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10 mitos sobre gravidez derrubados pela ciência

Do instinto materno à praticidade da cesárea, durante anos nos contaram uma série de lorotas sobre a gestação e a maternidade

Por Larissa Beani Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 set 2025, 04h00
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Livro esclarece mitos sobre gravidez (Heide Benser/Getty Images)
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A maternidade sempre intrigou a farmacêutica e bioquímica catarinense Rossana Soletti. Afinal, como questionavam os filósofos antigos, de onde viemos?

Em laboratórios do Brasil, da Espanha e dos Estados Unidos, a pesquisadora (e mãe!) foi encontrando respostas e entendendo como nos formamos dentro do útero, de que forma células minúsculas em placas de vidro podem se tornar um novo membro da família e o que realmente faz diferença na saúde da gestante e de seu bebê.

“As mulheres ainda têm pouco acesso à informação de qualidade, e boa parte do que aprendemos sobre a gravidez não tem respaldo científico”, afirma a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A cientista acaba de lançar uma obra cujo objetivo é justamente esclarecer o que procede e o que não passa de bobagem nesse universo em que crenças e palpites se multiplicam feito coelhos.

Em A Ciência da Gestação: Passado, Presente e Futuro (Zahar – clique aqui para comprar), Soletti dá uma aula, acompanhada de curiosidades e ilustrações, desse fascinante processo chamado gravidez.

Informar melhor as mulheres — ou melhor, toda a sociedade — sobre as vivências do corpo antes, durante e depois dos filhos, derrubando fake news pelo caminho, é tarefa urgente e endossada por outros especialistas.

“Gravidez é um assunto do qual todo mundo entende um pouco”, brinca o médico Ricardo Tedesco, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “Só que, no afã de ajudar uma parente ou amiga, as pessoas reproduzem crenças que ocupam o imaginário popular mas carecem de evidências científicas.”

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Enquanto mitos seguem à solta por aí, vários conceitos preciosos, que podem salvar a vida de mulheres e crianças, se perdem entre ruídos.

É o caso da própria “epidemia” de cesáreas no Brasil, o abuso de um recurso útil que acaba expondo gestantes a riscos desnecessários, do desconhecimento sobre vacinas capazes de proteger mãe e bebê e da falta de conscientização sobre as repercussões mentais que sucedem ao nascimento da criança.

“Fatores como a ausência masculina nos cuidados com a família e a pressão social por uma boa performance como mãe, profissional e dona de casa empurram um quarto das puérperas para quadros de depressão pós-parto”, expõe Rafaela Schiavo, doutora em psicologia perinatal pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Desfazer esses equívocos — e outros tantos apontados no livro de Soletti, como você verá a seguir — é uma questão de saúde pública.

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A Ciência da Gestação: Passado, Presente e Futuro

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A Ciência da Gestação: Passado, Presente e Futuro

+ Leia também: Desde as primeiras semanas: quais são os sintomas de gravidez?

1. “O nascimento é o momento mais importante da nossa vida”

Há quem discorde. A hora do parto é, sem dúvida, um momento ímpar. Mas, para que nos tornemos os bebês e os adultos que vivenciam essa experiência, nós passamos, primeiro, por uma série de marcos do desenvolvimento ainda no útero quentinho da nossa mãe.

Uma das primeiras e mais impactantes etapas da nossa constituição ocorre na terceira semana do embrião (ou a quinta da gestação) e é, segundo cientistas, o ponto alto da nossa evolução.

“Não é o nascimento, o casamento ou a morte, mas sim a gastrulação que é verdadeiramente o momento mais importante da sua vida”, escreveu o biólogo sul-africano Lewis Wolpert.

É nesse processo que o embrião se divide em três camadas que, em pouco tempo, darão origem a todos os nossos órgãos e a cerca de 200 tipos diferentes de células.

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“É uma fase decisiva da nossa saúde, que inclusive deve ser mais estudada para que possamos entender como alterações nesse período podem ser evitadas”, afirma Soletti.

2. “O parto por cesárea é mais fácil do que o normal”

Não, e ele envolve mais riscos. Apesar disso, é o tipo de parto mais realizado no país.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), três a cada cinco bebês brasileiros vêm ao mundo por via cirúrgica. É o triplo da média mundial (um em cada cinco) e está muito acima do que a entidade estipula como ideal (de 10 a 15% dos nascimentos).

Entre os principais motivos que levam as mães brasileiras a optarem pela cesárea está o medo da dor do parto, o receio da violência obstétrica e de adquirir lesões no períneo e a conveniência de agendar a operação. No entanto, a prática não é tão simples quanto parece.

“A cesárea tem mais riscos de complicações, como maior perda de sangue, lesões em órgãos como bexiga e intestino e exposição a infecções, e também exige um período maior de recuperação”, explica Tedesco.

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Assim como toda cirurgia, deve ser feita em casos selecionados, quando realmente há indicação e o parto por via vaginal é inviável. Não é o que se vê por aí.

+ Leia também: Cesáreas ainda dominam a cena dos partos: precisamos reverter isso

3. “O bebê está completamente desprotegido quando nasce”

Não é bem assim. É verdade que os recém-nascidos estão mais suscetíveis a quadros infecciosos graves comparados a outras faixas etárias. No entanto, o sistema imune do bebê não vem zerado de fábrica.

Quando a mãe segue o calendário vacinal estabelecido para o pré-natal, ela protege não apenas a si mesma como também ao seu filho. “As crianças herdam anticorpos criados a partir da imunização da mãe, o que diminui o risco de complicações nos primeiros meses de vida”, esclarece a autora de A Ciência da Gestação.

Um exemplo é a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), causador da bronquiolite, a principal infecção pulmonar na infância. Ela deve ser administrada na mulher entre a 24ª e a 36ª semana de gestação.

Isso reduz em até 82% o risco de casos graves nos três primeiros meses de vida. Outra forma de proteger a criança de invasores é optando pelo parto normal: o contato com a microbiota vaginal da mãe está associado a melhores respostas imunes.

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4. “A placenta é a barreira que protege o bebê”

É uma visão ultrapassada. A placenta não tem como principal função impedir substâncias nocivas de chegarem ao feto.

Essa ideia foi abalada entre as décadas de 1950 e 1960, quando o uso de um medicamento para tratar o enjoo da gravidez levou a casos de malformação em milhares de crianças ao redor do mundo.

A droga, amplamente utilizada inclusive no Brasil, era a talidomida, e hoje é proibida para gestantes. Desde então, a placenta passou a ser mais estudada pelos cientistas.

“Hoje sabemos que ela funciona mais como uma ponte entre a mãe e a criança do que como uma barreira”, corrige Soletti. “É um órgão que permite a troca de substâncias entre as duas, sem capacidade de discriminar a natureza do que está chegando até ali.”

Por isso, a automedicação é especialmente contraindicada durante a gravidez e a mulher deve se privar de ingerir álcool e tabaco enquanto estiver gestando e amamentando. No mais, uma dieta equilibrada é mais do que encorajada nessa fase. 

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De alimentação ao parto, vários temas estão rodeados de desinformação quando o assunto é gravidez (Raimund Koch/Getty Images)

+ Leia também: Os exercícios beneficiariam até a placenta durante a gestação

5. “Especiarias estão proibidas, e chás, liberados”

Com moderação, é possível comer (quase) tudo. A nossa alimentação é sempre um alvo fácil de crendices e pitacos — e isso não é diferente durante a gestação. Caso a mulher não esteja bem informada, pode acabar passando por privações desnecessárias.

Hoje se sabe, por exemplo, que pimenta não causa cegueira e que canela não induz aborto. “Não há alimentos que, por si só, possam levar à perda gestacional ou à prematuridade”, tranquiliza Tedesco.

Em geral, essas condições são provocadas por síndromes hipertensivas e outras doenças crônicas da mulher. Para evitar crises, porém, é preciso cuidar, sim, da alimentação e não abusar de certos comes e bebes.

“Ao contrário do que muitos pensam, chás não devem ser ingeridos indiscriminadamente”, exemplifica a nutricionista Marisa Coutinho, do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista. “Alguns contêm cafeína, outros provocam sintomas gastrointestinais, situações a evitar nesse período.” 

6. “Gravidez não é doença”

Verdade, mas… Nem por isso podemos desprezar as queixas relatadas pelas grávidas. No livro publicado pela Zahar, a bioquímica provoca o debate: “O diagnóstico de gravidez faz com que todos os relatos e alterações reportados pelas gestantes sejam creditados como fatos e sintomas normais e saudáveis”.

Por mais que enjoos, vômitos, sonolência e cansaço sejam apresentados pela maioria das gestantes, qualquer manifestação que fuja do razoável deve ser investigada.

“Uma tontura pode ser encarada como algo normal da gravidez, mas também pode ser sinal de uma crise hipertensiva”, ilustra o médico da Febrasgo. “Não podemos deixar de diagnosticar essas doenças, porque elas colocam em risco a vida da mãe e da criança.”

Dessa forma, a orientação é que as queixas sejam sempre ouvidas e apuradas — com exames físicos, laboratoriais e de imagem, se preciso.

Há também de se considerar que a gestação muda o corpo da mulher não apenas por nove meses, mas para toda a vida. Aquelas que tiveram pré-eclâmpsia, por exemplo, precisarão zelar ainda mais pelo coração anos depois do parto. 

+ Leia também: Desde as primeiras semanas: quais são os sintomas de gravidez?

7. “Doenças genéticas não podem ser evitadas”

Parte delas pode, sim. Com o avanço da ciência, é possível selecionar embriões saudáveis e até mesmo curar certas doenças por meio de terapias gênicas.

Casais que já tiveram filho com alguma doença genética ou têm histórico familiar e temem que possam passar a condição às próximas gerações podem procurar por um geneticista.

Esse é o profissional capacitado para prover o aconselhamento genético, estimando qual é o risco de a prole herdar determinada alteração e o que pode ser feito para evitar que isso aconteça.

“Para aqueles que optam por realizar fertilização in vitro, é possível fazer um teste genético pré-implantação, que identifica se o embrião carrega a doença ou não, antes de ser implantado no útero”, explica Soletti.

Além disso, para algumas doenças, como a atrofia muscular espinhal (AME), há terapias para crianças que corrigem a mutação e previnem sequelas da doença. Esse tipo de tratamento, porém, ainda é recente e custa milhões de reais.

8. “A saúde do homem não influencia a gestação”

Mito! O estado de saúde do genitor impacta não apenas a formação do feto como também a trajetória da própria gravidez.

“A baixa qualidade dos espermatozoides pode estar ligada a um maior risco de perda gestacional e outras intercorrências ao longo da gestação”, afirma Renato Fraietta, urologista da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva (CPMR).

Nesses casos, pode ser recomendado realizar espermograma e teste de fragmentação do DNA espermático para avaliar os atributos do sêmen.

Segundo o especialista, sempre que um casal tiver dificuldades para engravidar, é necessário que ambos os parceiros sejam examinados.

“Ainda hoje, esse peso recai, na maioria das vezes, sobre a mulher, mas o homem é responsável por cerca de 40% dos casos de infertilidade”, pontua o médico, que também é coordenador do Setor Integrado de Reprodução Humana da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Por isso, a avaliação deve ser feita em conjunto, acelerando o diagnóstico.

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“As mulheres ainda têm pouco acesso à informação de qualidade, e boa parte do que aprendemos sobre a gravidez não tem respaldo científico”, afirma Rossana Soletti, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). (Heide Benser/Getty Images)

+ Leia também: Por que os homens precisam cuidar mais da saúde

9. “Mulheres que perderam o útero não podem gestar”

Aos poucos o cenário está mudando. Para mulheres que passaram por uma histerectomia para tratamento de miomas e outras condições ginecológicas, inclusive o câncer, ou aquelas que têm malformações na região, os cientistas têm trabalhado no aprimoramento do transplante uterino. Ao redor do mundo, foram feitas mais de 100 operações desse tipo.

No Brasil, a equipe do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) é pioneira: em 2016, foi responsável pelo primeiro caso bem-sucedido com doadora falecida no mundo, e, no último ano, foi a primeira a fazer um transplante entre irmãs vivas na América Latina.

O órgão é transplantado para que as mulheres tenham a oportunidade de gestar seus filhos. A gravidez é feita por fertilização in vitro, e é classificada como de alto risco, pela complexidade do caso. Ainda assim, dezenas de crianças já vieram ao mundo por essa técnica.

Por aqui, as mamães são pacientes que nasceram sem o útero, com a rara síndrome de Rokitansky.

10. “O instinto materno é natural das mulheres”

Não existe instinto materno. Boa parte das pessoas acredita que criar um filho é um trabalho feminino e intuitivo, como se cada mãe tivesse acesso exclusivo a um manual sobre como amar sua criança e cuidar dela. Mas, para desespero geral, não existe nada disso.

“Até o século 18, a maternidade não era valorizada. As crianças eram negligenciadas e as amas de leite eram escravas com a função de criá-las”, contextualiza a psicóloga Rafaela Schiavo. No século 19, virou-se uma chave.

“Entidades religiosas e científicas começaram a sustentar que as mulheres não tinham outra aptidão senão a dos afazeres domésticos e a da criação dos filhos”, relata.

Até hoje, a ideia de que a maternidade é um dom permanece no nosso imaginário e leva muitas mulheres à exaustão.

“É uma lógica que não tem base científica e é responsável por nos adoecer física e mentalmente”, condena a autora de A Ciência da Gestação.

Engajar toda a família e a sociedade nos cuidados com as crianças também é uma forma de cuidar das mulheres — antes mesmo de a barriga crescer e aparecer.

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