Adenomiose: o que é, quais são os sintomas, causas e tratamentos
Condição ginecológica pode aparecer junto com endometriose. Cólicas fortes, alterações menstruais e infertilidade são sinais do problema

Cólicas intensas, dor pélvica, sangramento menstrual intenso e prolongado e infertilidade. Eis os principais sinais da adenomiose, uma condição ginecológica pouco conhecida, mas muito frequente entre mulheres em idade fértil.
Para entender o que é a doença, é preciso conhecer o útero. O órgão pode ser dividido em três camadas: a serosa, parte mais externa do órgão; o miométrio, parte intermediária que abrange a musculatura; e o endométrio, parte interna que é composta por um tecido que passa por muitas mudanças ao longo do ciclo menstrual e é descamado durante a menstruação.
“A adenomiose ocorre quando o endométrio infiltra a camada muscular do útero [o miométrio], causando problemas como aumento anormal do órgão, inflamações e sintomas dolorosos às mulheres”, explica Patrick Bellelis, ginecologista e doutor em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Entenda como a condição pode estar associada a outros problemas de saúde, como ela se manifesta e quais são as suas formas de diagnóstico e tratamento.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppAdenomiose ou endometriose?
Uma série de doenças podem estar associadas a alterações no endométrio. Entre elas, as mais comuns são a endometriose e a adenomiose.
“São condições distintas e independentes, mas, não raro, observamos elas ocorrerem simultaneamente em muitas mulheres”, afirma Bellelis, que também é professor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês (SP) e do Instituto de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia Robótica do Hospital de Amor (SP).
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Estudos calculam que até 80% das mulheres diagnosticadas com endometriose convivem também com adenomiose. “Costumamos dizer que são ‘doenças irmãs’, pois é muito comum aparecerem em conjunto”, afirma o médico.
Ainda assim, tratam-se de condições diferentes. “A endometriose é caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio fora do útero (nos ovários, nas tubas uterinas, na bexiga, no intestino, entre outras partes do corpo, principalmente no abdômen). Já a adenomiose é marcada pela presença de endométrio na musculatura do útero”, diferencia Bellelis.
Ou seja, uma não é “evolução” da outra.
Sintomas de adenomiose
A doença pode ser assintomática ou, então, provocar sintomas dolorosos que prejudicam a qualidade de vida e fertilidade da mulher. Confira os principais:
- Alterações no ciclo menstrual (como o aumento do fluxo e da duração do período menstrual);
- Dor pélvica (cólicas menstruais intensas e dores fora do período menstrual, bem como sensação de pressão ou pontadas na região);
- Dor na relação sexual (especialmente após o orgasmo, quando o útero se contrai);
- Infertilidade.
A adenomiose pode prejudicar a implantação embrionária, mas hoje há formas de fazer a fertilização e contornar essa complicação da doença. Mulheres com menos de 35 anos devem procurar ajuda médica caso não consigam engravidar após 12 meses de tentativas.
A partir dos 35, deve-se suspeitar de infertilidade após seis meses sem sucesso.
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Causas e fatores de risco
As causas da adenomiose são desconhecidas, mas o desenvolvimento da doença está relacionado a diversos fatores de risco, como predisposição genética, histórico familiar, idade e presença de endometriose e miomas.
“Antes, considerava-se que a adenomiose era mais comum entre mulheres acima dos 40 anos e que tiveram muitos filhos, mas hoje já sabemos que o perfil da paciente é mais amplo, incluindo também as mais jovens e que nunca engravidaram”, afirma Bellelis.
Aquelas que possuem cicatrizes uterinas, como as de cesariana, também podem ter maior risco de desenvolver a doença.
Diagnóstico
“Uma boa consulta, anamnese e exame físico são essenciais”, defende o ginecologista. “Aqueles que realmente ouvem as queixas da paciente conseguem melhorar muito o raciocínio e a busca pelo diagnóstico correto.”
Além do exame clínico, exames de imagem também são necessários para fechar o diagnóstico. Os mais utilizados são a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética.
O ultrassom é um exame barato e de fácil acesso no sistema de saúde. “Quando feito com cautela e no tempo certo, é muito eficaz para rastrear a doença”, diz Bellelis. Já a ressonância magnética é um exame mais caro e que não está disponível em qualquer unidade de saúde. “Mas traz informações mais fidedignas sobre as lesões e tem maior acurácia.”
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Tratamentos
O tratamento da adenomiose pode ser feito a base de medicamentos ou de forma cirúrgica.
O uso de pílulas contraceptivas ou de DIU hormonal é essencial, já que a doença é bastante influenciada pelas mudanças hormonais ocorridas ao longo do ciclo menstrual. A escolha por um anticoncepcional ou outro deve ser discutida com a paciente a partir de suas preferências e possíveis contraindicações.
Além disso, podem ser receitados anti-inflamatórios e analgésicos para controlar as dores e inflamações provocadas pela doença.
Os remédios são capazes de controlar os sintomas de adenomiose, mas não há nenhum que cure a condição.
O tratamento definitivo para este problema de saúde é a histerectomia, isto é, a retirada do útero. No entanto, a solução só deve ser considerada caso a paciente não queira mais ter filhos e não responda às medicações.
Outras abordagens estão sendo desenvolvidas para dar maior qualidade de vida às mulheres com adenomiose. Uma delas é a adenomiomectomia, ou seja, a retirada de lesões da doença que busca preservar o útero, permitindo que as mulheres continuem menstruando e possam gestar.
“Essas técnicas, porém, ainda são consideradas experimentais, mas espera-se que, em um futuro próximo, aquelas que querem ter filhos e não sentem benefício algum com os medicamentos possam ter mais essa opção”, esclarece Bellelis.
Para aquelas que querem engravidar e não conseguem, técnicas de reprodução assistida ajudam a superar a infertilidade.