alta. Listamos, com o apoio de especialistas, os dez principais:

1. Picada semanal contra a doença

Nos últimos anos, uma classe de medicamentos dominou boa parte do noticiário e dos congressos médicos focados em diabetes: os análogos de GLP-1. Ao simular a ação de um hormônio naturalmente produzido pelo corpo, o tal GLP-1, esse remédio injetável controla de uma forma mais inteligente o açúcar no sangue de quem tem diabetes tipo 2.

As primeiras versões do fármaco têm de ser aplicadas diariamente. Daí a sacada da indústria ao bolar uma opção de uso semanal, a semaglutida.

Segundo Gabriel Fagundes, gerente médico da Novo Nordisk (companhia que criou a medicação), ela mostrou melhores indicadores de redução e controle da glicose, além de instigar uma significativa perda de peso, na comparação com outros tratamentos.

Outro ponto positivo é a melhora na adesão às picadas. Aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já está disponível nas farmácias.

2. A injeção já virou comprimido

Pensando em facilitar a vida do paciente, especialmente daquele que se incomoda com as picadas, a Novo Nordisk já apresentou nos Estados Unidos a semaglutida de uso oral. A ideia é dispensar a injeção, um dos principais motivos de resistência ao tratamento.

“É muito mais fácil tomar uma medicação oral do que uma injetável. A principal diferença, nesse caso, é que a dosagem em miligramas é maior. Para uma melhor absorção, é preciso usar uma quantidade superior”, explica a endocrinologista Ana Cristina Faria, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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Pelo fato de ser ingerida, algumas pessoas relatam mais desconforto gastrointestinal. “Mas muitos pacientes vão ter esse efeito colateral, seja com a apresentação injetável, seja com a via oral”, esclarece Ana Cristina. A previsão é que o comprimido estreie por aqui em 2020.

3. Enfim, uma insulina inalável

Disponível em terra americana desde 2014, a insulina em pó inalável foi aprovada neste ano no Brasil. De certo modo, é uma alternativa especialmente bem-vinda à turma com diabetes tipo 1 ou 2 que quer se ver livre (pelo menos em parte) das picadas.

A novidade, das farmacêuticas Biomm e MannKind, vem em uma bombinha semelhante às utilizadas no tratamento da asma. O uso deve ser feito imediatamente antes das refeições por causa da velocidade de processamento da insulina.

“Ela é muito rápida. Em dez a 12 minutos já está surtindo efeito, baixando a glicemia. Por outro lado, em até duas horas a ação terminou”, conta o endocrinologista Márcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Por essas e outras, a versão inalável não substitui toda e qualquer insulina injetável, como as de longa duração.

Existem precauções para quem pretende recorrer a ela. O sujeito não pode ser fumante nem ter problemas respiratórios crônicos, o que atrapalha sua absorção nos pulmões — exames podem ser solicitados para saber se está tudo bem nesse sentido.

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“Uma desvantagem é que esse tipo de insulina vem em doses pré-fixadas, ao passo que as demais opções com essa finalidade possuem doses que o médico pode detalhar melhor. Isso é algo a que teremos de nos adaptar”, observa Ana Cristina.

4. Insulina ultrarrápida também para crianças

A Anvisa liberou há pouco uma nova insulina ultrarrápida para crianças e adolescentes com diabetes. Ela melhora a vida dos mais novos (e dos pais) que hoje precisam arquitetar cada refeição e depois calcular a dose exata do hormônio.

“Nas situações em que o consumo é menor que o planejado, pode ocorrer hipoglicemia”, alerta Fagundes, da Novo Nordisk, que fabrica a versão aprovada para o público infantil.

A medicação ultrarrápida, indicada a partir de 1 ano de idade, pode ser aplicada no início da refeição ou após 20 minutos, o que aumenta a segurança caso se coma mais ou menos que o esperado.

5. Menos incômodo na hora de aplicar a insulina

É verdade que as agulhas de insulina estão cada vez mais finas. Mas, para muita gente com diabetes e que não tolera injeções, nem isso ajuda. Ainda mais porque, com frequência, é preciso utilizá-las várias vezes ao dia. A ideia do i-Port, recém-chegado ao Brasil, é contornar o desconforto.

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Implantado na superfície da pele, esse pequeno dispositivo conta com um cateter que fica inserido no tecido subcutâneo. Em vez de furar a pele em cada aplicação, o paciente simplesmente injeta a insulina ali.

Concebido pela Medtronic, o aparato não atrapalha o banho ou a prática esportiva (inclusive na água). Ele só precisa ser trocado a cada três dias, permitindo até 75 aplicações durante esse período.

“Nesses três dias, a pessoa pode usar dezenas de doses em um mesmo local, e a agulha nunca atinge a pele. Isso dá um conforto maior e facilita sobretudo em casos de crianças e de pessoas que têm medo de agulha”, avalia Krakauer.

6. O app que ajuda a monitorar a glicose

Não é só a aplicação de insulina que exige furinhos constantes na pele. O próprio controle do açúcar no sangue, tão defendido pelos médicos, costuma pedir uma picada no dedo para coletar uma gota de sangue e checar a situação.

Ou melhor, costumava pedir, caso a pessoa tenha adotado o FreeStyle Libre, tecnologia da Abbott que, por meio de um sensor colocado no braço, permite verificar a glicose em tempo real e acompanhar o histórico e a tendência dos níveis de açúcar circulante.

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O equipamento conta agora com o apoio de um aplicativo de celular, o LibreLink, que dispensa o leitor eletrônico convencional. “A pessoa pode usar o próprio smartphone para fazer o escaneamento do sensor. É um processo mais prático e libera o paciente de muitos aparelhos para realizar o controle”, analisa o especialista da SBD.

O app também permite compartilhar os resultados diretamente com o médico. “E outro ganho é o uso das setas de tendência, que ajudam a entender como a glicose está flutuando, para cima ou para baixo”, destaca Krakauer.

7. O remédio 3 em 1

Uma das tendências na medicina é buscar agregar em um único comprimido diversos princípios ativos para ganhar efetividade e conveniência. Um bom exemplo é um medicamento para diabetes tipo 2 que recebeu sinal verde nos EUA e reúne um combo de saxagliptina, metformina e dapaglifozina.

A ideia, testada e aprovada pela farmacêutica AstraZeneca, é agir em várias frentes simultaneamente a fim de impor melhor controle sobre a glicose. A saxagliptina regula a produção de dois hormônios com funções opostas, a insulina e o glucagon, de acordo com os níveis de açúcar no sangue.

A metformina, por sua vez, otimiza o aproveitamento da insulina pelas células, evitando que a glicose sobre na circulação. E a dapaglifozina elimina o excesso de açúcar pela urina.

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“Quando você tem um comprimido 3 em 1, não oferece apenas uma terapia tripla. Você barateia o tratamento e faz o paciente ter a sensação de que está tomando um único remédio”, analisa o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

E ele completa: “A grande palavra quando se fala no controle do diabetes é adesão. Daí ser bem-vinda toda estratégia que ajude o paciente a iniciar e continuar o tratamento.”

8. Medicamentos que protegem o coração contra o diabetes

“A principal causa de morte em pessoas com diabetes é a doença cardiovascular”, alerta Couri. De olho na prevenção de infarto e outras complicações, duas classes de medicamentos se destacaram recentemente devido a um valioso extra: proteger o peito. Falamos dos análogos de GLP-1 e dos inibidores de SGLT2, estes famosos por expulsarem o açúcar excedente pelo xixi.

“Quem mais se beneficia desse uso é o indivíduo com diabetes tipo 2, acima do peso e com antecedente de problemas cardiovasculares”, indica Krakauer. Mas, segundo o médico, como o foco das drogas é domar a glicemia, muitos outros diabéticos podem tirar proveito.

A principal barreira hoje é o preço. “No caso do análogo de GLP-1, o tempo médio de uso no Brasil é inferior a seis meses. Muito paciente não consegue manter o tratamento”, lamenta Couri.

É uma situação longe do ideal, uma vez que esses medicamentos são de uso contínuo. Se empregadas como manda o figurino, as duas classes diminuem significativamente o risco de morrer do coração, dizem os estudos.

9. Medicação para quem tem pré-diabetes

Eis uma cena cada vez mais comum no Brasil: a pessoa descobre que está com a glicemia elevada mas não a ponto de ser enquadrada como diabética. Só que é uma ilusão achar que está tudo bem: pesquisas atestam que o pré-diabetes já eleva o risco de infarto, por exemplo.

A recomendação básica para evitar a progressão do problema é se alimentar direito e fazer exercícios. Mas não é fácil mudar o estilo de vida da noite para o dia e, mesmo assim, nem sempre isso é suficiente para conter a glicose.

É nesse contexto que o médico pode receitar remédios como a metformina. Atenta a esse público, a Merck acaba de lançar uma versão com dosagem própria para quem tem pré-diabetes (850 mg).

“Quanto mais precoce for o tratamento para controlar a glicemia, melhor o resultado no longo prazo”, afirma Luiz André Magno, diretor médico da companhia no país.

10. Imunoterapia para deter o tipo 1

Tanto no Brasil como lá fora, cientistas vêm quebrando a cabeça para encontrar um jeito de frear o diabetes tipo 1 modulando o sistema imune, que passa a atirar contra o próprio pâncreas. Na Universidade Yale, nos EUA, uma equipe testou um medicamento imunoterápico capaz de atrasar o aparecimento da doença em pessoas com histórico familiar.

“O problema é que o diagnóstico foi retardado em apenas dois anos. A doença continua aparecendo”, pondera Couri.

Um método mais promissor e 100% nacional foi desenhado por Couri e colegas da USP de Ribeirão Preto: o transplante de células-tronco. O tratamento começa reduzindo a imunidade a quase zero, por meio de quimioterapia. As células-tronco retiradas do paciente são reinseridas para reconstruir o sistema imune, só que, nesse processo, perdem o ímpeto de agredir o pâncreas com a mesma intensidade de antes.

“Nossos pacientes ficaram, em média, seis anos sem usar insulina”, celebra Couri. “Esse é o melhor resultado já registrado, mas nosso objetivo é que nenhum deles volte a depender dela”, revela.

Os tipos de diabetes

Diabetes tipo 1: é uma doença autoimune: o corpo destrói as células que produzem insulina no pâncreas, tornando o indivíduo dependente de injeções regulares do hormônio. Representa até 10% dos casos de diabetes.

Diabetes tipo 2: é a versão mais comum, que afeta nove em cada dez diabéticos. Fatores como peso, idade e genética comprometem a fabricação de insulina ou o aproveitamento dela pelo organismo.

Pré-diabetes: é um estado de risco para desenvolver o tipo 2 pra valer. A glicemia costuma ficar entre 100 e 125 mg/dl (acima disso é diabetes). Não deve ser menosprezado, porque já aumenta a propensão a doenças, como as do coração.

Hábitos que sempre ajudam a controlar a glicemia

  • Controle a quantidade de açúcar e gordura saturada (carne vermelha, queijos amarelos…) no cardápio. Privilegie verduras, legumes, frutas e cereais integrais.
  • Procure reduzir o volume de alimentos industrializados.
  • Pratique atividade física — tanto exercícios que fazem suar como os de força — regularmente.
  • Programe-se para dormir direito e gerenciar o estresse.
  • Monitore a glicemia segundo a orientação médica.
  • Faça os exames de acompanhamento recomendados.
  • Tome os remédios, incluindo a insulina, no momento e na dosagem indicados.

O que esperar de outras três promessas

Pâncreas artificial: já há dispositivos que checam a glicose e, automaticamente, liberam doses de insulina, como o Minimed 670G. Mas a tecnologia deve evoluir: nos EUA, 40% dos pacientes desistem do uso por problemas técnicos.

Intervenções na flora intestinal: diabéticos apresentam um desequilíbrio entre bactérias “boas” e “ruins” na microbiota, o que dificulta o controle da glicose. Pesquisas buscam agora reverter isso com probióticos ou transplante fecal.

Insulina oral: ela já está em testes na Alemanha. A vantagem em relação à injetável é que passa pelo fígado antes de entrar na corrente sanguínea, o que reduz o risco de ganhar peso e de hipoglicemia. Devemos aguardar alguns anos ainda.

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