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Como acalmar bebês com dificuldade para dormir

Consultamos os entendidos no tema para contar o que facilita e o que atrapalha o sono das crianças

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 2 set 2019, 10h00 - Publicado em 2 set 2019, 10h00

Tempos atrás, a apresentadora de TV Rafa Brites apareceu exausta em seu Instagram. No texto, ela contou que estava há dois anos e quatro meses sem dormir — a idade de seu filho, Rocco, na época. Segundo ela, eram de cinco a seis despertares por noite. O post gerou mais de 13 mil comentários, muitos com dicas de quem já passou (ou passa) pela situação. E não é pouca gente. Falamos de uma das queixas mais recorrentes entre os pais, especialmente os de primeira viagem.

Vale dizer que, até certo ponto, isso é normal. O problema começa quando o bebê dá sinais de irritação, cansaço e agitação durante o dia, e a família toda se sente prejudicada pela falta de sono. Além da tensão instaurada na casa, o descanso de má qualidade na primeira infância pode impactar negativamente o futuro dos filhos.

Uma equipe da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, avaliou mil crianças e percebeu que as que dormiam menos na fase pré-escolar tinham maior risco de apresentar problemas sociais e no boletim aos 7 anos. “No início da vida, o sono está intrinsecamente relacionado à maturação do sistema nervoso central e ao desenvolvimento de mecanismos de memória, regulação emocional e atenção”, explica a neurologista Rosana Cardoso Alves, diretora da Associação Brasileira do Sono. O repouso influencia inclusive o crescimento físico — não é crendice, não.

Acontece que, nos primeiros meses, o sono é polifásico mesmo, ou seja, dividido em ciclos mais curtos do que os do adulto. Assim, é esperado que o pequeno fique dormindo e acordando. Por volta dos 6 meses, a tendência é que o bebê desperte menos de madrugada. Só que esse período de transição varia de acordo com cada um, e seu sucesso depende muito da família.

“Ambientes com bastante barulho, falta de rotina e uso de estratégias equivocadas são os fatores que mais atrapalham”, aponta a pediatra Regina Terse, do Departamento de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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E o que não falta é tática duvidosa sendo repassada por aí. É o caso de treinamentos milagrosos que prometem que um bebê de meses dormirá oito horas seguidas — isso dificilmente acontece — ou a prescrição de melatonina, o hormônio do sono, que é fabricado naturalmente pelo organismo e raramente precisa ser suplementado.

Acontece que não há fórmula mágica para garantir tranquilidade: é preciso ter paciência, dedicação, apoio e persistência. Conheça as orientações fundamentadas a seguir:

A criança chorou. E agora?

É um campo polêmico, mas as evidências atuais indicam que não há impacto negativo em deixar a criança chorar um pouco. Claro que isso não quer dizer largar o filho aos berros. Mas, por volta dos 6 meses, não é preciso atendê-lo correndo.

Verificadas as necessidades básicas, como troca de fralda, fome, temperatura corporal ou barulho e luz excessivos, tente esperar para ver se ele volta a dormir sozinho. Ou tente confortá-lo sem pegá-lo no colo — use a voz e o toque.

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Esse “treino” não pode ser traumático para ninguém, por isso o distanciamento ao consolar deve ser feito gradualmente e só se os pais desejarem.

Acorda, pai!

Especialmente nos primeiros meses, é comum que a mãe acorde mais que o pai sob a justificativa de que é ela quem amamenta. Mas manejar o próprio sono no meio dessa bagunça sem apoio é complicado e pode colocar em risco a saúde mental da mulher e do bebê.

O ideal é que o parceiro levante junto, coloque a criança para mamar, conforte, troque fralda e que a família conte ainda com outros pares de braços para auxiliar quando preciso.

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Onde o bebê deve dormir?

Segundo estudos, filhos que dividem o quarto com os pais nos 6 primeiros meses de vida têm menor risco de morrer durante o sono — mas o descanso tem que ser no berço ou em cama acoplada. É que dormir no mesmo colchão pode provocar sufocamento e outros acidentes, além de deixar o sono da família mais leve por causa da tensão do espaço reduzido.

Para prevenir a morte súbita infantil, condição associada ao sono, há outras recomendações: deitar o bebê de barriga para cima, tirar travesseiros, cobertas e seguradores do berço e evitar que a criança durma por muito tempo na cadeirinha, no carrinho ou em outras superfícies inclinadas.

Ver desenho ajuda?

É altamente contraindicado. O uso de eletrônicos, sejam eles televisão, celular ou tablet, prejudica o descanso. Primeiro, por causa das luzes artificiais, que impedem a produção de melatonina — o hormônio do sono, liberado quando começa a escurecer.

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Fora isso, há a questão da excitação mental. Filmes e desenhos podem estimular demais os pequenos. Nos mais velhos, são os jogos eletrônicos e as redes sociais que ativam o cérebro e geram ansiedade.

O certo é tirar as crianças da frente das telas pelo menos uma hora antes de dormir e, no período noturno, escolher atrações mais tranquilas.

Pode deixar no colo até dormir?

No início, quando as coisas estão se ajustando, não faz muita diferença. Só que, depois, há o risco de uma associação negativa. Ou seja, fica a impressão de que o neném precisa sempre dos embalos — ou de qualquer outra muleta, como chupeta e paninho — para capotar. O mesmo vale para o peito: se a criança dorme mamando, ligará o seio ao sono.

Para evitar isso, é possível agir preventivamente no primeiro trimestre. Por exemplo, o bebê pode ser embalado até parecer sonado e bem relaxado, mas, ainda com os olhos semiabertos, deve ser colocado no berço. Assim, aprende a adormecer já deitado. Essa é uma das práticas capazes de fazer a diferença no futuro.

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A soneca da tarde atrapalha?

Até os 5 anos, os cochilos fazem parte do tempo de sono necessário para o desenvolvimento infantil pleno. Entre 1 e 2 anos, rolam até três sonecas ao dia. É indicado inclusive estabelecer uma rotina para elas, preparando o ambiente, diminuindo o ruído…

Depois disso, a maioria das crianças passa o dia todo acordada. Algumas até podem aderir à sesta caso esse seja um hábito da família, mas é preciso ficar atento aos horários e à duração do cochilo. Dormir das 4 às 6 da tarde, por exemplo, pode bagunçar o sono depois. Portanto, avalie se a soneca está afetando a qualidade do repouso noturno, que é o mais importante.

A quantidade de descanso esperada da primeira infância à adolescência

Idade Horas de sono
0 – 3 meses 14 – 17*
4 – 11 meses 12- 15*
1 – 2 anos 10 – 14*
3 – 5 anos 9 – 11*
6 – 12 anos 8 – 9
Adolescentes 7 – 9

*incluindo as sonecas

Tem que estipular uma rotina?

Ela é fundamental. A chamada higiene do sono preza boas práticas e a criação de um ritual que induza ao relaxamento. Por volta dos 6 meses, caso o bebê esteja se desenvolvendo bem, as mamadas noturnas já podem diminuir. Vale oferecer o seio, dar um banho quentinho, trocar a fralda, reduzir as luzes e cantar. Para os mais velhos, é bacana ler e fazer brincadeiras menos agitadas.

Ter uma rotina ao longo do dia também importa. Manter a organização da casa, dormir e acordar em horários parecidos e ter atividades frequentes dão à criança senso de previsibilidade e segurança para descansar sem medo de perder nada.

Fontes: Beatriz Kesselring, enfermeira obstetra, educadora do sono pelo FWII (Family Wellness Integrative Institute); Maria Laura Nogueira Pires, psicóloga aposentada da Universidade Federal de São Paulo, com pós-doutorado no Sleep & Mood Disorders Laboratory da Oregon Health Science University; Renatha El Rafihi Ferreira, psicóloga colaboradora do Ambulatório do Sono do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

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