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Big Brother Brasil: programa expõe as armadilhas de dietas restritivas

Dois membros do reality mostram, na prática, como radicalismos levam a relações conturbadas com a comida. Nutricionista explica os perigos por trás disso

Por Maísa Mota Antunes, nutricionista*
12 fev 2022, 11h24
Arthur Aguiar Mayra Cardi
A última edição do Big Brother Brasil tem nos mostrado os impactos de uma relação conturbada com a comida. (Foto: Reprodução Gshow/Globo/Divulgação)
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“Que teu alimento seja teu remédio e que teu remédio seja teu alimento”. Essa frase foi dita por Hipócrates (460 – 377 a. C.) quase 2 500 anos atrás. E nunca foi tão atual. Nunca houve tanta disponibilidade e acesso aos alimentos, e talvez nunca se tenha comido tão mal.

A lista de alimentos “vilões” da dieta aumenta vertiginosamente a cada dia. E não estamos falando do glúten para os celíacos, da lactose para os intolerantes, de castanhas para os alérgicos ou de alimentos industrializados.

Estamos falando do pão, do arroz, do macarrão. Estamos falando de comida de verdade, para pessoas comuns. Eu. Você. Sua vizinha. O integrante do reality show, famoso ou não.

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A última edição do Big Brother Brasil tem nos mostrado um recorte cruel e preocupante dessa realidade: jovens em uma relação conturbada com a comida. Enquanto um participante tem episódios de exagero no consumo, outro fica longos períodos sem se alimentar. E o que parecem ser duas situações opostas tem um ponto em comum: o desequilíbrio alimentar.

Em 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde, 4,7% dos brasileiros sofriam de algum tipo de distúrbio alimentar, sendo que esse índice chegava a 10% entre adolescentes. São aproximadamente 70 milhões de pessoas sofrendo de algum tipo de transtorno desse tipo no mundo.

Distúrbios alimentares acarretam em hábitos alimentares prejudiciais à saúde, como o consumo excessivo ou deficiente de alimentos. Eles surgem de uma insatisfação com a própria imagem, algo que tem aumentado com a crescente exposição dos corpos nas redes sociais – sendo que o padrão socialmente aceito é cada vez mais magro.

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No entanto, temos observado o crescimento de um outro fenômeno, que pode ou não ser classificado como um distúrbio alimentar clássico: o desequilíbrio alimentar provocado por orientações inadequadas.

Existem vários tipos de estratégias nutricionais – ou dietas. Há aquelas embasadas em um baixo consumo de carboidratos. Outras demandam restringir componentes como glúten, lactose ou sódio. Às vezes, não é preciso excluir alimentos ou nutrientes: apenas adequar o consumo de cada um deles.

Mas todas elas, sem exceção, precisam conter quantidades adequadas de carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais. E só quem pode te dizer o que é correto para você nesse aspecto é um nutricionista.

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Por isso, é muito importante ressaltar que cada estratégia é indicada para um caso específico, e todas elas precisam ser obrigatoriamente prescritas por um nutricionista.

E o que são orientações inadequadas?

São aquelas que não levam em conta a individualidade e a necessidade de cada pessoa. É a dieta da moda. Ou a dieta que funcionou para a vizinha e você copia porque acredita que vai dar certo para você também. É a recomendação da influenciadora digital, que muitas vezes não tem propriedade nenhuma para falar sobre nutrição. É o cardápio passado pelo coach de emagrecimento, profissão que não é reconhecida por nenhum órgão regulamentador.

Todas essas estratégias têm, em comum, a característica principal que é proibir alimentos – normalmente sem qualquer indicação ou necessidade real.

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E qual o problema disso? Dietas muito restritivas levam a uma perda de peso rápida, mas, como não respeitam as necessidades de cada um, acabam desencadeando episódios frequentes de compulsão alimentar.

E esses episódios são seguidos de uma nova restrição para compensar o “exagero”. Isso dá início a um ciclo perigoso de restrição seguido de compulsão, podendo gerar um distúrbio alimentar de fato – como os vistos nos últimos dias em nossa televisão.

Nos casos específicos dos participantes do reality show, identificamos duas situações principais: a restrição do carboidrato no mundo “aqui fora”, método conhecido como low-carb, e o jejum intermitente, em que a recomendação é passar longos períodos sem se alimentar.

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+ LEIA TAMBÉM: O corpo pede, a mente julga: o desejo intenso e o vício por comida

Perceba: ambas são estratégias nutricionais válidas e extremamente necessárias em casos muito específicos. E por que, então, elas não parecem ser um comportamento saudável? Porque provavelmente não são indicadas ou recomendadas para esses indivíduos.

Dieta, do latim “diaeta”, vem do grego “díaita” e significa “modo ou estilo de vida”. Ou seja, fazer dieta não se trata de restringir, mas sim de adequar seus hábitos alimentares ao modo como você vive, fazendo as melhores escolhas de acordo com suas necessidades e possibilidades.

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Em resumo, ela deve unir sempre o que você pode, o que você quer e o que você precisa naquele momento.

Ao endossarmos esse terrorismo nutricional propagado atualmente, criamos uma geração de pessoas avessas a um comportamento natural do ser humano, que é simplesmente se alimentar.

*Maísa Mota Antunes é nutricionista clínica e doutora em Biologia Celular

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