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Os efeitos do colágeno e quando realmente vale suplementar

Estudos apontam que o uso do suplemento só faz sentido quando estiver aliado a uma rotina saudável e ministrado sob supervisão médica

Por Fabiana Schiavon
8 fev 2022, 19h37

O colágeno é uma proteína produzida naturalmente pelo corpo humano a partir da alimentação. Aliás, 25% de toda a proteína presente em nosso organismo é representada por ele. Quando falamos na substância, logo pensamos na sua importância para a beleza da pele, já que ela ajuda a formar e renovar fibras de sustentação da cútis. Mas as funções vão além e incluem manter a saúde de músculos, tendões, articulações e até das artérias.

Com a idade, mais ou menos depois dos 30 anos, o nosso corpo vai perdendo a capacidade de fabricar essa molécula com a mesma destreza. É nesse momento, e principalmente de olho em sua atuação na parte estética, que os suplementos de colágeno começam a seduzir o consumidor.

Mas não basta sair comprando um potinho de pílula ou gomas na farmácia. O tema é complexo.

Para começar, o colágeno é uma molécula muito grande. Para ser absorvida, ela precisa passar pela hidrólise, que é basicamente uma “quebra”. Dessa maneira, é transformada em partes menores, os aminoácidos – sobretudo lisina e prolina.

Daí porque é tão comum encontrar suplementos de colágeno hidrolisado – significa que já passaram por essa mudança.

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Há, ainda, os peptídeos de colágeno bioativos: nesse caso, essas “quebras” são feitas com a intenção de chegar a aminoácidos específicos, que trabalhem diretamente no órgão alvo, como pele, músculos, articulações, etc.

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“Também conhecidos como componentes peptídeos, eles são o colágeno formado por fragmentos com menor peso molecular para que a substância seja mais facilmente absorvida no organismo”, esclarece Tiago Lazzaretti, médico do esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

Garantia de benefício?

Segundo alguns especialistas, esses processos não bastam para assegurar o total aproveitamento do colágeno, independentemente do objetivo.

“Além de passar pela hidrólise, a lisina e prolina dependem de alguns micronutrientes para serem captadas e surtirem efeito”, defende Juliano Burckhardt, médico cardiologista, geriatra e nutrólogo, membro titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

A vitamina C é o principal deles. Mas os minerais zinco, ferro e selênio também auxiliam na missão, segundo o médico.

Só que tem mais um detalhe: Burckhardt conta que não adianta estar com os micronutrientes em dia se houver um monte de açúcar na circulação. Isso valeria inclusive para a versão encontrada nas frutas.

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“O excesso de frutose quebra a função da lisina. Então, se houver exagero no consumo de alimentos como laranja e acerola com a intenção de aumentar os níveis de vitamina C, por exemplo, a conta não vai bater”, avalia o geriatra.

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Já a dermatologista Lilia Guadanhim, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entende que a questão não é bem assim. Ela se baseia em alguns trabalhos relacionados ao colágeno em ação na pele para constatar que a substância não é tão dependente de outros nutrientes.

“Estudos com substâncias análogas ao colágeno, e que tiveram resultados satisfatórios para a pele, avaliaram sua ação de forma isolada, e não em conjunto com outros nutrientes”, observa a médica.

Em um ponto todos concordam: tomar suplementos demais e sem controle pode sobrecarregar alguns órgãos e surtir um efeito bem diferente do esperado. Ou seja, o ideal é contar com orientação de um especialista.

O real impacto na pele

Ainda que os estudos sobre o efeito do colágeno na qualidade da pele sejam mais otimistas, é preciso alinhar as expectativas na hora de transpor resultados do laboratório para a vida real, aconselha Lilia, estudiosa do tema.

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“Um estudo alemão apontou um aumento de 7% na elasticidade da pele com a utilização do colágeno. Isso é um baita resultado para nós, mas é difícil saber se a pessoa perceberá esse efeito quando se olhar no espelho”, exemplifica.

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Por isso, não dá para encarar as pílulas de colágeno como a “fórmula da beleza invencível”, defende ela. “O protetor solar ainda é o melhor método antienvelhecimento”, crava a médica. Para Lilia, cremes anti-idade, tratamentos não invasivos e um estilo de vida saudável também precisam estar nesse combo.

Para quem quiser investir no colágeno mesmo assim, outro recado: a dose faz toda a diferença. Nesse sentido, contar com um dermatologista é essencial para não jogar dinheiro fora. É que várias pílulas ofertam menos de 1 grama da substância – teor que não traria vantagem.

“Ao comprar um pote de cápsulas, na maioria das vezes a pessoa terá de tomar seis ou sete unidades por dia para chegar na dose necessária”, calcula Lilia. “Daí porque têm surgido opções em sachês”, comenta.

Uma das empresas que produz os peptídeos bioativos em pó é a Aché. “O produto vem com 2,5 gramas, dosagem indicada pela Anvisa. Basta diluí-lo na água ou misturar a sucos quando o gosto começar a enjoar”, explica Andrea Bauer Bannach, dermatologista da linha Profuse, desenvolvida pela Aché.

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A Gelita, que também oferece diversos tipos de colágeno, tem estudo avaliando a repercussão do uso de 2,5 gramas de um de seus produtos diariamente, durante quatro semanas.

“Houve aumento significativo da elasticidade da pele, de até 10%, em comparação com o tratamento realizado com placebo. Os resultados continuaram a ser observados quatro semanas após a última ingestão do produto”, informa Georgia Alvares Castro Fernandes, nutricionista e consultora da marca.

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Vale a pena para os músculos?

Como contamos, o colágeno não participa só da estrutura da pele. Ele também chama a atenção de quem quer ou precisa manter a integridade dos músculos, como idosos com sintomas de sarcopenia (perda de força muscular) e praticantes de exercícios.

Há uma série de estudos que investigam o papel do consumo de colágeno em conjunto à atividade física. Mas os resultados são controversos.

Um deles, publicado no The British Journal of Nutrition, avaliou 53 homens diagnosticados com diferentes níveis de sarcopenia. Eles foram divididos em dois grupos: um tomou os peptídeos bioativos, e outro ficou com placebo. Após um programa de três meses, os pesquisadores entenderam que os suplementados proporcionaram bons resultados.

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“Há provas de que a substância traz um ganho de força em até 12 semanas, quando associada a treinos de resistência realizados, no mínimo, três vezes por semana”, diz Georgia, consultora técnica da Gelita.

Contudo, para o médico do esporte Tiago Lazzaretti, da USP, esse ganho não é tão significativo assim em comparação a quem se dedica somente a fazer exercícios. E ele também cita estudos.

Um deles foi feito por especialistas da Australian Institute of Sport, que acompanharam um programa de exercícios de fortalecimento muscular para pessoas com tendinopatias. Os participantes foram divididos em grupos que tomaram ou não o suplemento, e em períodos diferentes. “Chegou-se à conclusão de que a suplementação traz uma possibilidade de melhora, mas nada foi confirmado”, avalia Lazzaretti. 

O professor ainda cita uma revisão italiana publicada no Muscles, Ligaments and Tendors Journals, em que os autores entendem que os estudos que relacionam colágeno, músculos e ligamentos não fornecem indícios concretos de sua eficácia.

Esses levantamentos refletem um pouco do que ele vê no consultório. “Há casos em que receitamos o colágeno, dentro de uma dosagem e formato específicos. Algumas pessoas sentem diferença, mas esse resultado pode ser considerado um efeito placebo. Não consigo assegurar que a suplementação foi responsável por essa melhora”, avalia o profissional.

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