Na Campanha Nacional de Vacinação Contra a Gripe, período do ano em que as pessoas de alguns grupos, como idosos, gestantes e crianças (veja todos aqui), devem ir até o posto de saúde mais próximo para receber uma picada no braço e, assim, ficarem protegidos dos vírus influenza que vão circular durante o inverno. Uma dúvida que sempre surge nessas horas é: existe algum problema de saúde ou condição específica que impede a aplicação do imunizante?
Durante muito tempo, só havia um caso específico em que a estratégia preventiva era proibida no caso da gripe: nos indivíduos com alergia grave ao ovo. Isso porque, durante o processo de fabricação, as partículas de vírus incluídas na vacina são cultivadas dentro da casca e usam a clara e a gema como substrato. Daí existia o risco de ficarem traços de ovo no imunizante, o que poderia levar a uma reação anafilática séria.
Mas essa recomendação caiu por terra recentemente. “Nos últimos anos, tivemos avanços que permitiram reduzir substancialmente a quantidade de ovo utilizada na produção das doses”, esclarece a imunologista Ana Karolina Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Com essa evolução, a probabilidade de um evento adverso alérgico ficou muito pequeno, quase nulo.
Mudança de postura na vacinação
O próprio Colégio Americano de Alergia, Asma e Imunologia atualizou suas diretrizes em dezembro de 2017, liberando a vacina contra a gripe para os alérgicos ao ovo. Se esses indivíduos fazem parte do público-alvo das campanhas de imunização, eles podem (e devem) levar a agulhada na pele para se resguardar do influenza. “Aqui no Brasil, também já nos posicionamos nesse mesmo sentido e orientamos que esses pacientes não precisam de nenhuma precaução adicional na hora de se vacinar”, completa Ana Karolina.
Mas essa liberação não significa que a vacina contra a gripe esteja 100% livre de causar efeitos colaterais. Em sujeitos alérgicos ou não, ela eventualmente pode provocar dor e vermelhidão no local da aplicação, incômodos no corpo e febre baixa. Esses sinais são leves e costumam ir embora após dois ou três dias. Caso persistam ou fiquem mais fortes, é bom procurar o médico.
Só não caia naquela história de que a vacina causa gripe. Pura lorota. O imunizante é feito a partir de moléculas inativadas do vírus, incapazes de desencadear qualquer mal ao nosso organismo.
Como existe uma janela de até 15 dias entre a imunização e a sua eficácia total, pode ser que nesse meio tempo você teve o azar de ser infectado pelo influenza. Sem contar que há outros agentes infecciosos por trás do resfriado comum que atacam as vias respiratórias e dão sintomas semelhantes.
A recomendação vale para outros imunizantes?
Existem outras duas vacinas que são fabricadas dentro de ovos. A primeira delas é a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Nesse caso, não há problema nenhum aos alérgicos: ela deve ser aplicada normalmente nas crianças após os primeiros 12 e 15 meses de vida. Duas doses de reforço são indicadas dos cinco até os 29 anos e outra dose deve ser tomada dos 30 aos 49 anos.
No caso do imunizante contra a febre amarela, a história é outra. A fabricação dele ainda utiliza muito ovo e isso pode causar reações em quem tem alergia. Nesses casos, a recomendação é conversar com seu médico antes, para que ele possa avaliar seu quadro clínico e pesar riscos e benefícios de se imunizar.