A febre amarela monopolizou o noticiário no início de 2018. Mas o maior surto dessa doença em décadas não deveria ser a única preocupação dos brasileiros com relação a vírus e bactérias. Conheça os inimigos que podem voltar a nos assombrar. Confira:
1) Febre amarela
O ano 2000 liderava o ranking de mortes por esse problema desde 1980, quando o governo começou a notificar os casos. Foram 40 óbitos. Eis que, em 2017, somamos 262 – e só de julho a 6 de março de 2018, pelo menos 260 brasileiros perderam a vida.
E uma história recente nos faz entender por que estamos onde estamos. Pouco antes da explosão de febre amarela em Minas Gerais no fim de 2016, Kênia Moreira, coordenadora de Vigilância em Saúde da cidade de Franciscópolis (MG), soube que macacos estavam morrendo ali (primatas hospedam o vírus, que, nas matas, é transmitido pelos mosquitos Sabethes e Haemagogus). Ela foi rápida: informou os superiores e vacinou a população.
Quando o vírus saiu nos jornais, todas as cidades vizinhas a Franciscópolis sofreram. Já o município de Kênia, cuja maioria dos 6 mil habitantes reside em zonas rurais, passou incólume.
“Do desmatamento à ocupação de locais perto de florestas, teorias tentam explicar por que a doença se intensificou”, diz a pediatra Flávia Bravo, gerente do Centro Brasileiro de Medicina do Viajante. “Mas, com uma alta cobertura vacinal em áreas de risco de transmissão, isso não ocorreria”, conclui.
O imunizante é recomendado para quem vive ou vai a tais locais. A questão-chave: você sabe quais são eles? Veja aqui. “Eu mesma só tomei a dose aos 18 anos, quando fui para fora do país. Mas passei a adolescência visitando Minas Gerais, uma região de risco”, lembra Flávia.
Com o clima de desespero e as campanhas, os postos de saúde encheram em dado momento. Porém, Franciscópolis ensina que a vacina é mais efetiva quando usada preventivamente, fora dos surtos.
Como evitar: a vacinação é a forma mais eficaz. Diante de contraindicações, repelentes são úteis contra o vetor.
Sintomas: febre alta, dores, pele e olhos amarelados. Cerca de 20% dos infectados têm males graves, como insuficiência hepática.
Como tratar: não há remédio específico. Repouso, hidratação e manejo das complicações no hospital são indicados.
2) Dengue, zika e chikungunya
“Enquanto só esperarmos o inverno afastar essas doenças transmitidas por mosquitos, continuaremos sujeitos a epidemias frequentes”, alerta o virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Traduzindo: não podemos mais acreditar que a redução de episódios no meio do ano sinalize uma trégua permanente ou uma conquista do governo.
O clima frio e seco sempre vai enxugar os reservatórios de água parada e acalmar o Aedes aegypti, o principal vetor de dengue e companhia. Porém, assim que essa estação vai embora, o calor e as chuvas atiçam o inseto, varrendo os discursos das autoridades.
A bem da verdade, os números de dengue, zika e chikungunya caíram – o primeiro desceu de 1 483 623 casos em 2016 para 252 054 em 2017. Mas não dá pra baixar a guarda, porque as oscilações são naturais.
Segundo o infectologista Stefan Cunha, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, não adianta tentarmos exterminar o mosquito. “É impossível erradicá-lo com a tecnologia de hoje, tamanha a urbanização. Temos de combater a proliferação”, defende. De janeiro a dezembro, descarte redutos de água parada e minimize o contato com o Aedes (use repelentes, telas…), ainda mais em lugares com surtos.
Como evitar: não dê sopa para o mosquito.
Sintomas da dengue: febre alta, dor de cabeça, fraqueza. A doença pode matar.
Sintomas do zika: manchas e febre baixa. Grávidas correm maior risco de ter filhos com microcefalia.
Sintomas do chikungunya: febre e dor articular, que às vezes perdura por meses.
Como tratar: o doutor medica os sintomas e espera o corpo reagir.
3) Hepatite A
As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro padeceram faz pouco com surtos dessa doença que vitima o fígado. No Morro do Vidigal, pelo menos 80 cariocas foram infectados ao beberem água de um poço, de garrafas vendidas em uma loja ou de um chuveiro de praia. É que o vírus se infiltra quando ingerimos resquícios de fezes contaminadas, algo comum na falta de saneamento.
Já a capital paulista registrou 604 ocorrências de janeiro a outubro de 2017, ante 57 no mesmo período de 2016. Entre as vítimas, 80% possuíam de 18 a 39 anos e eram do sexo masculino. “Também há uma disseminação entre homens que fazem sexo com homens, algo já observado na Europa”, alerta Jessé Alves, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Durante a relação, vestígios de fezes podem entrar em contato com a boca. A camisinha ajuda, porém o ideal é se vacinar contra a hepatite A.
Como evitar: vá atrás da vacina e fique longe de água ou comida sujas.
Sintomas: fadiga, enjoo, dor de barriga… Os casos graves, ainda que raros, cobram transplante de fígado e podem matar.
Como tratar: recomenda-se repouso e controle dos sintomas.
4) Sífilis
As doenças sexualmente transmissíveis vinham sendo encaradas como pesadelos do passado. Pois não são… e a sífilis, causada pela bactéria Treponema pallidum, deixa isso claro.
Um boletim do Ministério da Saúde aponta que, em 2014, 25 a cada 100 mil brasileiros sofriam com esse chabu. Dois anos depois, a taxa escalou para 43 a cada 100 mil habitantes.
Essa infecção atinge mulheres e homens – até um pouco mais os marmanjos, na realidade -, está espalhada no país inteiro e desencadeia de feridas na vagina ou no pênis a AVC, cegueira e morte. Um cenário talvez mais triste seja o da chamada sífilis congênita, quando a bactéria passa da gestante para o feto e eleva o risco de aborto, deformidades e deficiência mental. Não menos do que seis a cada mil bebês nascidos vivos no Brasil acabam falecendo em decorrência desse mal. No Rio de Janeiro, o índice supera 18 mortes a cada mil crianças.
“Claro que devemos incentivar a prevenção por meio do sexo seguro”, introduz a infectologista Carolina Lázari, do Fleury Medicina e Saúde. “Só que o diagnóstico precoce também é vital. Se pegarmos a sífilis no começo com um simples exame de sangue, é possível interromper parte dos danos”, arremata. Não à toa, o governo recomenda que toda grávida se submeta ao teste.
Como evitar: bote a camisinha. Fácil assim.
Sintomas: no primeiro estágio, irrompem feridas na genitália. Depois de duas a oito semanas, não raro surgem febre e lesões na pele. Complicações sérias, como paralisia, AVC e cegueira, às vezes aparecem até anos depois.
Como tratar: antibióticos dão conta do recado.
5) Gripe
A atual epidemia do vírus Influenza nos Estados Unidos – é inverno e, logo, temporada de gripe no Hemisfério Norte – preocupa especialistas por aqui. “Brasileiros viajam para lá e basta o contato com um infectado para trazer a doença”, argumenta a pediatra Flávia Bravo.
O vaivém global inclusive é uma das hipóteses para explicar as quase 2 mil mortes em 2016 por H1N1, um subtipo do Influenza A, no nosso país. Esse agente teria pegado carona em viajantes no início daquele ano e, alastrando-se antes da campanha de vacinação, provocou um ataque-surpresa.
A melhor prevenção é a imunização anual, em especial nos grupos de risco. São as crianças, os idosos, gente com doença crônica… A má notícia: após a campanha de 2017, só cerca de 60% dessa turma havia tomado a injeção, bem abaixo dos 80% preconizados. Que isso não se repita em 2018.
Como evitar: a vacina é uma excelente saída – e mesmo quem não integra o grupo de risco se beneficia. Cuidados como lavar as mãos e não ficar perto de gente com gripe também ajudam.
Sintomas: febre, tosse, coriza, indisposição.
Como tratar: os experts apaziguam os sintomas e podem lançar mão de antivirais.
6) Sarampo
Por que se preocupar com uma chateação que raramente dá o ar da (des)graça no Brasil? Porque nações como Itália, Alemanha e Venezuela vivenciaram surtos faz pouco por relaxarem na aplicação das vacinas.
“O sarampo já foi uma das grandes causas de mortalidade infantil no Brasil”, lembra Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim). “Ele é facilmente transmitido ao tossirmos ou espirrarmos”, adverte.
Como prova, voltemos para 2005, quando o surfista Fábio Gouveia viajou para as Maldivas e contraiu o vírus. Num voo subsequente, ele o passou a seu empresário, que o transmitiu a um comerciante em Santa Catarina. Em casa, o filho de Fábio foi infectado. Outra criança também caiu de cama com sarampo… e contagiou o irmão.
Tudo porque o pediatra do surfista não o vacinou alegando que a injeção faria mal. Balela! O surfista só não originou uma epidemia porque o Brasil era e ainda é um exemplo de boa cobertura vacinal. Continuemos assim!
Como evitar: obedeça o calendário de vacinação infantil. Caso não saiba se tomou suas doses, vá ao posto.
Sintomas: manchas no corpo, coceira, conjuntivite, febre.
Como tratar: é outra doença sem um fármaco específico. O médico vai receitar hidratação e tentar lidar com as manifestações do paciente.