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Conheça o molnupiravir, o antiviral para tratar a Covid aprovado no Brasil

Esse remédio contra o coronavírus reduz risco de hospitalização e morte, mas só deve ser usado por indivíduos de alto risco

Por Chloé Pinheiro
13 Maio 2022, 15h42
molnupiravir msd
Antiviral que combate o Sars-Cov-2 já está sendo utilizado em 30 países  (Divulgação/MSD/SAÚDE é Vital)
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Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial do molnupiravir, antiviral da MSD para o tratamento da Covid-19. A farmacêutica fechou ainda um acordo de cooperação tecnológica com a Fiocruz para a produção nacional da droga. 

O molnupiravir atua dificultando a replicação do Sars-CoV-2 e deve ser usado nos primeiros cinco dias de sintomas, em casos bem específicos, para impedir a evolução da doença. Ou seja, é um tratamento precoce, assim como o Paxlovid, da Pfizer

A nova droga está indicada somente para indivíduos em alto risco de ter Covid-19 grave. Fazem parte do grupo os imunocomprometidos, idosos e portadores de comorbidades, como obesidade e hipertensão

“São pessoas que, mesmo vacinadas, correm um risco não desprezível de complicações da infecção”, diz o pneumologista Frederico Fernandes, diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT).

Portanto, a novidade não deve ser banalizada. “Existe uma demanda por medicamentos contra o coronavírus, mesmo com o advento das vacinas. Só que o uso não será universal”, pontua Fernandes. 

+ Leia também: Remédios contra Covid-19: o que funciona e o que é melhor deixar para lá

Especialmente com os altos índices de imunização, não há a necessidade de dar remédios para todos os infectados. “Em pacientes jovens, com baixo risco de quadros graves, isso só implica em custo e poucos benefícios, com potenciais efeitos colaterais desnecessários”, completa o médico. 

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Como funciona o molnupiravir 

Trata-se de uma molécula que se incorpora ao material genético do Sars-CoV-2 (que é feito apenas de RNA, não tem DNA). “Ali, o medicamento altera o trecho responsável pela fabricação da polimerase viral, proteína responsável pela replicação do vírus”, explica Fernandes. 

Ou seja, é como se o fármaco inserisse um defeito na máquina usada pelo vírus para fazer suas cópias. “Assim, ele não consegue mais se reproduzir e infectar novas células”, continua o pneumologista. 

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Até por isso, o molnupiravir só deve ser usado no início da infecção, quando o problema é o vírus em si. Depois disso, o foco do tratamento é nos estragos provocados por ele nos órgãos e na inflamação sistêmica que acomete alguns indivíduos. 

O molnupiravir é administrado pela via oral, o que facilita sua utilização. São 8 comprimidos ao dia, durante cinco dias. 

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O estudo que comprovou a eficácia

A pesquisa de fase 3, a última antes da aprovação de uma nova molécula, incluiu 1,4 mil voluntários. Todos testaram positivo para o coronavírus e tinham ao menos um fator de risco da Covid-19 grave (idade ou doenças). 

Metade recebeu o medicamento, metade um placebo. No final da análise, 48 dos 709 participantes que tomaram o molnupiravir foram hospitalizados ou morreram. Entre os 699 que usaram o remédio de mentirinha, 68 tiveram complicações. Houve um óbito no primeiro grupo e nove no segundo. 

Ou seja, 6,8% das pessoas que receberam o medicamento morreram ou foram internados, ante 9,7% do grupo placebo. Isso representa uma queda de 80% no risco de morrer pela doença ao tomar o remédio nas condições analisadas. Já o risco de internação foi reduzido em 30%.

“Esses dados indicam que precisaríamos tratar 30 pacientes para evitar uma morte ou hospitalização”, calcula Fernandes.

Os achados foram revisados por pesquisadores não relacionados ao estudo e estão publicados no periódico The New England Journal of Medicine

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Outro ponto digno de nota é que a ação foi mantida frente a diferentes variantes do coronavírus. Segundo os autores, o mecanismo de ação do molnupiravir independe das mutações constantes da proteína spike.

Contraindicações e efeitos colaterais 

Nesta pesquisa de fase 3, o índice de eventos adversos foi semelhante no grupo placebo e no do medicamento, um indicativo importante de segurança. Entre os mais comuns, foram observados diarreia, náusea, tontura e dores de cabeça. 

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Os dados até o momento não indicam grandes contraindicações. “Uma observação bacana é que ele não está contraindicado para portadores de insuficiência renal e hepática, que geralmente não podem tomar antivirais”, destaca Fernandes. 

Porém, como só foi testado em um contexto, o molnupiravir ainda não está liberado para crianças e gestantes.

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A parceria com a Fiocruz 

Apesar de não ser tão eficaz quanto o Paxlovid, que apresenta uma redução de risco de cerca de 90% para hospitalizações e mortes, um dos aspectos interessantes do molnupiravir é sua acessibilidade. 

“Queremos garantir que ele seja custo-efetivo para o Sistema Único de Saúde (SUS) e nossa estratégia de preços visa atender a realidade de cada país. Nas nações pobres, por exemplo, concedemos a licença para a produção do remédio”, comenta Mário Ferrari, diretor da unidade de negócios de Infectologia da MSD. 

O Brasil não está contemplado nessa estratégia, que é alvo de críticas por alguns especialistas por ainda limitar o acesso a um medicamento útil em tempos de crise humanitária. 

Nosso país, contudo, poderá produzir o molnupiravir por meio de uma parceria anunciada recentemente entre MSD e Fiocruz. O acordo de cooperação tecnológica prevê que a Fiocruz será responsável por armazenar, rotular, embalar, testar, importar e fornecer o comprimido ao Ministério da Saúde

“Isso garante que o medicamento estará disponível quando necessário e facilita a distribuição da droga no SUS por meio de um laboratório público”, diz Ferrari. O preço será cerca de três vezes menor do que o praticado nos Estados Unidos. 

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Dengue, chikungunya e prevenção da Covid 

Quando foi desenvolvido, o molnupiravir tinha como alvo o Sars-CoV, o antepassado do novo coronavírus. E pode ser que seja útil contra dois vírus endêmicos no Brasil, os causadores de dengue e chikungunya. É uma hipótese que será testada por meio do acordo com a Fiocruz. 

“Entendemos o molnupiravir como um antiviral inespecífico, que em tese pode inserir erros dentro do material genético de outros vírus de RNA, com mecanismos de replicação semelhantes”, aponta Ferrari. 

Seguindo o rito científico, estes primeiros testes serão pré-clínicos, em células isoladas e animais. Se der certo, os cientistas avançam para os ensaios com humanos. 

Lembrando que não há tratamentos específicos para dengue e chikungunya. Esse é, aliás, um dos avanços trazidos pela urgência da pandemia: a capacidade de fazer antivirais mais rápido e (talvez) melhor. “Interessante notar a velocidade do desenvolvimento dessa classe, que sempre foi mais desafiadora. Para a farmacologia, é um salto significativo”, destaca Fernandes.

Por fim, outra pesquisa envolvida na parceria avaliará a prescrição do molnupiravir de forma profilática, ou seja, para prevenir a Covid-19 em indivíduos que passaram por situações de alto risco de contágio. 

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