Nem sempre o corrimento vaginal é indício de problema, já que a vagina produz secreções naturalmente. No entanto, o sinal de alerta deve acender quando esse conteúdo vaginal se mostrar não habitual, ou seja, com alterações na cor e no odor. Ardência e coceira também podem dar as caras.
O contato com certos micro-organismos e até um desequilíbrio nas bactérias presentes na região estão entre os principais motivos por trás da encrenca.
Diagnóstico preciso e indicação do tratamento correto são fundamentais para impedir que a condição se agrave ou se torne um corrimento de repetição.
Quais são as principais causas do corrimento?
Fungos, bactérias e protozoários podem causar complicações como vaginites, vaginoses, candidíase e algumas doenças sexualmente transmissíveis. E essas são situações capazes de resultar em corrimento vaginal.
Porém, não é só o contato com micro-organismos inconvenientes que gera esse tipo de secreção. O desequilíbrio das bactérias e fungos que compõem a microbiota vaginal também pode responder pelo quadro.
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Os lactobacilos, por exemplo, são bactérias que protegem a área, mas, quando se reproduzem de forma exagerada, acabam jogando contra o nosso corpo.
Essa confusão na flora vaginal ainda pode ser provocada por maus hábitos. “Uso de sabonete íntimo e de absorventes de forma errada, ingestão de alguns medicamentos e utilização de roupas muito apertadas podem aumentar as chances de surgir um corrimento”, exemplifica Lucas Olivotti, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista.
Até as escolhas alimentares podem interferir na saúde íntima. “Quem consome carboidratos e açúcar em excesso tem mais propensão a sofrer desses desequilíbrios”, comenta a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, de São Paulo.
O que as características do corrimento podem indicar
Dependendo da cor, do cheiro e da textura do corrimento, é possível desconfiar do tipo de problema que está afetando o organismo.
Fungos (como o que causa a candidíase), por exemplo, tendem a levar a um corrimento branco e espesso, muita coceira, inflamação e uma dor moderada durante a relação sexual.
A bactéria conhecida como gonococo, causadora da gonorreia, provoca um corrimento esverdeado. Pode haver um processo inflamatório leve e dor na relação sexual.
A presença de um protozoário chamado Trichomonas vaginalis, culpado pela tricomoníase, costuma ocasionar um corrimento amarelo com odor desagradável e coceira. Enquanto a Gardnerella vaginalis, responsável pela vaginose, dá um tom acinzentado ao corrimento.
“O vírus da herpes provoca pouco corrimento, mas muita sensação de queimadura vaginal, processo inflamatório moderado e dor na relação sexual”, conta o médico da Pro Matre.
Já a clamídia culmina em um corrimento purulento, processo inflamatório leve e alguma dor na relação sexual.
Corrimento rosado pode estar ligado a um sangramento. Já o marrom pode surgir pouco antes ou depois da menstruação, e também ser um indicativo de gravidez se o ciclo estiver atrasado.
Mas é importante lembrar que esses são indicativos, e não fecham o diagnóstico automaticamente. É preciso avaliar outros sintomas e buscar um médico para ter certeza do que está provocando o corrimento anormal (principalmente se esses incômodos forem persistentes).
Quando o corrimento é considerado de repetição?
Para classificar como um evento que está se repetindo com frequência, é preciso, antes de tudo, avaliar a causa dele, segundo Olivotti.
Na maioria dos casos, quando os sintomas atrapalham a vida da mulher, e a levam ao consultório várias vezes no ano, é sinal de que está na hora de fazer uma investigação mais profunda.
Como é feito o diagnóstico do motivo do corrimento?
Uma boa conversa com o ginecologista e uma avaliação no consultório geralmente ajudam o médico a suspeitar de algumas causas específicas. Se isso não for suficiente, certos exames podem ser indicados, como a bacterioscopia e a cultura de secreção vaginal. Neles, a secreção da vagina passa por testes para a avaliação de micro-organismos presentes ali.
Para casos mais complexos, que levam a corrimentos de repetição, uma alternativa é realizar um teste genético que faz a análise da microbiota vaginal. Trata-se de uma novidade que, por enquanto, só é feita por empresas privadas. O resultado demora de 20 a 25 dias.
“Dá para fazer um diagnóstico mais efetivo, porque, além de identificar as possíveis causas do corrimento, a análise prevê algumas tendências ao apontar quais são micro-organismos mais dominantes”, explica Alessandro Silveira, microbiologista e consultor de genômica de microrganismos da Dasa Genômica, empresa que oferece o teste.
Olivotti vê com bons olhos a oportunidade de avaliar a microbiota vaginal de forma mais detalhada. “Os testes genéticos elucidam as reais relações entre os micro-organismos e os seres humanos. Além disso, abrem um campo vasto para pesquisa de novos tratamentos”, opina o médico.
Como é o tratamento dos diversos tipos de corrimentos?
Se o diagnóstico for preciso, é mais fácil indicar o tratamento correto. Entre as opções, há medicamentos de uso tópico, comprimidos orais, injeções e banhos de assento.
E, para que a encrenca não se repita, bons hábitos de higiene e alimentação são pra lá de bem-vindos. “Não adianta fazer um bom exame se a mulher não fizer mudanças de estilo de vida”, resume Larissa.
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É preciso se preocupar com corrimento durante a gravidez?
A flora vaginal sofre mudanças nesse período por influência de processos hormonais. Por isso, durante a gravidez, o conteúdo vaginal é mais abundante mesmo. Além disso, costuma ser esbranquiçado e ácido. Mas, atenção: nunca deve apresentar cheiro ruim ou gerar coceira.
Alguns corrimentos mais severos são até confundidos com o rompimento da bolsa, sobretudo no terceiro trimestre de gestação.
“Uma forma de avaliar se a perda é realmente do líquido amniótico é colocar um absorvente na calcinha ou uma fralda e observar as características do líquido”, sugere Olivotti.
Lembrando que o líquido amniótico é mais fluído, enquanto o corrimento tem consistência firme e é liberado em menor quantidade. “Sempre que houver dúvida é indicado que a gestante entre em contato com o médico obstetra para orientação”, recomenda o médico do Pro Matre.
Fontes: Caroline Goretti, ginecologista da Casa de Saúde São José, do Rio de Janeiro; Daniela Nogueira Barros Rocha, ginecologista e obstetra da Clínica First, em São Paulo; Larissa Cassiano, ginecologista e obstetra, de São Paulo; Lucas Olivotti, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista