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Câncer de mama e fertilidade: 8 perguntas e respostas

Especialistas explicam como o diagnóstico e tratamento da doença se relacionam com contracepção, gestação e menopausa

Por Larissa Beani
Atualizado em 25 out 2023, 20h25 - Publicado em 23 out 2023, 18h19
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Entenda como a fertilidade é impactada pelo disgnóstico e tratamento contra do câncer de mama (Victoria Strukovskaya/Unsplash/Reprodução)
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Entre 2023 e 2025, estima-se que cerca de 73 mil brasileiras serão diagnosticadas com câncer de mama por ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Também de acordo com o órgão, 15% dessas mulheres têm menos de 40 anos. A incidência desse tumor em mulheres jovens tem aumentado nos últimos anos e já supera a prevalência de outros países, como os Estados Unidos, que registram apenas 5%.

O cenário levanta novas questões e preocupações. Afinal, qual o impacto do aparecimento de tumores em idade reprodutiva na fertilidade dessas mulheres?

A seguir, especialistas esclarecem as principais dúvidas sobre contracepção, gravidez e menopausa relacionadas ao tema:

+ Leia também: Médica ou paciente? Minha vivência nos dois lados do consultório

1. Como o tratamento do câncer de mama afeta a fertilidade?

Como acontece em outros tipos de câncer, mulheres diagnosticadas em idade fértil são orientadas a utilizar métodos contraceptivos para evitarem a gravidez durante a terapia. 

Em geral, opções hormonais — pílulas, injetáveis, anel vaginal, implantes ou dispositivos intrauterinos (DIU) hormonais — são contraindicadas, pois aumentam o risco de trombose, entre outras alterações. 

O uso do DIU de cobre é o mais recomendado a essas mulheres. É um método de longa duração tão eficaz quanto uma laqueadura, mas com o benefício de ter seu efeito revertido assim que ele é retirado do útero, possibilitando a gravidez.

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Também ressalta-se a importância combinar seu uso com outros métodos não hormonais, como o preservativo, que também evita infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Além disso, mulheres em tratamento contra o câncer de mama podem precisar recorrer à hormonioterapia (também chamada de endocrinoterapia), que também influencia no sistema reprodutor da mulher.

+ Leia também: Câncer de mama: mais um outubro não tão rosa assim

A técnica consiste em inibir a produção de hormônios associados ao crescimento do câncer em questão. No caso dos tumores de mama, a exposição ao estrogênio é um fator de risco para a recidiva da doença.

Portanto, é pouco provável que uma paciente engravide durante o tratamento oncológico. Além disso, os tratamentos oncológicos podem comprometer a reserva ovariana e isso reduz as chances de engravidar no futuro.

Mas a ciência já está desenvolvendo formas de assegurar a fertilidade de mulheres em idade reprodutiva após a recuperação da doença.

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2. É possível engravidar após o tratamento?

Sim, mas nem todas as tecnologias estão disponíveis no sistema público. O acesso a esses procedimentos, portanto, ainda é um desafio a ser superado. Mas as técnicas tem avançado.

“Estamos vivendo um momento brilhante dentro da oncologia. São vários os avanços relacionados à detecção precoce e aos tratamentos, e isso também se reflete na fertilidade da paciente”, comemora Pedro Exman, coordenador do grupo de tumores de mama e ginecológicos do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Para amenizar o impacto do tratamento no sistema reprodutor, a mulher pode passar um procedimento de congelamento de óvulos antes que as terapias comecem. Esses óvulos podem ser usados posteriormente, quando a paciente estiver recuperada e desejar ter filhos.

Outro avanço recente é a possibilidade de interromper a hormonioterapia para engravidar com segurança, apontada por estudos recentes.

“É uma completa mudança de paradigmas”, afirma Anastasio Berrettini Júnior, coordenador do serviço de mastologia e reconstrução mamária da Hapvida NotreDame Intermédica, em São Paulo. “Toda mulher jovem diagnosticada deve ser aconselhada sobre essas possibilidades.”

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+ Leia também: EUA recomendam mamografia a cada 2 anos para mulheres a partir dos 40 anos

3. O que acontece quando o diagnóstico chega durante a gravidez? O bebê corre risco?

Apesar de raros, alguns tumores podem aparecer durante a gestação ou em até um ano após o parto. É o caso do chamado câncer de mama associado à gravidez ou câncer de mama gestacional, um dos mais comuns nesta fase.

Nesses casos, cirurgias para a retirada de tumores podem ser realizadas em qualquer período da gravidez. Já o tratamento quimioterápico pode ser feito, mas após as 12 primeiras semanas de gestação.

“No primeiro trimestre, deve-se evitar agentes que possam causar malformações e anormalidades ao feto”, explica Berrettini Jr. “Após essa fase, a placenta já estará formada e será capaz de proteger o bebê.”

Outras técnicas, como a radioterapia, não são recomendadas.

O diagnóstico e o tratamento durante gravidez não mudam o prognóstico da paciente e não aumentam o risco de prematuridade do bebê — apesar de alguns médicos preferirem induzir o parto para maior segurança da mãe e do filho.

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4. Como deve ser feito o diagnóstico do câncer de mama na gravidez?

Caso a gestante sinta algum nódulo ou alteração inesperada nas mamas, seu médico deve ser consultado.

Nesses casos, o ultrassom costuma ser solicitado para avaliar a queixa e biópsias podem ser necessárias para determinar o diagnóstico. Estes procedimentos não oferecem risco ao feto.

+ Leia também: Por que os exames de rastreamento são importantes no combate ao câncer

A realização de mamografia, o principal exame de rastreamento do tumor no seio, não é recomendada durante a gravidez, por conta do risco de exposição do bebê à radiação.

As ressonâncias magnéticas com contraste também não devem ser realizadas, já que a substância pode atravessar a placenta e provocar danos ao feto.

5. Qual é a relação entre câncer de mama e amamentação?

Além de ser muito importante para o desenvolvimento do bebê, o aleitamento materno também traz benefícios à mãe. Um deles é que esse hábito é um fator protetor contra o câncer de mama.

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Estima-se que, a cada ano amamentando, a mulher tenha seu risco de ter a doença diminuído em 5%. 

Além disso, aquelas que são adeptas e acabam desenvolvendo tumores mamários tendem a ter quadros menos agressivos.

“A amamentação traz benefícios a longo prazo tanto ao bebê como para a mãe, por isso deve ser estimulada”, avalia Berrettini Jr.

6. Qual é a relação entre câncer de mama e menopausa?

A menopausa não tem nenhuma relação com o desenvolvimento do câncer de mama.

+Leia também: Por que você deveria mudar seu estilo de vida na menopausa

A terapia de reposição hormonal, muito utilizada para aliviar sintomas dessa fase, porém, não é indicada a mulheres que já tiveram a doença.

Isso porque a exposição a hormônios, principalmente ao estrogênio, pode favorecer sua recidiva.

7. Como fica a fertilidade de mulheres com risco genético de ter câncer?

Mutações nos genes BRCA 1 e 2 elevam o risco de desenvolver câncer de mama e de ovário. Como forma de prevenção a retirada desses órgãos pode ser indicada pelos médicos.

Nesse caso, os especialistas devem informar a mulher sobre as opções de preservação da fertilidade disponíveis, caso ela pretenda ter filhos no futuro. Congelamento de óvulos e de embriões são alternativas.

Aconselhamento genético também é fundamental.

8. Métodos contraceptivos aumentam o risco de câncer de mama?

Esta questão gera muito debate entre especialistas.

Algumas pesquisas já associaram anticoncepcionais a um leve aumento no risco de desenvolver a doença na mama. Outras sugeriram que as pílulas diminuiriam a incidência de tumores nos ovários e no endométrio.

Porém, segundo o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, a grande maioria desses estudos são observacionais e, portanto, não podem “estabelecer definitivamente que uma exposição – neste caso, a contraceptivos orais – causa (ou previne) câncer”.

Especialistas argumentam que essas pesquisas podem não estar considerando outras questões existentes entre mulheres que usam ou não as pílulas.

“É possível que estas outras diferenças – em vez do uso de contraceptivos orais [por si só] – sejam o que explica seus diferentes riscos de câncer”, afirma o órgão de saúde norte-americano.

Já na cartilha brasileira Câncer de mama: vamos falar sobre isso?, o Inca cita o “uso de contraceptivos orais (pílula anticoncepcional) por tempo prolongado” como um dos fatores de risco para a doença.

+ Leia também: A trajetória da pílula anticoncepcional no seu aniversário de 60 anos

A Cancer Research UK, uma das maiores instituições de pesquisa oncológica do mundo, afirma que “precisamos de mais pesquisas sobre a pílula combinada e o risco de qualquer outro tipo de câncer.”

“Ainda que a pílula já tenha sido associada à doença, é importante esclarecer que os benefícios do método superam os riscos. Ele não deve ser vilanizado”, defende Exman. “Há fatores de riscos mais predominantes”, completa.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os principais fatores de risco para o câncer de mama são:

  • Avanço da idade;
  • Obesidade;
  • Uso abusivo de álcool;
  • Histórico familiar;
  • Exposição excessiva à radiação;
  • Histórico reprodutivo (menarca precoce ou gravidez tardia, por exemplo);
  • Tabagismo;
  • Terapia de reposição hormonal.
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