Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Pesquisas atuais não comprovam que vitamina D combate coronavírus

Apesar de estudos recentes associarem baixas taxas de vitamina D a casos graves de Covid-19, não dá para dizer que uma coisa causa a outra

Por Nathalie Ayres
Atualizado em 16 mar 2023, 16h51 - Publicado em 17 nov 2020, 19h21
vitamina d coronavirus
Conclusões precipitadas sobre certos estudos estão fazendo pessoas tomarem vitamina D contra o coronavírus. (Ilustração William Mur/SAÚDE é Vital)
Continua após publicidade

A vitamina D e seu possível efeito contra o coronavírus têm gerado controvérsia desde os primeiros meses da pandemia. Pesquisas e documentos apontam que muitos pacientes hospitalizados pela Covid-19 possuem baixas doses da substância no organismo — quadro chamado de hipovitaminose D.

Em um trabalho mais recente conduzido no Brasil, pesquisadores mediram os níveis da vitamina D em 176 idosos que foram parar na UTI com complicações decorrentes do Sars-CoV-2. Resultado: 93,8% possuíam taxas baixas de vitamina D. Além disso, 68,7% eram obesos. O experimento foi conduzido por médicos da Prevent Senior, um plano de saúde com uma rede de hospitais que atende principalmente pessoas mais velhas — e que, segundo reportagens, oferece um “Kit Covid-19” que inclui vitamina D.

A limitação de investigações assim? Elas só mostram que há uma relação entre as duas coisas. Mas não dá para saber se é a carência de vitamina D que favorece os casos graves de Covid-19, ou se há algo escondido por trás dessa ligação.

“Os estudos observacionais [como esse] têm vários fatores confundidores. Não é possível afirmar que a hipovitaminose D seja a causa das internações”, reforça o endocrinologista Sergio Maeda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Regional de São Paulo (SBEM-SP).

Por exemplo: nesse levantamento brasileiro, muitos dos voluntários também estavam acima do peso. E o excesso de gordura comprovadamente aumenta o risco de complicações por Covid-19, ao mesmo tempo em que sequestra parte da vitamina D circulante. Ou seja, não dá para saber se é a falta de vitamina D ou o excesso de peso (ou qualquer outra questão não avaliada) que está por trás dos episódios mais graves da Covid-19.

Continua após a publicidade

Além disso, vale ressaltar que, quanto mais velhos ficamos, menos vitamina D temos. “Pessoas idosas precisam de mais tempo no sol para atingir níveis adequados”, considera a endocrinologista Victória Borba, membro da SBEM e chefe do serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E que, em um período de isolamento social, ficamos menos tempo expostos à radiação solar.

Juntando isso, fica difícil dizer se os altos índices de hipovitaminose D presentes entre os participantes da pesquisa não seriam encontrados em outros idosos na situação atual, mas que não foram internados por causa da Covid-19.

Hipóteses levantadas por trabalhos observacionais envolvendo possíveis tratamentos para uma enfermidade devem sempre ser colocadas à prova pelas chamadas pesquisas duplo-cegas randomizadas com grupo placebo.

Nelas, alguns pacientes selecionados ao acaso receberiam vitamina D, enquanto outros tomariam uma pílula de farinha — sem que médico nem paciente soubessem o que está sendo administrado. Aí dá para acompanhar quem evolui melhor frente à Covid-19 e ver se a suplementação funciona, seja para tratamento ou mesmo prevenção.

Continua após a publicidade

Mas não é melhor se garantir suplementando?

Maeda comenta, por exemplo, que uma revisão de várias pesquisas demonstrou que dar cápsulas de vitamina D para pessoas com níveis realmente baixos diminui o risco de infecções respiratórias. Atenção: o benefício não foi encontrado entre quem já apresentava taxas normais ou mesmo só ligeiramente baixas da substância.

“Mas esse estudo foi feito antes da pandemia de Covid-19. Esse benefício não pode ser estendido para o coronavírus”, alerta Maeda. “Com os dados atuais, não é possível afirmar que a hipovitaminose D aumenta o risco de infecção pelo Sars-CoV-2”, arremata. Nem que ela agrava quadros da infecção. E muito menos que pacientes já diagnosticados com Covid-19 se beneficiariam de suplementos de vitamina D.

É claro que, se você não anda garantindo seu lugar ao sol por passar mais tempo dentro de casa, vale a pena consultar um profissional e eventualmente dosar a quantidade da vitamina D no sangue. A suplementação, dependendo do estado de saúde de cada um, pode ser receitada.

Mas tanto Sergio Maeda quanto Victória Borba alertam para os perigos de fazer essa suplementação sem orientação. O excesso pode elevar níveis do cálcio no sangue, o que favorece quedas, pedras nos rins e problemas cardíacos. É comum que pessoas idosas com hipervitaminose D apresentem também confusão mental (não raro confundida com demência).

Continua após a publicidade

No mais, é desperdício de dinheiro recorrer a comprimidos em situações que não apresentam benefícios comprovados.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.