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Nova vacina contra herpes-zóster chega ao Brasil; saiba quem pode tomar

Imunizante é o primeiro a atender imunossuprimidos e tem proteção mais ampla e duradoura. Mas essas doses contra o herpes-zóster pesam no bolso

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 5 jul 2022, 19h27 - Publicado em 1 jul 2022, 16h36
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  • Chegou ao mercado nacional uma nova vacina contra o herpes-zóster, doença que acomete principalmente idosos e imunocomprometidos, e provoca dores e lesões na pele. A chamada Shingrix, da GSK, já estava aprovada no país desde 2021, mas não ficou à disposição antes por questões burocráticas.

    “Ela já existe há anos nos Estados Unidos e Europa. A demora se deu por questões de importação de suprimentos”, esclarece Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).

    Com duas doses, esse imunizante é voltado para pessoas com mais de 50 anos e imunossuprimidos, que antes não tinham uma opção contra essa infecção. Além da Shingrix, há Zostavax, da MSD, de dose única para pessoas acima da quinta década de vida.

    Todos os adultos estão expostos ao herpes-zóster, causado pela reativação do vírus varicela-zóster, o mesmo da catapora (saiba mais no fim do texto). Mas nenhuma das duas vacinas está disponível no SUS.

    + Leia também: Diabetes e herpes-zóster: do controle da glicose à vacinação

    O que a nova vacina contra herpes-zóster traz de novidade?

    A Shingrix foi a primeira a ser testada em imunossuprimidos. Isso porque sua composição apresenta apenas pedaços do vírus, o que proporciona maior segurança para esse público.

    Nessas pessoas mais suscetíveis, aumenta consideravelmente o risco de o herpes-zóster provocar neuropatia pós-herpética – uma dor que persiste mesmo após a cicatrização da lesão e que pode durar de 90 dias a um ano. “Ela se estende pelos nervos que acompanham a trajetória das lesões da doença e é de dificílimo tratamento”, esclarece Isabella.

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    “Além da dor crônica, a doença pode acometer pulmões e cérebro dos grupos mais vulneráveis. O tratamento nesse público e nos idosos também é mais complexo, principalmente porque vários tomam diferentes remédios, o que favorece a interação medicamentosa”, contextualiza Jessé Reis Alves, infectologista e gerente médico de vacinas da GSK. Uma vacina, portanto, ajuda a evitar essas chateações.

    Outro ponto é que o novo imunizante tem uma maior eficácia, e que se mantém estável em todas as idades. “Já a Zostavax perde a eficácia conforme os anos avançam. Ou seja, protege menos justamente os mais vulneráveis”, avalia a médica da Sbim. (veja as fichas técnicas mais abaixo).

    O preço dos imunizantes pode ser um fator de escolha, a depender do momento de cada um. Enquanto a Shingrix beira os mil reais por dose (são duas doses), a mais antiga Zostavax fica entre R$ 560 e R$ 680 (apenas uma injeção é necessária).

    Se o orçamento estiver apertado, uma possibilidade é apostar na Zostavax ao chegar nos 50 e poucos anos. Passados os quatro anos de proteção garantida dessa vacina, “a Sbim recomenda que se busque pelo novo imunizante, que tem proteção mínima de dez anos”, diz Isabella.

    +Leia também: Aciclovir: o que é, para que serve e como tomar esse medicamento

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    Como ter acesso às vacinas?

    Ambos os imunizantes só estão disponíveis em clínicas privadas. “Maiores de 50 anos podem buscar o serviço diretamente. Os mais jovens, mesmo que sejam imunossuprimidos, precisam de prescrição médica”, diferencia Geraldo Barbosa, presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC).

    Existem diversos outros casos que se beneficiariam das doses. As pessoas que convivem com o vírus HIV estão em um dos grupos que mais precisa de atenção. “Hoje as terapias contra aids são melhores e o indivíduo tem mais qualidade de vida. Mesmo assim, o risco de sofrer consequências graves do herpes-zóster é maior”, analisa  Alves.

    + Leia também: Além da pele, herpes-zóster compromete a visão e o coração

    Perfil das vacinas

    Shingrix, da GSK (2022)

    Como é feita: é uma vacina recombinante produzida a partir de proteína do vírus (não vivo) com um adjuvante. Ela deve ser administrada em duas doses, conforme indica a bula.

    Para quem é: adultos acima de 50 anos, e pessoas com mais de 18 com indicação médica: imunossuprimidos ou que já sofreram de herpes-zóster. A injeção é contraindicada a quem apresente hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer excipiente da vacina.

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    Eficácia: 97% em indivíduos com mais de 50 anos, e 91,3% nos maiores de 70.

    Preço: de R$ 960 a 1 000 (cada dose).

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    Zostavax, MSD (2017)

    Como é feita: composta por vírus vivos atenuados da varicela-zóster, é ministrada em dose única, conforme descrito na bula.

    Para quem é: a vacina está licenciada para pessoas com 50 anos ou mais e é recomendada como rotina para maiores de 60. Ela é contraindicada a pessoas imunodeprimidas ou alergia grave (anafilaxia) a algum dos componentes da vacina. Pessoas com tuberculose ativa não tratada e gestantes também não podem receber a injeção.

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    Eficácia: 70% nos maiores de 50 anos, e 37% nos maiores de 70 anos.

    Preço: de R$ 560 a 680.

    Qual a relação dessas vacinas com a da catapora?

    A vacina que nos protege da catapora mira o mesmo vírus, mas com uma formulação diferente. E mesmo esse imunizante só começou a fazer parte do Plano Nacional de Imunizações (PNI) em 2012, incluído na formulação da injeção tetra-viral (que protege ainda contra sarampo, caxumba e rubéola).

    “Ainda não temos certeza sobre os efeitos dessa vacina na proteção contra o herpes-zóster porque a campanha é recente e vai demorar até que o público-alvo chegue a idades mais avançadas, onde o risco dessa doença é maior”, avalia Alves. “Mas a vacina contra o herpes-zóster tem 14 vezes mais vírus do que a da catapora, porque precisa de mais antígenos para gerar resposta”, arremata.

    Para Isabella, da Sbim, quem estiver protegido contra o vírus desde a infância não deve desenvolver o herpes-zóster lá na frente.

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    Aumento de casos com a Covid-19

    A incidência da doença cresceu 34% durante a pandemia, segundo estudo da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Esses dados são corroborados por outros levantamentos, mas ainda não há descobertas sobre os motivos que levaram à subida de casos.

    Pode ser apenas pelo estresse durante o isolamento. Mas algumas pesquisas, como uma feita pela GSK nos Estados Unidos, relacionou o herpes-zóster ao coronavírus.

    O estudo apontou que adultos com 50 anos ou mais infectados pela Covid apresentaram risco 15% maior de desenvolver a doença, em comparação com aqueles sem o coronavírus. Porém, os pesquisadores não conseguiram explicar qual seria o elo entre os dois vírus.

    Imagem que mostra exemplo de lesão do herpes-zóster na pele
    Imagem que mostra exemplo de lesão do herpes-zóster na pele (Foto: CDC/Divulgação)

    O que é herpes-zóster?

    Conhecido popularmente como cobreiro, o herpes-zóster é uma doença causada pelo vírus varicela-zóster, o mesmo da catapora. Na infância, quase todos temos contato com esse vírus, mesmo que a doença em si e suas típicas manchas vermelhas não apareçam.

    Depois desse primeiro encontro, o invasor se esconde no sistema nervoso, mais especificamente nos gânglios dorsais — uma espécie de raiz dos nervos localizada na medula espinhal. Ali, fica adormecido, controlado pelo nosso sistema imune.

    Quando acontece uma queda expressiva na imunidade (seja pela idade, por uma doença ou pelo estresse), o vírus encontra terreno fértil para voltar a se replicar. As cópias caminham dos gânglios dorsais para os nervos sensoriais, que se conectam com a pele. O processo afeta a circulação sanguínea dos arredores e dá início a uma inflamação. Daí vêm as dores típicas — nas costas, no rosto etc.

    Entende-se que 99% das pessoas no mundo já tiveram contato com o varicela, e a incidência de herpes-zóster é de 1 milhão de pessoas por ano só nos Estados Unidos. Esse último número se concentra em maiores de 80 anos. Como dissemos, nos mais velhos as complicações são maiores.

    Esse mesmo vírus também provoca uma doença mais rara, a síndrome de Ramsay-Hunt, que acometeu o cantor canadense Justin Bieber recentemente – uma infecção do nervo facial e auditivo.

    Não confunda com herpes labial e genital

    Essas outras duas doenças são causadas por outro vírus, o herpes simplex. Ainda não há vacina contra ele.

    “Há muita procura pela vacina do herpes-zóster por pessoas que acham que podem utilizá-la para outros tipos de herpes – que são reincidentes e chatas. Mas essa luta ainda não foi ganha. Há mais de 50 anos estudam uma fórmula”, explicou a infectologista Karina Takesaki Miyaji, da Universidade de São Paulo (USP), durante o 13º Congresso Paulista de Infectologia, que ocorreu recentemente em São Paulo.

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