O mapa do consumo de cálcio
Estudo internacional revela que o consumo dos alimentos com esse mineral está aquém do desejado. E, pelo visto, a ingestão é especialmente baixa no Brasil
“Se o consumo de cálcio fica muito abaixo de mil miligramas, o organismo tira esse nutriente do esqueleto para colocá-lo na circulação e preservar funções como os batimentos do coração”, ensina o reumatologista Cristiano Zerbini, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Primeira conclusão: a substância que pinta o leite de branco é vital à nossa sobrevivência. A segunda: os ossos cedem sua matéria-prima para cobrir o déficit de uma dieta inadequada e arcam mais tarde com a osteoporose.
Foi para estimar o tamanho da carência de cálcio no mundo que a Fundação Internacional de Osteoporose (IOF, na sigla em inglês) idealizou o mapa ao lado. “Ele reúne estudos de 74 países sobre a ingestão desse mineral e retrata um quadro preocupante, em especial na Ásia e na América Latina”, resume o médico Philippe Halbout, CEO da IOF. O Brasil ocupa o 47º lugar do ranking, com um consumo de 505 mg – metade do nível ideal. Veja o mapa logo abaixo.
Verdade que comparações devem ser feitas com cautela, porque há países com números menos representativos do que outros. Exemplo: a pesquisa que delineia o cenário da Colômbia envolveu só 70 voluntários de uma cidade. É pouca gente para cravar que os 49 milhões de colombianos engolem, em média, menos de 400 mg do nutriente.
No entanto, os dados brasileiros vêm de dois trabalhos com mais de 20 mil pessoas e condizem com o relato de pacientes. “Eles frequentemente contam que suas únicas fontes de cálcio são o leite do cafezinho e a manteiga por cima do pão”, informa Zerbini, que participou da elaboração do mapa.
Quanto você deve ingerir de cálcio
O ideal é que crianças de 1 a 3 anos consumam 700 mg de cálcio por dia. Já as de 4 a 8 anos, 1 000 mg. Dos 9 aos 18 anos, deve-se ingerir 1 300 mg do nutriente. A partir dos 19 até os 70, a meta volta aos 1 000 mg diariamente. E, finalmente, quem tiver 71 anos ou mais precisa aumentar a quantidade para 1 200 mg. Porém, essa já deve ser a quantia diária de mulheres a partir dos 51 anos.
O cenário nacional
Um estudo brasileiro contemplado no mapa global se apoiou na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), do IBGE. Pois essa base de dados discrimina a ingestão do cálcio entre as regiões do país – confira seus resultados na ilustração abaixo. “Apesar de diferenças mínimas, nota-se uma carência generalizada”, analisa a nutricionista Lígia Martini, da Universidade de São Paulo.
Junto com Lígia e outros cientistas, o reumatologista Marcelo Pinheiro conduziu o Brazilian Osteoporosis Study (Brazos). O levantamento indicou que, em 2006, a ingestão diária desse nutriente ficava em torno de 400 mg nas nossas terras. “Comparando com o mapa atual, acredito que melhoramos”, opina o médico da Universidade Federal de São Paulo. Segundo ele, o Brazos talvez tenha destacado o tema e incitado empresas a fortificarem itens como leites vegetais.
A endocrinologista Marise Castro, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo, é menos otimista. “Acho difícil dizer que algo mudou, porque a variação é pequena”, avalia. “E tenho medo do que a demonização do leite, uma tendência sem evidências, fará com esse consumo”, conclui.
Os especialistas entrevistados admitem que é um desafio atingir as recomendações sem apostar nos derivados da bebida. Baseado em um guia da Fundação Nacional de Osteoporose (EUA), Zerbini afirma que um copo de leite, um pote de iogurte e duas fatias de queijo asseguram 900 mg de cálcio. “Some isso com o resto da alimentação, que traz cerca de 250 mg por meio de vegetais, peixes e afins, e você bate a meta”, calcula. Já quem tem intolerância severa à lactose pode recorrer a lácteos sem a substância.
Agora, se não quer tomar leite, visite um profissional para ver como atingir sua cota. “Além de ajustes na dieta, é possível entrar com suplementos“, salienta Pinheiro. Só não compre cápsulas sem indicação, o que eleva o risco de encrencas como pedras nos rins. Para ter ossos fortes, não basta cálcio – os exercícios e a vitamina D, por exemplo, também importam. Mas ao menos precisamos parar de fazer pouco caso desse nutriente.
*O jornalista viajou para o Congresso Mundial de Osteoporose e Doenças Osteometabólicas a convite da Sanofi Consumer Healthcare.
FONTES: Dietary Calcium Intake Among Adults: A Systematic Review, encomendado pela Fundação Internacional de Osteoporose; e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), do IBGE.