Não é de hoje que os alimentos ultraprocessados são considerados inimigos da saúde. Sabe-se que exagerar nesses produtos, que são ricos em açúcar, gorduras, sódio e muitos aditivos, faz subir o risco de doenças crônicas em geral.
Mas, recentemente, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) se debruçaram sobre os danos ao cérebro. Para isso, eles analisaram dados de 11 mil brasileiros, que foram acompanhados por oito anos.
A conclusão: quando mais de 20% do total energético da alimentação vem desses itens (ou seja, mais de 400 calorias em uma dieta de 2 mil calorias), sobe o risco de declínio cognitivo. O estudo foi publicado no jornal científico Jama Neurology.
Para ter ideia, esse abuso aumentou em 28% a probabilidade de encarar uma queda mais acelerada na função cognitiva global, que inclui, por exemplo, a memória e a fluência verbal.
Ao avaliar somente a cognição executiva, que se refere à capacidade de planejamento, execução de tarefas e resolução de problemas, o comprometimento foi 25% mais rápido.
A comparação se deu com pessoas que ingeriam menos de 20% desse tipo de alimento na rotina diária.
Comidas prontas e congeladas, macarrão instantâneo, pão de forma, iogurtes com sabor, embutidos, sorvetes e chocolates foram alguns dos alimentos mais citados pelos participantes, segundo Natália Gomes Gonçalves, autora do estudo e pesquisadora do Laboratório de Patologia Cardiovascular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
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A pesquisa incluiu homens e mulheres entre 35 e 74 anos, sendo que a geração da meia-idade se mostrou a mais afetada por esse mau hábito.
“As pessoas com até 59 anos estão em um momento da vida em que é preciso investir em prevenção. É importante tentar corrigir hábitos a tempo de evitar o surgimento de doenças crônicas”, ressalta Natália.
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“Estudos assim comprovam impressões que já temos no dia a dia. Ou seja, sabemos que uma alimentação saudável previne doenças, e isso inclui os males que acometem o cérebro”, avalia Felipe Franco da Graça, neurologista do Vera Cruz Hospital, de Campinas (SP).
“Nascemos com uma reserva renal, pulmonar e cerebral, por exemplo. E ela vai se desgastando com o tempo. Podemos estimular o organismo a protegê-las com atividade física, alimentação equilibrada e outros bons hábitos”, completa o médico.
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Como identificar os alimentos ultraprocessados
Antes de fazer a lista do supermercado, é importante entender o que são os alimentos ultraprocessados, avalia Cláudia Suemoto, professora da FMUSP e coordenadora da pesquisa.
Esses produtos são ricos em sal, açúcar, gorduras e diversos aditivos, que têm funções como fazê-los durar mais, além de dar um aspecto mais interessante em termos de cor, sabor e textura. Em geral, eles levam cinco ou mais ingredientes.
Bolachas, congelados, salgadinhos, refrigerantes, bolos prontos, cereais matinais, macarrão instantâneo, iogurtes saborizados, sorvetes e bebidas com gosto de frutas são exemplos de itens que fazem parte do grupo.
“Uma das dicas para evitá-los é olhar o rótulo. Observe que, quanto maior a lista de ingredientes, cresce também a possibilidade de o produto ter mais aditivos”, indica Cláudia.
Ela lembra ainda que é melhor “descascar mais e desembrulhar menos”, uma afirmação defendida na segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado em 2014, pelo Ministério da Saúde. O documento traz exemplos de refeições que devem ser priorizadas em prol da boa saúde.