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Europeus traçam novo limite mínimo para vitamina D. Isso vale aqui?

Especialistas do Velho Continente aumentam o limiar indicado de vitamina D no organismo. Mas esses novos índices não são um consenso no Brasil

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 22 mar 2023, 18h29 - Publicado em 19 Maio 2022, 17h11
ilustração de médico segurando a letra D, que simboliza a suplementação de vitamina D
A prescrição não deve ser baseada apenas nos exames laboratoriais, mas também em doenças pre-existentes, dieta alimentar, hábitos de vida. Tudo isso interfere na absorção de nutrientes (Ilustração William Mur/SAÚDE é Vital)
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Obtida naturalmente a partir da exposição ao sol e de certos alimentos, a vitamina D virou moda nas prateleiras das farmácias. Mas saber o índice ideal da substância no organismo e a eventual necessidade de suplementação é desafio até para médicos e nutricionistas. De tempos em tempos, surgem novos estudos sobre o tema, que revisitam esses números. Recentemente, especialistas europeus publicaram um novo consenso sobre o assunto na revista médica Nutrients.

O documento relata a opinião da maioria dos médicos e nutricionistas da região sobre quando é prudente diagnosticar um indivíduo com carência de vitamina D – e como deve ser essa suplementação. No novo material, os europeus entendem que um resultado de exame de sangue abaixo de 30 ng/ml (nanogramas por mililitro) caracteriza a deficiência.

O material oferece um ponto de vista bem-vindo, porém traz dados de uma população que fica menos exposta ao sol, e com hábitos alimentares diferentes dos nossos. Essa, pelo menos, é a visão da nutricionista Géli Marques Golfetto, de Porto Alegre.

+ LEIA TAMBÉM: O mito da carência de vitamina D

Por vivermos em um país tropical, em que a exposição solar é mais fácil, as regras seriam menos rígidas. “O consenso daqui é que entre 20 e 30 ng/ml não é ideal, mas ainda sim pode ser suficiente”, explica a nutricionista.

O preocupante mesmo seria ficar abaixo de 20 ng/ml. Esses dados brasileiros foram defendidos em relatório publicado pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  em 2020.

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No entanto, esses números também dependem das características de cada indivíduo e de suas condições de saúde.

Quem precisa de vitamina D?

Vale a pena avaliar o documento europeu sob outro ponto de vista, na visão da endocrinologista Victoria Borba, professora da Universidade Federal do Paraná e membro da Sbem. Para ela, o mais importante é chamar a atenção para as pessoas com certos problemas de saúde que se beneficiariam de boas doses de vitamina D. Essa turma, sim, mereceria atenção redobrada e, eventualmente, suplementação diante de uma suspeita de deficiência.

Indivíduos com osteoporose, por exemplo, precisam ficar de olho nas taxas da substância, uma vez que ela participa da formação dos ossos.

Enfermidades autoimunes, câncer, doença inflamatória intestinal e cirurgia bariátrica também podem dificultar a absorção de vitamina D. Até o uso de alguns medicamentos (antirretrovirais, corticoides, anticonvulsivantes) integra essa lista.

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Pessoas negras também podem ter menos do nutriente, porque o excesso de melanina atrapalha a síntese da substância a partir dos raios solares.

“Por outro lado, há poucos estudos sobre o impacto da deficiência da vitamina D em pessoas com bom estado de saúde”, explica a endocrinologista. Diante disso, não há motivo para sair comprando pílulas sem um pedido do médico.

Entre quem tem o costume de se expor ao sol e que possui uma dieta com ovos, sardinha e salmão (ricos em gordura ‘boa’, que ajuda na síntese de vitamina D), a necessidade de suplementação seria ainda menor.

Qual a dosagem ideal da vitamina D?

Para pessoas saudáveis, os estudos trazem uma margem ideal ampla e variável. “A prescrição não deve ser baseada apenas nos exames laboratoriais, mas também em doenças pre-existentes, dieta alimentar, hábitos de vida, o sono. Tudo isso interfere na absorção de nutrientes”, reforça Géli.

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Mas atenção: não é porque o Brasil tem mais sol que estamos bem com a vitamina D. Victoria Borba diz que pode ser necessário suplementar, principalmente quem mora nas regiões Sul e Sudeste, onde a incidência solar é menos direta.

O que é a vitamina D e para que serve?

A vitamina D regula o fornecimento de cálcio e fósforo no organismo. Daí porque ela atua principalmente nos ossos, no intestino e nos rins.

Mas não fica só aí. Considerada como um pré-hormônio, ela tem papel na imunidade e no sistema cardiovascular.

Estudos têm mostrado, por exemplo, que a deficiência de vitamina D está associada ao maior risco de várias doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, tumores e enfermidades imunológicas e infecciosas.

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+ LEIA TAMBÉM: Nem muito nem pouco: o papel da vitamina D

É possível absorvê-la por meio de alimentos, como peixes gordurosos, cogumelos e ovos enriquecidos. No entanto, a exposição solar é, de longe, a principal fonte da substância.

Só que aí vem o dilema: enquanto dermatologistas defendem a necessidade de não se expor das 10 da manhã às 4 da tarde sem um protetor, endocrinologistas pontuam que a maior absorção de vitamina D ocorre justamente nesse horário, quando os raios ultravioleta estão intensos.

“Mas basta sentir o corpo esquentar, e 15 minutos são suficientes. Ficar estirado no sol por horas fará mal mesmo”, defende Victoria.

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Excesso de vitamina D

Índices superiores a 100 ng/ml  de vitamina D no sangue, se constantes, não raro provocam malefícios. A sobrecarga da substância pode afetar o fígado, os rins e causar a hipercalcemia, que é o excesso de cálcio no sangue. O quadro pode entupir as artérias e até matar.

Daí a necessidade de tomar muito cuidado com protocolos que defendem a superdosagem de vitamina D. Não há eficácia comprovada desses tratamentos pra doenças autoimunes ou outros males. Sempre converse com um profissional antes de iniciar uma suplementação qualquer.

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