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10 fatores de risco para o AVC

Fugir deles aliviaria dramaticamente os índices do segundo problema de saúde que mais causa estragos no planeta - e de seus sintomas limitantes

Por André Biernath
Atualizado em 14 fev 2020, 18h28 - Publicado em 30 mar 2017, 08h50
Quais as causas do derrame
O AVC não tem só uma causa. Longe disso. (iS/iStock)
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Você está prestes a conhecer o maior e mais importante roteiro sobre como evitar um acidente vascular cerebral (AVC) – e seus sintomas – já elaborado até agora. É assim que pode ser definido o InterStroke, estudo publicado no renomado periódico científico The Lancet.

Capitaneado pela Universidade McMaster, no Canadá, ele reúne informações de 26 mil pessoas de 32 nações diferentes – incluindo o Brasil. Metade dos indivíduos analisados chegou ao hospital após sofrer o entupimento ou o rompimento de um vaso sanguíneo que irriga a cabeça. A outra parcela, por sua vez, não passou por esse baque e serviu de base para a comparação dos resultados.

A primeira conclusão a chamar a atenção: 90% dos casos de AVC não ocorreriam se controlássemos dez fatores que lesam as artérias cerebrais (pressão alta, tabagismo, diabetes…). Se isso fosse seguido à risca, o número de atingidos todos os anos no mundo cairia de 15 milhões para 1,5 milhão. Só em nosso país reduziríamos em 450 mil episódios a taxa anual de eventos do tipo. É o equivalente a salvar a cada 12 meses um contingente similar à população de Florianópolis, em Santa Catarina.

O derrame disputa com o infarto a cabeceira no inglório ranking das doenças que mais matam em todo o globo. Como se não bastasse, aqueles que sobrevivem ao ataque convivem com uma série de limitações, como dificuldades para falar e se locomover. “Precisamos implementar com urgência as medidas de controle sobre esses dez fatores de risco”, afirma o cardiologista Álvaro Avezum, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e coordenador do InterStroke em terras brasileiras. A seguir, você confere detalhes e orientações em relação a cada um dos agentes promotores do AVC. Evitá-los é primordial para garantir vida longa e funcional ao cérebro.

1) Hipertensão

Se controlada, diminuiria as taxas de AVC em 47,9%

Ela é disparado o fator de risco campeão. Ajustar a pressão já faria cair ao meio as estatísticas de AVC. “A hipertensão desgasta e provoca lesões nas paredes dos vasos”, explica o médico Marcus Malachias, presidente daSociedade Brasileira de Cardiologia. Imagine uma mangueira submetida por um bom tempo a uma pressão de água forte. Concorda que uma hora ela vai corroer e rasgar? Pois é algo parecido o que acontece com as artérias do cérebro. “Para piorar, 90% dos hipertensos não apresentam sintomas e só 20% deles estão com os níveis de pressão equilibrados”, alerta Malachias.

O que você pode fazer

  • Não exagere no sal.
  • Capriche no consumo de vegetais.
  • Verifique a pressão de tempos em tempos.
  • Se for diagnosticado com hipertensão, tome direitinho os medicamentos prescritos.
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2) Sedentarismo

Se controlado, diminuiria as taxas de AVC em 35,8%

Ficar parado por muito tempo é péssimo para a saúde como um todo. O desdobramento imediato do sedentarismo é o acúmulo das calorias dos alimentos. Isso vai desembocar em ganho de peso, hipertensão, diabetes… Já percebeu onde vamos parar, não é? Na contramão, investir numa rotina de atividade física impede esse turbilhão de complicações e, mais importante, tem efeito direto no sistema vascular. “Quem se exercita com regularidade se beneficia com a produção de substâncias que evitam a formação de placas de gordura e aumentam a capacidade de o vaso contrair e relaxar”, justifica a neurologista Gisele Sampaio, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista.

O que você pode fazer

  • Escolha um esporte que lhe dê prazer.
  • Crie uma programação semanal de treinos.
  • Busque suporte de profissionais de educação física para ter orientações.
  • Se persistência for seu fraco, forme grupos para suar a camisa. Assim um anima o outro.

3) Colesterol alto

Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 26,8%

“O LDL e os outros tipos do colesterol ruim são os principais responsáveis pelo surgimento de placas que obstruem os vasos”, avisa o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor da Unidade Clínica de Lípides do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Segundo o médico, ainda restavam poucas dúvidas sobre o papel do excesso de gorduras na probabilidade de um AVC dar as caras – e a nova publicação acaba com qualquer inquietação. Curiosamente, os estudiosos não mediram no trabalho o LDL e o HDL dos voluntários. Eles preferiram usar a diferença entre a apolipoproteína B (ApoB) e a apolipoproteína A1 (ApoA1), partículas de proteína ligadas ao colesterol (entenda as razões à direita).

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O que você pode fazer

  • Maneire nos alimentos gordurosos ou cheios de açúcar.
  • Faça checkups para ver a quantas anda o seu colesterol todos os anos.
  • Se o médico decidir lançar mão de remédios como as estatinas para abaixar os níveis, siga rigorosamente o tratamento.

4) Dieta ruim

Se controlada, diminuiria a taxa de AVC em 23,2%

Junto com a atividade física, a alimentação constitui o pilar fundamental de uma vida saudável. “Alguns nutrientes, como o ômega-3 dos peixes e das nozes, têm ação nas artérias, preservando-as de processos inflamatórios e da formação de coágulos”, exemplifica a nutricionista Rosana Perim, do Hospital do Coração, em São Paulo. O estudo tomou como base de uma dieta ideal o Alternate Healthy Eating Index, roteiro criado nos Estados Unidos que traz recomendações gerais de nutrição. pra conferir as suas premissas à direita.

O que você pode fazer

O novo guia separa em três partes as diretrizes alimentares

Consumir seis componentes com frequência:

  • Verduras
  • Frutas
  • Grãos integrais
  • Castanhas
  • Legumes
  • Ômega-3
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Usufruir de um item de forma moderada:

  • Álcool

Ingerir com muita moderação:

  • Bebidas açucaradas
  • Carne vermelha e processada
  • Gordura trans
  • Sódio

5) Obesidade

Se controlada, diminuiria a taxa de AVC em 18,6%

Os quilos extras andam de mãos dadas com hipertensão, colesterol nas alturas, diabetes… “Fora que a obesidade central, quando a gordura se acumula na região da barriga, é particularmente nociva porque libera substâncias perigosas para as artérias”, informa Malachias. No InterStroke, para saber se um voluntário estava acima do peso, foi levada em conta a relação cintura-quadril, uma medida simples e fácil de ser feita. “Ela é mais fidedigna que o popular índice de massa corporal, o IMC”, compara Malachias.

O que você pode fazer

  • Aprenda a calcular sua relação cintura-quadril: com uma fita métrica, meça o diâmetro de sua cintura, perto da altura do umbigo. Repita o procedimento para obter o tamanho do quadril, nas nádegas. Divida o primeiro valor pelo segundo. Números maiores que 0,8 para mulheres e 0,9 para homens são sinal de encrenca. Atenção: as brasileiras costumam ter o quadril largo, o que confundiria os prognósticos.
  • Se preciso, peça ajuda de um expert para emagrecer.
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6) Estresse

Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 17,4%

Tensão exacerbada e transtornos como ansiedade e depressão figuram em sexto lugar no ranking dos malfeitores. “O InterStroke considerou como o estresse abala o sujeito em quatro domínios: família, sociedade, trabalho e finanças”, descreve Avezum. A partir de entrevistas, os autores chegavam à conclusão de como se encontrava o bem-estar mental de cada um. Isso é significativo porque há uma relação direta entre nervosismo constante e alterações circulatórias capazes de gerar uma pane cerebral. “No sentido contrário, quem é espiritualizado e calmo possui um risco menor de enfrentar o problema”, nota Sheila Martins. Motivo extra para descansar e esfriar a cabeça de uma vez por todas.

O que você pode fazer

  • Reserve um horário de seu dia para fazer coisas que deem prazer e alegria.
  • Não consegue se desligar? Que tal apostar em técnicas como a meditação e o mindfullness?

7) Tabagismo

Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 12,4%

Eis um vilão antigo e que ainda cobra campanhas. O cigarro lesa a camada interna dos vasos, deixa os tubos sanguíneos mais estreitos e acelera o aparecimento de placas de gordura – quadro propício para infartos e AVCs. “Felizmente, o hábito de fumar vem diminuindo bastante no Brasil nos últimos anos, graças ao movimento de conscientização e às novas leis”, comemora Sheila.

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O que você pode fazer

  • Existem diversos métodos e até remédios que auxiliam a largar o vício.
  • Elabore uma lista com fatos decisivos para desistir do tabaco. Assim, fica mais fácil resistir se vier a tentação de voltar.
  • Grupos de apoio apaziguam as aflições da abstinência.

8) Doenças cardíacas

Se controladas, diminuiriam a taxa de AVC em 9,1%

A arritmia, distúrbio em que as batidas do coração ficam fora de ritmo, um incentivo danado para o surgimento de coágulos. “E, algumas vezes, eles viajam até o cérebro e causam AVC”, relata o neurologista Márcio Bezerra, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Para evitar essa repercussão, pessoas diagnosticadas com a condição necessitam engolir alguns comprimidos, como anticoagulantes.

O que você pode fazer

  • Visite o cardiologista de tempos em tempos. Um simples eletrocardiograma é suficiente para flagrar arritmias.
  • Uma vez que a falha no peito é detectada, converse com o doutor sobre os recursos terapêuticos disponíveis.

9) Alcoolismo

Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 5,8%

“Em pequenas quantidades diárias, o que significa no máximo uma taça de vinho, as bebidas levam a um relaxamento dos vasos”, adianta Rosana Perim. Se exceder no álcool, porém, -lhe encrenca. “As artérias ficam mais apertadas e rígidas, o que dificulta e até trava o transporte de nutrientes”, completa a nutricionista. O recado, mais uma vez, é moderação: fique esperto e nada de abusar dos drinques. Caso não tenha o costume de beber, não há necessidade de criar o hábito pensando em saúde.

O que você pode fazer

  • Maneire nas doses
  • Se for o caso, converse com um profissional

10) Diabetes

Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 3,9%

O relato dos participantes e o exame de hemoglobina glicada (que mostra a variação nas taxas de açúcar de três meses)serviram para determinar quem era diabético. Mas a influência desse problema no risco de AVC ficou abaixo do esperado, o que gerou estranheza. “Sabemos que o diabetes faz subir o risco de lesões nos vasos, mas talvez seu peso seja inferior ao da pressão e do colesterol”, reflete o cardiologista Otavio Gebara, diretor médico do Hospital Santa Paula, na capital paulista.

O que você pode fazer

  • Seja comedido nos doces e nos carboidratos em geral.
  • Adotar uma vida ativa mantém a glicose dentro dos parâmetros saudáveis.
  • A glicemia de jejum precisa sempre estar menor que 99 mg/dl. Entre 100 e 125 mg/dl é pré-diabetes. Acima de 126 mg/dl já se instalou a doença.
  • Se for diabético, monitore a glicemia e siga o esquema terapêutico.

O papel do ambiente

Outro estudo de peso recém-publicado no The Lancet foi o Global Burden Disease, que fez uma análise da mortalidade de uma série de enfermidades pelo mundo. E os dados apontam que 29% dos casos de AVC são atribuíveis à poluição. De 1990 a 2013, houve um aumento de 33% na atuação das partículas tóxicas como estopins de derrames. O combate à poluição é crucial inclusive à saúde pública.

Como socorrer alguém que teve um derrame?

A dica é ficar atento aos sinais. “Entre eles, destacam-se perda de força e dormência nos membros, dificuldade para enxergar ou se comunicar, tontura, falta de equilíbrio e dor de cabeça súbita e insuportável”, enumera a neurologista Sheila Martins, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Se você notar alguns deles, ligue para o serviço de emergência. O atendimento rápido poupa vidas e a maioria das sequelas graves.

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