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A importância de medir o colesterol também em crianças

O descontrole nas taxas de colesterol não é problema exclusivo dos adultos. Médica conta os perigos de não flagrar a situação na infância

Por Maria Cristina Izar, cardiologista*
Atualizado em 30 set 2021, 10h43 - Publicado em 8 ago 2021, 11h12

Histórico familiar, obesidade, baixo nível de atividade física, alimentação rica em açúcar e gorduras: esse pode ser o cenário perfeito para a dislipidemia ou colesterol alto, doença muitas vezes negligenciada quando falamos em crianças e adolescentes. E a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) deseja dar relevância ao tema.

Equivocadamente, ao mencionarmos “colesterol alto”, muita gente logo pensa em patologias “de adultos”, quando, na verdade, a ocorrência da síndrome nas primeiras fases da vida é bastante significativa.

De acordo com o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), a presença de dislipidemia é uma realidade para 30 a 40% das crianças e adolescentes brasileiros. Daí a importância de se dosar o colesterol desses grupos.

As causas por trás do quadro nos mais jovens são semelhantes às observadas nos adultos. Mas, na infância, as manifestações chamadas primárias, derivadas de fatores genéticos, devem ser lembradas. Um exemplo é a hipercolesterolemia familiar (HF), quando um dos pais apresenta colesterol excessivamente elevado. Esta forma é considerada mais grave e de maior risco de morte antes da fase adulta.

Já os agentes secundários para o colesterol alto são as dietas ricas em gorduras ou sem valor nutricional, obesidade e sedentarismo, distúrbios renais e na glândula tireoide, além de doenças como diabetes. O uso de certas medicações, como diuréticos e corticoides, também pode favorecer a subida do colesterol.

Cabe ressaltar que a obesidade, o sedentarismo e o diabetes afetam mais as concentrações de triglicérides, presentes em todas as lipoproteínas circulantes – e estas se associam à resistência à insulina, depósito de gorduras no fígado, acúmulo de gordura no abdômen e principalmente nas vísceras.

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+ Triglicérides: o que é, quais os riscos e como baixar

A exposição a níveis lipídicos elevados desde o nascimento implica em uma carga acumulada, que tende a antecipar ou agravar a ocorrência de doenças cardiovasculares. Por isso, essa é uma realidade que precisa ser conhecida para que os responsáveis busquem fazer exames nas crianças, principalmente em filhos de pais que já tiveram eventos cardiovasculares ou registro de colesterol alto.

O recomendado é que a dosagem do perfil lipídico ocorra a partir dos 10 anos, de maneira geral. Porém, quando houver história familiar precoce para aterosclerose (como o infarto ou o acidente vascular cerebral), algum fator de risco cardiovascular ou sinal clínico compatível com dislipidemias primárias graves em crianças menores, a dosagem do perfil lipídico deve acontecer a partir dos 2 anos.

Aliás, a prevenção da aterosclerose é mais eficaz na infância e na adolescência. Há evidências, baseadas em análises de aortas e artérias coronárias, de que esse problema começa na idade fetal. Mas estudos mostram que a regressão pode ocorrer na própria infância, com um tratamento adequado.

Tal pai, tal filho

O chamado “rastreamento em cascata”, a partir de pessoas que já têm o colesterol alto e uma dislipidemia de base genética, consiste em monitorar familiares de primeiro, depois segundo e terceiro graus, conforme os exames acusam alterações.

Essa procura é vital porque, hoje, existem trabalhos provando que filhos de pessoas com HF que foram diagnosticados e tratados precocemente apresentam uma sobrevida livre de eventos cardiovasculares e com qualidade – isso em comparação à experiência dos pais lá atrás.

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Causas externas

Os mesmos fatores que fazem do colesterol alto um estopim para as doenças cardiovasculares em adultos também corroboram com o quadro em crianças e adolescentes.

A obesidade é um deles: o Brasil ocupa o quarto lugar entre os países com maior prevalência de sobrepeso e obesidade e já se observa uma ascensão dos indicadores entre crianças e adolescentes, independente do sexo e das classes sociais.

Entre 1975 e 2016, o índice de obesos entre 5 e 19 anos aumentou de 0,7% para 5,6% entre meninas e de 0,8% a 7,8% entre meninos, em todas as regiões geográficas do mundo, totalizando, em 2016, 50 milhões de meninas e 74 milhões de meninos obesos.

Metade das crianças obesas aos 6 anos, que tenham pelo menos um dos pais obeso, tende a conviver com a obesidade na fase adulta. Entre adolescentes nessa condição, 80% serão adultos obesos.

Alimentação desequilibrada e sedentarismo estão entre os principais motivos por trás do excesso de peso na infância e adolescência.

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Fome de quê?

Os hábitos à mesa são formados principalmente até os 7 anos, reforçando a importância da educação alimentar familiar. Estudos populacionais revelam que quase a totalidade das crianças ingere maiores quantidades de açúcar e gordura de má qualidade ou menores porções de fibras do que o recomendado para a idade.

Uma das justificativas para tal epidemia nessas faixas etárias é o “ambiente obesogênico”, ou seja, quando fatores externos colaboram para uma ingestão excessiva ou não saudável de alimentos calóricos e falta uma rotina que contribua para o gasto energético (quando há uso excessivo de computador e celular, por exemplo).

Os ambientes obesogênicos contrariam a realidade de 30 anos atrás, quando a premissa na infância e adolescência era composta de muitas atividades ao ar livre e mais comida balanceada feita em casa, sem o excesso de oferta de guloseimas.

Hoje, a indústria de alimentos, as cadeias de fast-food, as propagandas e programações de TV, os filmes e videogames e até os pais promovem situações que mantêm as crianças mais sedentárias e submetidas ao consumo calórico excessivo.

O correto – para qualquer faixa etária – é limitar a ingestão de gorduras à cerca de 25 a 30% das calorias totais diárias, mantendo uma proporção de 7 a 10% de gorduras saturadas (como frituras) e 20% de gorduras mono e poli-insaturadas. Deve-se evitar o açúcar de adição e estimular a ingestão de ômega-3, presente em peixes como sardinha e salmão, idealmente duas ou três vezes por semana.

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É preciso se mexer

No Brasil, a inatividade física foi avaliada em uma amostra de 74 589 adolescentes no estudo Erica. Entre esse grupo, 54,3% não realizavam atividades físicas regulares, sendo que as meninas (70,7%) eram as mais sedentárias. Mais de um quarto dos adolescentes referiu não praticar nenhuma atividade física.

A falta de movimentação é um dos maiores problemas de saúde pública e há uma forte relação entre o sedentarismo e a mortalidade por causas relacionadas às doenças cardiovasculares.

Em contrapartida, além de prevenir e contribuir com o controle dessas enfermidades, a atividade física regular está associada à saúde óssea e cardiometabólica, ao bom estado nutricional, à melhor função cognitiva e à redução do risco de depressão.

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Tratamento e prevenção

O tratamento para crianças e adolescentes diagnosticados com colesterol alto não difere do que é recomendado aos adultos com esse problema: baseia-se, inicialmente, no controle do peso, na dieta balanceada e na atividade física. Se a estratégia não funcionar, os médicos podem optar pelo uso de medicamentos.

Uma coisa interessante é que, muitas vezes, por causa da necessidade dos cuidados com os pequenos, os adultos se sentem estimulados e também passam a adotar hábitos mais saudáveis. Uma verdadeira lição de “filho para pais”.

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Mas a conscientização sobre a importância do tratamento precoce deve transcender os consultórios e ganhar visibilidade nas políticas públicas.

Entre as ações estratégicas para a promoção da saúde no âmbito governamental, a sugestão para as autoridades sanitárias é regularizar serviços de detecção, acompanhamento e controle de dislipidemia em adultos e crianças assintomáticos nos diferentes níveis de atenção do SUS. Assim, é possível desonerar o Estado dos custos dos tratamentos de doenças cardiovasculares e, mais importante ainda, promover a vida.

*Maria Cristina Izar é diretora de Promoção e Pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e professora livre-docente de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

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