Quase 3 mil estudos sobre tratamento, diagnóstico e prevenção do câncer foram apresentados no último encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), em Chicago.
O evento reuniu médicos do mundo todo para apresentar estratégias de combate a esse conjunto de doenças, que é uma das principais causas de morte hoje.
Entre os tópicos que conquistaram os holofotes, progressos significativos em terapias para casos avançados — em alguns cenários, dobrando o tempo de sobrevivência dos pacientes.
Um ponto de atenção foi a necessidade de ampliar o acesso aos tratamentos modernos, que vêm se tornando mais eficazes, mas, ao mesmo tempo, mais caros. Outro tema de destaque foi a detecção precoce de tumores, tão abalada pela pandemia de Covid.
Biópsia líquida ganha espaço
A técnica busca vestígios do câncer em amostras sanguíneas, procedimento menos invasivo do que a coleta de pedacinhos do tecido atingido.
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Um estudo avaliou com a biópsia líquida se 455 pacientes que foram operados para retirar um tumor no cólon teriam resquícios da doença — e, logo, precisariam de mais intervenções. O método evitou químios, e seus efeitos colaterais desnecessários.
Cápsula para leucemia crônica
O ibrutinibe é um medicamento indicado para diversos tumores hematológicos, como leucemias e linfomas. Uma pesquisa com dados de cerca de 3 mil pessoas sugere que ele pode ser mais eficaz como primeira linha de tratamento do que a abordagem-padrão usada hoje para a leucemia linfocítica crônica.
O remédio reduziu pela metade o risco de ter que intensificar o tratamento.
Câncer de reto desaparece em teste
Essa virou manchete na imprensa global. Não é para menos: em um estudo com 14 portadores de um subtipo bem raro de câncer retal, uma medicação foi capaz de eliminar o tumor de todos eles.
É uma amostra pequena de voluntários, mas é incomum ver algo do tipo. O dostarlimabe foi recém–aprovado para câncer de endométrio, e deve agora passar por provas com mais gente.
Mudança de paradigma
Entre as novidades apresentadas para o câncer de mama, uma foi aplaudida de pé. Médicos avaliaram o uso do remédio trastuzumabe-deruxtecan em tumores com diversos graus de expressão da proteína HER2.
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E notaram que ele reduz em até 50% o risco de morte em mulheres com casos avançados e baixos níveis de HER2, que em teoria não se beneficiariam do tratamento — o que pode mudar paradigmas.
Esperança no câncer de pâncreas
Os tumores pancreáticos são desafiadores: silenciosos, costumam ser diagnosticados numa fase tardia, quando há poucas opções de tratamento.
Pois o nimotuzumabe, um anticorpo monoclonal, conferiu dois meses de vida a mais a portadores de tumores avançados, e já disseminados.
Parece pouco, mas nesse contexto é um ganho significativo.
Pesquisa como meio de acesso a terapias modernas
O grupo Oncoclínicas apresentou os resultados e desafios da implementação de uma rede de pesquisas com voluntários em diversas cidades brasileiras, destacando que a participação do país nos grandes estudos com medicamentos pode reduzir a desigualdade no acesso a tratamentos de ponta, como as terapias-alvo, que são mais caros e demoram para chegar aqui.
Reflexo da pandemia na detecção precoce da doença
Outro trabalho do Oncoclínicas comparou os dados de cerca de 12 mil mulheres com tumor nos seios diagnosticado antes ou durante a pandemia de Covid-19.
Os números mostram que a porcentagem de detecções em fases iniciais, com altas chances de cura, chegou a cair até 10% em um subtipo específico. Já a probabilidade de um diagnóstico tardio cresceu 5%.
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Recurso extra em defesa da próstata
A darolutamida, um inibidor do hormônio androgênio, prescrito contra tumores na glândula, demonstrou reduzir em mais de 30% o risco de morte mesmo se prescrita depois, quando a doença se espalhou.
Cientistas compararam a droga com um placebo, ambos em combinação com quimioterapia e terapia hormonal, que já são usados hoje em dia.
Comparação de anticorpos no câncer avançado
Os casos de tumores colorretais que apresentam metástase (disseminação) costumam ser tratados com dois anticorpos monoclonais, panitumumabe ou bevacizumabe, em conjunto com a químio.
Um trabalho comparou os dois e apontou maior eficácia do panitumumabe em portadores de uma mutação no gene KRAS, ligado ao câncer.
Trinca de remédios contra o mieloma múltiplo
Lenalidomida, bortezomibe e dexatamesona já são usados como opção de tratamento para casos recém-diagnosticados de mieloma múltiplo, o segundo câncer hematológico mais comum.
Um estudo confirmou a eficácia da estratégia: mil pacientes foram avaliados e a taxa de sobrevida chegou a 86 meses, mesmo nos que tinham alto risco de progressão da doença.
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O impacto da desigualdade
A ciência progride, mas o acesso, nem tanto… Duas vezes menor é a chance de sobrevivência de uma mulher com câncer de mama se tratando na rede pública brasileira.
E a diferença entre a sobrevivência de pacientes negros e brancos com um tipo de linfoma é de 30 meses, em média.