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Resveratrol: o que é, para que serve e onde encontrar

O composto da uva ajudaria a emagrecer, viver mais e proteger o coração - e começou a surgir em suplementos. Mas os benefícios do resveratrol param de pé?

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 28 dez 2023, 15h30 - Publicado em 28 dez 2023, 09h54
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Vinho tinto é uma das fontes de resveratrol. (Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Você já ouviu falar de resveratrol? Essa substância antioxidante de nome difícil vem ganhando espaço em diferentes suplementos, porque traria benefícios como retardar o envelhecimento, controlar inflamações, evitar doenças cardiovasculares e até emagrecer.

Mas, na verdade, ela também está presente em alimentos in natura, a exemplo das uvas (e, consequentemente, do vinho tinto).

Diante de tantas promessas, VEJA SAÚDE investigou o que é o resveratrol, onde encontrá-lo, para que ele serve e quais os verdadeiros benefícios dessa molécula.

O que é o resveratrol e onde encontrar?

O resveratrol é um composto bioativo, que nada mais é do que uma molécula naturalmente encontrada em alimentos de origem vegetal ou animal que exerce efeitos benéficos a saúde humana.

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As maiores fontes naturais de resveratrol são as uvas roxas e pretas. Mirtilo, amora, casca de amendoim, hibisco e até cacau também têm resveratrol, mas em menor quantidade.

E o vinho tinto? Como é feito a partir da fermentação de uvas, ele também possui resveratrol. Mas em concentração menor do que na fruta (mais à frente discutimos a ideia de consumir essa bebida alcoólica para fins de saúde).

O resveratrol também é encontrado em suplementos de colágeno, produtos de skincare com ação anti-aging e até como um suplemento isolado.

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Nesse último caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que as cápsulas não tenham mais do que 165 miligramas, por questões de segurança.

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Uvas roxas ou pretas e vinho tinto são as fontes mais conhecidas de resveratrol (Veja Saúde/SAÚDE é Vital)

Quais os benefícios do resveratrol?

O resveratrol é um composto bioativo da família dos estilbenos. De foma geral, moléculas dessa linhagem têm capacidade antioxidante e anti-inflamatória.

Mas há uma diferença entre reconhecer essas propriedades e dizer que o consumo regular de resveratrol, isolado, promove benefícios à saúde.

Há, por exemplo, estudos apontando benefícios de ingerir uvas, porém não dá para dizer que é o resveratrol o principal agente dessa vantagem.

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De qualquer forma, alguns especialistas defendem que o resveratrol é capaz de:

  • Controlar o diabetes
  • Proteger os neurônios
  • Reduzir o risco de problemas cardiovasculares
  • Afastar certos tipos de câncer

Toda essa exaltação em volta da molécula começou com as pesquisas do biólogo David Sinclair, professor de genética da Universidade de Medicina de Harvard e famoso por suas pesquisas com foco no retardo do envelhecimento.

Em 2003, ele publicou um estudo na revista Nature afirmando ter descoberto que, em uma levedura, três compostos bioativos (entre eles, o resveratrol) ativavam uma proteína chamada sirtuína.

Essa proteína está envolvida em mecanismos que controlam a morte celular e protegem o organismo de doenças associadas ao envelhecimento.

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No estudo com as leveduras, o resveratrol aumentou a estabilidade do DNA e prolongou a vida útil do organismo em 70%. Esse resultado despertou em Sinclair uma busca pelo uso terapêutico de ativadores de sirtuína, principalmente o resveratrol.

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Em 2006, mais um estudo de Sinclair associou o resveratrol com a longevidade, dessa vez em ratos.

Administrando o composto bioativo a essas cobaias com uma dieta muito calórica, ele e sua equipe inferiram que o resveratrol neutralizou os efeitos deletérios de uma alimentação desregulada, já que a saúde desses animais ficou igual ao de outros que receberam uma dieta saudável.

Segundo a conclusão do estudo, essas descobertas abririam as portas para novos tratamentos contra a obesidadedoenças do envelhecimento.

Aí o resveratrol começou a ser tido como o elixir da juventude.

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Com base nessas pesquisas, Sinclair cofundou a empresa Sirtris Pharmaceuticals, que nasceu para criar um suplemento de resveratrol. Em 2008, a GlaxoSmithKline (GSK) comprou a empresa por US$ 720 milhões.

Mas… outros pesquisadores tentaram replicar os achados de Sinclair, e não conseguiram.

Cientistas da Pfizer inclusive publicaram um estudo na revista Journal of Biological Chemistry alegando que o resveratrol e outros compostos bioativos pesquisados pela Sirtris não ativam diretamente a sirtuína.

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“Ainda hoje o mecanismo de ação completo do resveratrol não é totalmente conhecido”, afirma André Souto, cientista que estuda a substância há 20 anos e é professor do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a PUCRS.

Ok, mas o resveratrol não agir via sirtuína invalida seus possíveis benefícios? Na verdade, não.

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“O resveratrol não é um fármaco, mas pode ser um suplemento alimentar. Sua ação não é imediata, nem há comprovação de que vai ocorrer em todas as pessoas. Mas tomar por um tempo, aliado a outras práticas como atividade física e boa alimentação, pode trazer benefícios”, defende Souto.

De qualquer forma, nada de substituir tratamentos já comprovados por essas cápsulas, combinado?

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Suplementos de resveratrol já estão disponíveis no Brasil. A Anvisa só autoriza no máximo 165 miligramas do composto por cápsula. (Veja Saúde/SAÚDE é Vital)

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Efeitos colaterais e limitações do resveratrol

Muitos dos estudos que trazem resultados positivos com resveratrol se concentram células isoladas ou animais, o que é uma limitação e tanto.

Além disso, parte das pesquisas são feitas com altas doses de resveratrol, da ordem 1 a 2 gramas do composto isolado por dia. Lembre-se de que a Anvisa só permite cápsulas com 165 miligramas, ou 0,165 gramas – até doze vezes menor.

Isso significa que não se sabe se essas concentrações que trariam benefícios são seguras para seres humanos.

Pesquisas alertam sobre a escassez de dados em humanos e clamam pela necessidade de mais ensaios clínicos.

Outras investigações com essa molécula também mostraram efeitos indesejados, como interação medicamentosa e até danos aos rins a longo prazo. Estudos mais robustos precisam ser feitos para confirmar isso.

Uma revisão de mais de 200 pesquisas, que examinou os efeitos adversos do resveratrol, apontou que diferenças nas características dos voluntários, nos modelos dos estudos, nas doses de resveratrol utilizadas e na duração da suplementação geram diferenças nos resultados e impossibilitam quaisquer conclusões sólidas.

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Uma das maiores pedras no sapato do resveratrol é sua baixa biodisponibilidade. “Cerca de 90% do que você ingere vai para a urina”, avisa Souto.

Isso acontece porque a molécula, ao entrar no organismo humano, quebra-se em diversas partes menores que são muito solúveis em água. Aí adeus composto.

A revisão de estudos citada anteriormente confirma que o resveratrol é uma molécula com potencial positivo, caso sua biodisponibilidade seja aumentada. Mas, com o que se tem hoje, não dá para afirmar que sua suplementação é benéfica a longo prazo – e que não há riscos.

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Mas e o vinho? Uma taça por dia faz bem por causa do resveratrol?

Não. Muita gente cresceu acreditando que tomar uma taça de vinho faz bem ao coração. E isso é justificável, já que muitos estudos sugeriam que o consumo leve a moderado dessa bebida era benéfico para a saúde cardiovascular.

Mas diferentes entidades vêm derrubando essa ideia, ou pelo menos trazendo ponderações importantes.

As publicações que apontavam vantagens ao coração pelo consumo de vinho tinham falhas, e isso foi bem explanado no relatório divulgado pela Federação Mundial do Coração em 2022.

Já a Organização Mundial da saúde (OMS) publicou uma diretriz afirmando que nenhum nível de consumo de álcool é seguro para a saúde. Até porque o bem-estar físico não se resume ao coração.

Evidências robustas ligam o consumo de álcool a um acelerado envelhecimento genético e a um maior risco de câncer e doenças no fígado, inclusive em baixas doses (embora o abuso seja muito mais perigoso).

O efeito do vinho especificamente no coração é controverso, embora o álcool em si já esteja associado a problemas ali também. De qualquer jeito, mesmo que trouxesse algum benefício nessa seara, ele certamente não valeria o risco adicional de enfrentar outras encrencas.

Além disso, para garantir um bom aporte de resveratrol pelo vinho, seriam necessárias muitas taças, o que não é nada recomendado. Ou seja, não pense em quaisquer bebidas alcoólicas como fontes de saúde.

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