De dengue a malária: como os mosquitos mudaram o mundo
Em livro recém-lançado no país, historiador narra a interferência desses insetos e suas doenças em guerras e outros episódios que marcaram a humanidade
A biografia da nossa espécie inclui picadas de mosquitos em boa parte da sua trajetória, especialmente em momentos decisivos para as civilizações.
Pense em qualquer episódio de relevo e provavelmente você ouvirá os zumbidos de anófeles, aedes e cúlex, os principais vetores de doenças entre esses insetos.
Eles influenciaram o destino de gregos e romanos, a expansão colonial pelas Américas, a independência estadunidense e até as guerras do século 20, como relata o historiador americano Timothy Winegard em O Mosquito (compre aqui), lançado pela editora Intrínseca.
Para ter ideia, o professor se refere diversas vezes ao “General Anófeles”, apelido para o mosquito transmissor da malária, a moléstia que mais decidiu guerras e alterou os rumos da humanidade.
Winegard revisita o papel — ora coadjuvante, ora protagonista — dos mosquitos da Pré-História ao século 21, descreve as batalhas (infrutíferas) para erradicá-los e tece perspectivas otimistas e sombrias sobre a nossa convivência com essas criaturas.
O Mosquito — A Incrível História Do Maior Predador Da Humanidade
Autor: Timothy Winegard
Editora: Intrínseca
Páginas: 608
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Os três terríveis
Os mosquitos que transmitem doenças que mais assolaram o ser humano
Anófeles: é o inseto que dissemina os protozoários da malária. O problema já atormentou todos os continentes — a exceção fica por conta das regiões mais geladas — e hoje, embora ocorra inclusive no Brasil, é predominante na África. A doença é caracterizada por febre, calafrios, mal-estar e dores pelo corpo. Pode provocar danos em vários órgãos e ser letal. Conta com algumas opções de tratamento — e uma vacina na África.
Aedes: mais conhecido dos brasileiros, esse mosquito transmite dengue, zika, febre amarela, chikungunya e mais um rol de infecções. Especialistas já não falam mais em eliminação da espécie, mas em seu controle. Para isso, novas estratégias recorrem inclusive a mosquitos transgênicos para limar a proliferação do vetor original e sua capacidade de injetar vírus nos seres humanos.
Cúlex: esse gênero, representado pelo popular pernilongo, é o menos tenebroso em matéria de impactos históricos, de acordo com o livro do professor Timothy Winegard. No entanto, também espalha parasitas da pesada, como o causador da filariose (ou elefantíase). A doença se instala no sistema linfático e provoca inchaços e deformações nas pernas, nos braços e nos genitais.
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Picadas pelo tempo
Os mosquitos participaram de dezenas de episódios históricos
Grécia antiga: o desfecho das batalhas entre gregos e persas foi moldado pelo mosquito da malária. A Grécia levou a melhor.
Império Romano: a malária jogou tanto a favor como contra Roma. E o temor da doença teria ajudado a espalhar e sedimentar o cristianismo.
Invasão mongol: o enfraquecimento dos exércitos de Gêngis e Kublai Khan pela malária é um dos fatores que evitaram a tomada da Europa.
Era das navegações: o intercâmbio de povos, mosquitos e doenças após as viagens de Colombo devastou europeus, índios e escravizados.
Independência americana: os mosquitos auxiliaram indiretamente a libertação estadunidense e a vitória da União na Guerra de Secessão.
Imperialismo: epidemias de febre amarela expulsaram europeus da região do Caribe, e o controle sobre o vetor levou os EUA a dominar a área.
Primeira Guerra: A malária foi uma das doenças a ceifar vidas nas trincheiras. Infestava pântanos na Itália e derrubou milhões de soldados.
Segunda Guerra: Os nazistas tentaram utilizar a malária como arma biológica ao reverter o represamento de águas em terra italiana.
Ressurgência: a popularização do inseticida DDT entre 1930 e 1970 dizimou mosquitos e gerou uma trégua — mas eles adquiriram resistência.
Notícias da mosquitolândia
Problemas com esses insetos continuam um desafio de saúde pública
Dengue em alta: a rede Dasa registrou aumento substancial no número de casos em Goiás, Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal.
Surto na África: o governo do Quênia notificou em março dezenas de novos casos de febre amarela nesse país que fica no leste africano.
Vacina no pedaço: um imunizante é aplicado em milhares de crianças de nações africanas para conter a forma mais temida da malária.