Eles estão por toda parte. No dia a dia de atletas profissionais e amadores, em pesquisas científicas que acompanham pacientes com arritmia e câncer, no pulso dos participantes do Big Brother Brasil. Não é de estranhar que encabecem o ranking das principais tendências fitness de 2022, elaborado pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte.
“As tecnologias vestíveis vieram para ficar”, assegura o professor de educação física Luis Telles da Rosa, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Os smartwatches e smartbands — relógios e pulseiras inteligentes, em bom português — são os expoentes mais populares dessa classe de dispositivos.
“Eles monitoram a atividade diária da pessoa, seu número de passos, batimentos cardíacos, gasto calórico, tempo de sono, entre outras funções”, resume Rosa.
A própria entidade responsável pelo ranking diz que “não surpreende” a escolha número 1 dos 4 546 profissionais consultados pelo planeta. Desde 2016, quando a opção foi incluída no levantamento, os chamados wearables passaram a ocupar o top 3 da lista.
Por aqui, esses aparelhos estão em franca ascensão: representam um mercado que cresceu 28% só no primeiro trimestre de 2021, segundo a consultoria IDC Brasil. Foram mais de 615 mil pulseiras e relógios inteligentes de marcas como Apple, Samsung, Polar, Casio, Huawei e Xiaomi vendidos apenas nos três primeiros meses do ano passado.
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Em meados de 2021, em Manaus, foi inaugurado o Health Data Lab (HDL), um centro de treinamento projetado para testar o novo modelo de smartwatch da Samsung, o Galaxy Watch 4. O laboratório coleta dados de 15 participantes submetidos a diferentes exercícios físicos diariamente. Depois, as informações são reunidas e colocadas diante das obtidas por outros centros mundo afora.
“Temos esteiras e bicicletas ergométricas, pista de corrida e uma piscina conhecida como endless pool [com correnteza artificial]. Os dados coletados são comparados aos de outros dispositivos e servem para aperfeiçoar o software a cada nova versão”, explica Paulo Melo, gerente de novos negócios do Sidia, instituto que coordena os testes no HDL.
A tecnologia de ponta desses novos relógios já é vista no setor fitness como uma ótima ferramenta para quem busca cultivar um estilo de vida ativo e saudável. Mas, antes de escolher o modelo, vale a pena entender propostas e funcionalidades oferecidas pelas marcas e saber o que os especialistas sugerem para tirar o melhor proveito do acessório.
Ferramenta (e tema) de pesquisa
A remadora Patrícia Chakur Brum é daquelas que não desgrudam do smartwatch. É com um modelo da Garmin que ela obtém dados detalhados para melhorar a performance.
“Fico com ele no pulso o dia todo. É por lá que controlo a velocidade com que estou remando, as calorias que gastei, o ritmo cardíaco. Posso indicar ao relógio o esporte que estou praticando e, com o GPS, medir a distância que percorri de barco”, descreve.
Além de atleta, Patrícia é professora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP) e comanda um estudo sobre a influência dos exercícios na qualidade de vida de pacientes que tiveram câncer de mama.
“A gente vê que essas mulheres engordaram até 15 quilos e pararam de fazer atividade física na pandemia. Isso é um fator de risco para a reincidência da doença”, conta. O trabalho terá os smartwatches como ferramenta de apuração: “Vamos realizar testes online, coletar a frequência cardíaca, ver o número de passos diários e a qualidade do sono”.
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Combater o sedentarismo é um dos trunfos desses dispositivos. Eles podem sinalizar que é hora de se mover e calcular se você bateu a meta de 40 a 60 minutos diários de atividade física preconizados pela OMS.
“Isso serve de estímulo para um comportamento mais saudável”, afirma Rosa. Para quem já treina, os modelos chegam a fazer a diferença na evolução do desempenho, mas, cabe lembrar, não substituem os professores — mesmo que estejam conectados a aplicativos e indiquem sessões de exercícios.
Um debate mais recente gira em torno dos dados coletados pelos aparelhos. Depois que chegam aos servidores, será que as informações dos usuários são utilizadas para outros fins?
“Uma rede varejista poderia usar meus dados para me recomendar produtos. Em vez de oferecer um tênis de corrida, me oferece uma raquete, porque o relógio sabe que jogo tênis e não corro”, ilustra Melo.
Algumas empresas já testam esses gadgets com seus funcionários para checar o rendimento e prevenir a exaustão entre eles. “O usuário está transformando a si mesmo em dados para fazer a inteligência artificial funcionar. Isso alimenta discussões sobre vigilância, porque até no sono você é monitorado”, diz o educador físico Braulio Nogueira de Oliveira, doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em sua tese, ele analisou o emprego da inteligência artificial na cultura fitness. “Antes, era usada a pedagogia do medo: ou você faz exercício ou fica hipertenso, diabético e vai morrer. Agora é a lógica da gamificação: o usuário faz o treino para subir de nível e obter mais pontos”, argumenta.
Veja, os problemas não estariam na tecnologia, mas nos usos atribuídos a ela. Até porque, fora ajudar no autoconhecimento, esses relógios têm funções que não se limitam aos treinos.
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Companheiros da saúde
Os últimos modelos de smartwatches viraram, na verdade, uma tendência de saúde. Os relógios da Polar monitoram a qualidade do sono e propõem pausas para relaxar.
“Se você consome álcool antes de dormir, o score que ele vai dar de 0 a 5 vai ser muito baixo, porque a variabilidade da frequência cardíaca vai ser alta nessa noite e vai atrapalhar seu sono”, exemplifica André Bandeira, diretor da empresa no Brasil.
A marca tem desde relógios inteligentes na faixa de 1,6 mil reais até o Vantage V2, que custa 4,6 mil e oferece alta resistência, GPS e autonomia de energia de 100 horas.
Outra fabricante a apostar nos wearables é a Casio. Um dos lançamentos da linha G-Shock, o GBD-H1000 (na faixa de 4 mil reais), tem o diferencial de recarregar tanto via USB (a regra entre esses aparelhos) quanto com energia solar.
As chinesas Huawei e Xiaomi, por sua vez, oferecem desde pulseiras inteligentes como a Band 6 (a partir de 370 reais) e a Mi Band 6 (por volta de 700), com funções mais voltadas a exercícios e maior dependência do smartphone, até relógios mais completos, como o Huawei Watch GT 3 (a partir de 1,8 mil) e o Mi Watch (2 mil).
“Somos a empresa número 1 do mundo em pulseiras inteligentes. E nossa última versão de smartband, a não ser pelo design, já poderia ser classificada como smartwatch”, diz Luciano Barbosa, líder das operações da Xiaomi no Brasil.
Duas gigantes do setor, a Samsung e a Apple investem pesado em recursos destinados a métricas de saúde: os novos modelos de ambas chegam a realizar uma espécie de eletrocardiograma. O Galaxy Watch 4 (cerca de 2,2 mil reais), da marca sul-coreana, ainda capta a pressão e analisa a composição corporal.
Enquanto o Apple Watch Series 7 (a partir de 5,3 mil) possui um programa que identifica episódios sugestivos de arritmias graves. Apesar de ter aprovado os dois dispositivos, a Anvisa ressalta que os dados dos relógios não devem ser interpretados sem o olhar de um médico.
“Os resultados apontados nesses dispositivos nem sempre correspondem ao que está acontecendo. Eles podem indicar um padrão de arritmia quando, na verdade, seria uma variação normal do ritmo cardíaco, e não conseguem distinguir condições mais raras”, esclarece o médico Altacílio Nunes, coordenador do Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde da USP. Ou seja, smartwatch não faz diagnóstico!
Outro aviso: todas as marcas citadas aqui realizam testes para validar seus sensores. Só que há uma vasta oferta de produtos falsificados ou de qualidade duvidosa por aí — estima-se que mais da metade dos adquiridos no país venham do mercado clandestino. Você poupa no bolso, mas e a saúde?
Feitas as ponderações, resta a cada um avaliar o investimento e as funções que fazem sentido em sua rotina e, o mais importante, não deixar de se exercitar.
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Estética, preço, matéria-prima e funcionalidades influenciam a escolha. Saiba quais atributos merecem ser contemplados:
+ Qualidade do material: para o smartwatch durar em meio aos treinos, certifique-se da resistência dele. Modelos de titânio ou aço estão entre os ideais se você faz esportes mais pesados.
+ Conectividade: a compatibilidade com o smartphone é interessante para quem usa apps de treinos. Há relógios que recebem notificações pareadas com o celular e permitem responder mensagens.
+ Autonomia de energia: quanto mais o aparelho se assemelha a um smartphone, menor é a duração da bateria — recarregada via USB. Mas há modelos simples que resistem mais de uma semana.
+ Monitoramento: a contagem de passos e de distâncias percorridas é um recurso que ajuda a vencer gradualmente o sedentarismo. Algumas versões gravam percursos e têm GPS.
+ Ritmo cardíaco: relógios e pulseiras inteligentes têm sensores que medem a frequência cardíaca — o que dá uma noção do esforço nos treinos. Alguns apontam sinais de atenção ao coração.
+ Evolução do treino: os wearables oferecem dezenas de modalidades de treino, para todos os perfis e gostos. Com os dados coletados, é possível avaliar o rendimento e rever as metas.
+ Indicadores de saúde: modelos de última geração inferem a saturação do sangue, a qualidade do sono, a composição corporal e realizam até eletrocardiogramas — só não dispensam o médico.
+ Água, frio e calor: a maioria dos smartwatches é à prova d’água, detalhe crucial para quem nada. Já existem novas versões capazes de suportar temperaturas extremas, entre -20 e 50 ºC.
+ Serviços extras: bússola e altímetro embutidos, recarga com energia solar, reprodução de músicas e pagamento por aproximação são outras funcionalidades dos novos dispositivos.