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Por que nem toda gestante com zika tem filhos com microcefalia

As complicações dessa infecção não são aleatórias. Segundo uma pesquisa brasileira, elas têm muito a ver com a genética de cada bebê

Por Bruno Vaiano (da Superinteressante)
Atualizado em 9 set 2019, 10h37 - Publicado em 14 fev 2018, 16h22

Nem toda grávida com zika dá a luz a bebês com microcefalia – ou outros problemas congênitos, como surdez e cegueira. De fato, só entre 6 a 12% dos bebês de mães que têm o vírus nascem com malformações.

Esse número levou Mayana Zatz, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), a levantar a hipótese de que o zika, sozinho, não basta – os genes de cada criança também teriam alguma responsabilidade, tornando-as mais ou menos predispostas a nascer com microcefalia.

Acertou: em um estudo publicado no períodico Nature Communications, ela e sua equipe listam um grupo de 60 genes que, nos pequenos afetados, não produzem tantas proteínas quanto deveriam – no jargão, se diz que sua expressão é reduzida. Em outras palavras, 60 genes mais suscetíveis ao vírus que a média.

Fazer uma descoberta dessas não é fácil, porque não dá para simplesmente comparar dois bebês. Afinal, mães diferentes têm sistemas imunológicos diferentes, gestações diferentes e podem até ter sido infectadas por linhagens um pouquinho diferentes do zika. Com tantas variáveis em jogo, fica difícil isolar o quê pode ser atribuído exclusivamente ao DNA de cada criança.

A melhor forma de evitar esse empecilho é comparando gêmeos não-idênticos. Isto é, eles não possuem o mesmo DNA, mas compartilharam todo o resto: a mesma barriga, o mesmo ambiente e até, em caso de infecção, o mesmo vírus. Assim, se um deles nasce com microcefalia e o outro não, a única explicação estaria nos genes.

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O estudo em si

“Nós averiguamos noves pares de gêmeos, e conseguimos material genético de oito”, contou ela, à SUPER. “Viajamos pelo Brasil todo e trouxemos até alguns gêmeos ao laboratório, para coletar o sangue nas melhores condições possíveis.” Desses voluntários, dois eram idênticos – produzidos a partir da divisão de um único óvulo, já fecundado. Os outros sete eram fraternos, gerados cada um a partir de um óvulo. Todos haviam sido expostos ao zika durante a gestação.

O próximo passo foi levar o sangue dessas crianças para o laboratório. Ele foi usado para gerar as chamadas células progenitoras neurais (NPCs). As NPCs são os tijolos de que é feito nosso sistema nervoso. Conforme o feto se desenvolve, elas vão se deslocando, se especializando e formando diferentes partes do cérebro. É aí que o vírus atua – evitando que essas células se reproduzam e se diferenciem corretamente.

Zatz criou colônias dessas células, chamadas neuroesferas. Cada uma de um bebê. E as expôs ao vírus. “Logo de início nos chamou a atenção o fato de que o vírus se replicava muito mais rapidamente nas NPCs dos bebês com microcefalia”, afirmou a pesquisadora.“Além disso, essas células se proliferavam menos e morriam mais que as dos bebês não afetados. Parece que conseguimos reproduzir in vitro o que ocorreu in vivo”, completa.

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Daí em diante, os experts identificaram dezenas de genes associados a uma maior resistência contra os estragos do zika. Dois dos principais se chamam DDIT4L e LHX2, e se expressam respectivamente 12,6 e 9,6 vezes menos nos bebês afetados. Eles estão vinculados a processos de divisão de células, morte de células e sua diferenciação.

De maneira simplificada, quando eles não atuam com a eficiência necessária, ficaria mais difícil para o embrião desenvolver um cérebro perfeito. O vírus faz esse problema se manifestar – da mesma maneira que uma pessoa com histórico familiar de diabetes se põe em risco quando não tem uma dieta equilibrada.

Se um dia for desenvolvida uma vacina contra o zika, saber identificar os genes suscetíveis pode garantir que as pessoas certas serão imunizadas. E, eventualmente, serve até como pontapé inicial para eventuais tratamentos contra o vírus e suas complicações.

Este conteúdo foi publicado originalmente na Superinteressante.

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