Longevidade: promessas do futuro versus a realidade brasileira
Dos smartwatches ao biohacking, o que realmente faz sentido para quem desejam viver mais?
A imortalidade ou, no mínimo, uma vida longa e próspera, sempre permeou o imaginário da humanidade. Com o passar do tempo e os avanços tecnológicos, no entanto, viver mais e melhor foi deixando de ser um sonho para se tornar mais do que uma possibilidade: uma meta.
Não mais um vislumbre de poetas e artistas, mas um objeto de estudo e trabalho para a ciência, a medicina e diversos setores, como o de alimentos e o farmacêutico.
É sua meta também? Se sim, é provável que tenha sido impactado por algumas “futurices” da tal nutrição integrativa ou do biohacking, ou por novas tecnologias, como testes de genômica, que estão moldando o futuro do bem-estar e revolucionando a maneira como cuidamos de nós mesmos.
Inovação para todos os lados
Decerto potencializadas pela pandemia de covid-19, soluções digitais vêm sendo desenvolvidas e implementadas desde a década de 60. O exemplo mais difundido do conceito são as teleconsultas.
Pensa no tanto de oportunidade gerada para aqueles que têm mobilidade reduzida ou moram em áreas remotas? Até mesmo você já deve ter aderido. Ou já deve ter feito algum mapeamento genético, testes de microbioma ou imunoma.
Inovações nem tão recentes, desde 2000 pra cá, os dispositivos vestíveis — como são chamados os smartwatches e rastreadores de atividades físicas — monitoram sinais vitais e hábitos dos usuários em tempo real. Com esses dados reunidos, você ou o seu profissional de saúde podem ter insights valiosos para aquele empurrãozinho rumo a um estilo de vida mais saudável. Está registrando tudo?
+Leia também: Um relógio para monitorar sua saúde
Há pouco tempo, já em 2021, uma startup americana criou um capacete capau um capacete capaz de “ler a mente” dos usuários. Ok, não é bem um tipo de telepatia, mas, segundos seus inventores, os eletrodos conseguem entender comportamentos gerais, como concentração, excitação ou cansaço, por meio da atividade dos neurônios.
De quebra, a leitura dos dados ainda vem sendo usada para estudar o envelhecimento do cérebro e possíveis tratamentos de doenças e distúrbios mentais, como o Alzheimer.
Quando falamos em inovação, não podemos deixar de fora, claro, a chegada avassaladora da inteligência artificial e seu impacto em nossas vidas. A capacidade da IA de analisar dados rapidamente permite a identificação cada vez mais antecipada de doenças das mais variadas, além de viabilizar tratamentos personalizados para cada caso.
A VEJA SAÚDE já fez matérias sobre a possibilidade de uso dessas tecnologias para fazer exames que detectam Alzheimer e câncer.
Otimização da saúde tem limites
Todas essas ferramentas podem otimizar o corpo, na busca por saúde e bem-estar – o que é exatamente a ideia por trás do biohacking. Se você não sabe ainda sobre o que se trata, imagine o biohacking como um manual de instruções do seu organismo.
É como se você tivesse um conjunto de ferramentas para avaliar, monitorar e otimizar cada parte da sua natureza biológica, desde a sua alimentação até o seu sono. O conceito é antigo, inclusive fazem parte dele o jejum intermitente, os exercícios de alta intensidade e a – pasme – meditação.
A questão é que os avanços tecnológicos recentes, como os que citamos, estão trazendo novas perspectivas para gestão da nossa saúde, fazendo com que a busca pela longevidade vá, em alguns casos, longe demais, se tornando uma obsessão.
Um belíssimo exemplo disso é o empresário Bryan Johnson. Multimilionário, o norteamericano de 45 anos foi notícia ano passado ao desembolsar US$ 2 milhões para voltar a ter 18 anos. Para isso, ele ingere diariamente dezenas de comprimidos, suplementos e
vitaminas, além de ter passado por uma transfusão de sangue usando uma doação do filho adolescente.
Suplementos podem ser utilizados em alguns cenários, mas exagero nenhum faz bem!
Tecnologia x humanidade
Ainda não sabemos se um dia alcançaremos a eternidade, mas o que proponho é refletirmos sobre o impacto da tecnologia na trajetória humana sobre a Terra.
Como uma grande entusiasta das inovações baseadas na associação entre natureza, ciência e tecnologia (vale estudar as artes de Gaudí) afirmo: o futuro é ancestral com uma dose de biotecnologia.
No entanto, para o tal futuro da personalização, também concordo com a calculadora que conheci na Singularity University, na Califórnia, nos Estados Unidos, em uma missão com executivos: é ínfima a chance de a máquina substituir os profissionais de saúde que trabalham com a peculiar arte de entender os sentimentos e pensamentos de seus pacientes.
Não há IA capaz disso. E, mais uma vez, viva a nutrição comportamental!
A busca por uma vida longa e saudável é legítima, mas precisa ser guiada por uma perspectiva equilibrada, realista e alinhada com os desafios do nosso tempo. A nutrição integrativa, a medicina personalizada e o uso consciente das novas tecnologias são recursos valiosos, mas devem ser utilizados com cautela, sempre respeitando os limites naturais do nosso corpo.
Afinal, nutrir futuros não é apenas sobre prolongar a vida, mas sobre garantir que ela seja plenamente vivida em cada uma de suas fases. Vamos envelhecer bem?