Parece contraditório estimular uma pessoa com dores nas articulações a praticar exercícios físicos, mas a atividade é considerada benéfica e parte essencial do manejo dos sintomas da artrose.
Também conhecida como osteoartrose, a doença degenerativa surge a partir do desgaste do tecido que reveste as extremidades dos ossos (cartilagens) e é mais comum nas mãos, joelhos, quadril e região lombar.
De acordo com Ana Paula Simões, ortopedista e presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Esporte, quem tem o diagnóstico da artrose deve trabalhar a musculatura para ganhar mais força e amortecer o movimento da articulação. Com isso, protege a “dobradiça” e evita que ela se desgaste ainda mais.
“O esporte é o melhor remédio para qualquer problema de saúde, e isso inclui a artrose”, explica a especialista, que também é professora instrutora e médica assistente do grupo de Traumatologia do Esporte pela Santa Casa de São Paulo.
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O problema é que, muitas vezes, a dor causada pela inflamação — na fase aguda da doença — faz com que o paciente se afaste da atividade física com medo de machucar ainda mais a articulação.
“Mas isso é ruim pois a musculatura vai enfraquecer, pode haver ganho de peso e até uma piora do humor, agravando o problema”, avalia a ortopedista.
Sintomas e culpados
A condição pode acometer qualquer articulação do corpo, e manifestar sintomas semelhantes. Nos joelhos, por exemplo, costuma provocar estalos ao se mexer, dores, inchaço, limitação de movimentos e a sensação de “pontadas” ou “queimação”. Ainda, a pessoa pode sentir dores ao iniciarem um movimento, que passam em pouco tempo depois.
As causas do problema são variadas: excesso de peso, condições genéticas e até traumas físicos podem provocar um desgaste da cartilagem.
O diagnóstico é feito de forma clínica por um especialista que avalia a possibilidade de inflamação na articulação. Exames de imagem como ressonância magnética e radiografia para comprovar o quadro podem ser solicitados.
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Como praticar com segurança
Segundo a ortopedista, os exercícios mais indicados são aqueles que não sobrecarregam os joelhos ou a área acometida pela condição. Nessa lista entram os treinos de musculação, Crossfit, Pilates e o uso de elásticos para promover a resistência e o fortalecimento muscular.
“Para um idoso, isso pode assustar, mas ninguém começa carregando 10 quilos. A ideia é começar aos poucos, do zero, e ir aumentando de forma progressiva”, diz.
Para garantir que tudo isso seja feito de forma segura e diminuir os riscos, o recomendado é que os portadores de artrose iniciem o fortalecimento com o acompanhamento de um fisioterapeuta. Essa etapa é importante para garantir que o indivíduo tenha saído da crise inflamatória e que não sinta dor para iniciar os movimentos do treino.
Para aliviar a dor, podem ser indicadas compressas geladas, o uso de pomadas e sprays anti-inflamatórios, ultrassom, acupuntura e bandagens, além do uso de anti-inflamatórios via oral (apenas quando receitados por um médico).
Uma vez que o paciente adquira consciência corporal, o treino pode seguir com um profissional de educação física. “Mas é importante o acompanhamento anual para avaliar a evolução do quadro e, em alguns casos, também utilizar medicação oral para ajudar no controle da doença”, diz a ortopedista.
Em tempos de pandemia, esse acompanhamento pode ser feito também de forma online com bons resultados. É o que aponta um estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, e publicado no periódico Annals of Internal Medicine.
No trabalho randomizado, os pesquisadores constataram que o acompanhamento virtual melhorou a percepção da dor e a funcionalidade de pessoas com artrite no joelho, excesso de peso e obesidade.
E se a dor não passar?
Quando o quadro de artrose provoca muita dor, fica difícil mesmo praticar qualquer atividade física. Por isso, a recomendação é que o paciente saia da crise inflamatória antes de começar a se movimentar.
Quando a dor é grande e não passa mesmo após lançar mão de medicamentos e de iniciar o processo de fortalecimento da musculatura, uma opção passa a ser uma cirurgia que vai “limpar” a articulação ou até trocá-la por uma versão sintética. Apenas um médico especialista pode avaliar e recomendar o procedimento.
O importante, segundo Simões, é tentar buscar formas de se manter ativo. “O ganho também é mental, pois o paciente consegue socializar e ainda tem ganhos cardiorrespiratórios, melhorando a saúde como um todo.”
*Esse texto foi originalmente publicado pela Agência Einstein.