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Remédios para dormir: quando são necessários e quais os riscos?

Aumentou a procura de soluções para dormir bem na pandemia. Quando a higiene do sono não basta, medicamentos podem ajudar. Mas só com acompanhamento

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 12 jun 2023, 17h57 - Publicado em 12 ago 2021, 16h51
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  • Nos últimos anos, cresceu a quantidade de gente que está se medicando (com e sem ajuda de um profissional) para afastar as crises de insônia. Mas o mau uso dessas substâncias pode piorar a qualidade do repouso e ainda afetar a saúde.

    Quem não dorme bem certamente paga a conta no dia seguinte, como ressalta Claudio Martins, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “Os reflexos se tornam lentos, a pessoa fica mais irritada do que o normal”, começa o médico.

    Todos nós temos noites ruins, mas, quando isso se repete, é sinal de que o problema é crônico e está na hora de procurar ajuda de um médico. Antes de recorrer a medicamentos, os especialistas costumam avaliar a higiene do sono.

    “Cada um tem de procurar o que traz relaxamento antes de dormir. As telas, com certeza, são um problema para o cérebro. Às vezes, basta a mudança de um comportamento para solucionar a insônia”, explica Martins.

    Dicas de higiene do sono

    Quando entram os remédios

    Quando a reavaliação da rotina não faz efeito no sono, os medicamentos surgem como solução – mas o correto é que seja temporária.

    “Tomar remédio para dormir é apagar o incêndio. As causas do fogo devem ser investigadas e podem ser tratadas com terapia, apoio familiar, exercícios físicos, boa alimentação, ou seja, fatores que também se alteraram com a pandemia”, afirma Martins.

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    Há diversas categorias de remédios que demandam prescrição, como os hipnóticos  e as chamadas drogas Z (que tem como ativo a substância GABA).

    Entram na lista ainda os antidepressivos sedativos e os antipsicóticos (usados em doses menores quando a ideia é combater a falta de sono), além dos agonistas dos receptores da melatonina.

    A escolha do medicamento depende do tipo de insônia, que pode ser a inicial, quando há dificuldade de pegar no sono; a intermediária, que ocorre quando se acorda no meio da noite ou não há uma sequência de repouso; ou a insônia terminal, quando se desperta muito mais cedo.

    Independentemente do remédio, ele precisa ser ministrado dentro da dose e horários estabelecidos por um especialista. “Há quem tome uma pílula no meio do dia para cochilar ou acorda no meio da noite e toma para voltar a dormir. Se o remédio não está funcionando, talvez seja preciso trocar ou adaptar a dose”, relata a médica Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono.

    “Os hipnóticos potentes podem provocar sonambulismo e queda em idosos. Por isso, a dose mínima sempre é a preferida”, completa Dalva.

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    A mistura com bebida alcoolica é péssima ideia, já que é capaz de potencializar esse risco, dependendo do tipo de remédio.

    As sensações e os efeitos causados pelas drogas precisam ser discutidos com o especialista. “Há grupos de pessoas que se tornam dependentes porque têm a impressão de que algo está faltando se não tomar um remédio antes de dormir”, completa Martins.

    Todas essas repercussões devem ser acompanhadas de perto.

    Natural não é sinônimo de seguro

    Ervas e fitoterápicos, como fórmulas à base de passiflora, camomila e valeriana, são vendidas livremente nas farmácias, mas também exigem cuidado. “É uma categoria ainda mais sensível, porque não há padrões de formulação, princípios ativos ou dosagens”, avalia Dalva.

    Um estudo publicado no periódico Sleep, da Oxford Academy, relata os riscos ao combinar substâncias naturais com as receitadas pelos médicos.

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    “Suplementos ou ervas também têm graus de interação com outros remédios. Pensando nisso, um idoso, por exemplo, que já faz diversos tratamentos, precisa comunicar o médico que precisa de ajuda para dormir”, alerta a médica do Instituto do Sono.

    “Além de essas receitas não serem eficazes, esse intercâmbio de suplementos com medicamentos retarda o acesso das pessoas a tratamentos mais certeiros, inclusive as terapias comportamentais”, completa a expert, que reafirma a importância de investigar as causas da insônia.

    E mesmo a interação de ervas traz riscos. Melissa, camomila e maracujá juntos ou em excesso funcionam como estimulantes em vez de acalmar, por exemplo.

    remédios para dormir
    Ervas e fitoterápicos também podem ser prejudiciais se utilizados em excesso (Foto: GI/Getty Images)

    Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o emprego da melatonina como parte de suplementos alimentares.

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    Mas, para ter acesso à substância, popularmente conhecida como hormônio do sono, o jeito mais comum hoje ainda é levar uma prescrição médica a uma farmácia de manipulação.

    “Existem estudos com baixo nível de evidência sobre seus benefícios, por isso as diretrizes internacionais de tratamento de insônia não a indicam”, explica Dalva.

    + LEIA TAMBÉM: Aplicativo contra a insônia traz módulos específicos para mulheres

    Por que a pandemia prejudicou o sono?

    Na França, um estudo publicado no Journal of Sleep Research com mais de 1 000 pessoas relatou que 41% delas tomaram alguma pílula para dormir sem prescrição médica já nos primeiros dois meses de lockdown.

    Nos Estados Unidos, receitas de medicamentos sedativos-hipnóticos vêm crescendo desde o início da pandemia, segundo levantamento do Centro Médico Cedars-Sinai, na Califórnia, nos Estados Unidos.

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    Subiu a venda de remédios que ajudam a dormir também no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sem dar detalhes das substâncias.

    É preciso lembrar que boa parte da população convive com insegurança financeira, medo de pegar Covid-19 e dificuldade de fazer planos. Esses são alguns dos pontos estressores que mexeram com as noites da população na pandemia, segundo Martins.

    “Esses fatores impactam diretamente na nossa saúde como um todo. Especificamente na saúde mental, gera transtornos depressivos e de ansiedade, e o ritmo do sono está muito vinculado a essas doenças”, afirma o psiquiatra.

    Se algumas pessoas se beneficiaram com o home office ou a melhora do trânsito para chegar ao trabalho, a maioria sentiu o efeito da falta de rotina.

    “Antes do confinamento, a regularidade na hora de dormir e acordar era parte da obrigação social. Ao trabalhar em casa, o sono passou a ser irregular e começaram as dificuldades”, avalia Dalva.

    A rotina é essencial para o bom funcionamento do corpo e a ausência dela pode confundir os sistemas. “Nosso organismo trabalha com vários relógios, como os que regulam as funções gastrointestinais, as cardiovasculares, de regulação da pressão arterial, do apetite e também do sono e da vigília”, ensina a médica.

    Ter horários definidos para acordar e dormir e avaliar o tempo de sono necessário para o pleno descanso (que costuma ser de sete a oito horas e meia por noite) são regras importantes.

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