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Tudo está conectado: como a crise climática já atinge a nossa saúde

Às vésperas da COP30, entenda como adoecemos junto com a natureza e conheça o conceito de saúde planetária, que oferece esperança em meio ao caos

Por Chloé Pinheiro, Clarice Sena, Silvia Lisboa e Thiago Müller (texto), Letícia Raposo/Estúdio Coral (design) e Thiago Almeida (Ilustração)
Atualizado em 17 out 2025, 14h29 - Publicado em 17 out 2025, 14h00
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Saúde planetária é um campo da ciência que estuda as conexões entre o nosso bem-estar e o do planeta (Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral Ilustração: Thiago Almeida/Veja Saúde)
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Você já deve ter ouvido falar no efeito borboleta, a ideia de que o simples bater de asas de um inseto pode provocar um tufão no outro lado do globo. A teoria se popularizou com um filme blockbuster homônimo de 2004, mas nasceu de berço científico.

Nos anos 1960, o meteorologista americano Edward Lorenz descobriu que, ao arredondar casas decimais ínfimas de variáveis em seus modelos matemáticos, a previsão do tempo mudava drasticamente. E que, a partir de certo ponto, tais repercussões seriam tão drásticas que gerariam uma impressão de caos.

É o tipo de ideia que encanta cientistas e gera debates filosóficos, mas não se prova nem se refuta 100%. Como, afinal, verificar se o movimento de algo minúsculo poderia levar a um evento catastrófico?

Fábulas e experimentos à parte, a metáfora do efeito borboleta ganha concretude quando pensamos nas mudanças climáticas e na crise ambiental provocadas pelo homem. A ciência já produziu evidências sólidas de que nossa saúde e a do planeta estão intrinsecamente conectadas. Ou melhor: são uma coisa só.

“Nos últimos séculos, parece que os seres humanos esqueceram que viviam em um planeta. E agora estamos sendo lembrados o tempo todo de que nossa vida ocorre em meio a uma atmosfera, um oceano, uma natureza”, diz o historiador indiano Dipesh Chakrabarty, autor do livro recém-lançado O Global e o Planetário: A História na Era da Crise Climática (Editora Ubu – Clique para comprar).

Pois é. As pesquisas mostram que pequenas interferências no meio ambiente têm consequências sistêmicas, tal qual o efeito borboleta. Uma árvore a menos na Amazônia, por exemplo, contribui para a mudança no padrão das chuvas da região, o que afeta a chegada de umidade ao Centro-Oeste e ao Sudeste, derrubando a qualidade do ar em São Paulo.

Ou seja, se você é um paulistano sofrendo com crises respiratórias eternas, é provável que haja um dedinho da natureza “distante” aí.

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Do aquecimento global, então, nem se fala: os quase 200 anos de uso de combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel, são os maiores responsáveis pela calamidade de hoje. “As mudanças climáticas são como o bater das asas da borboleta”, resumiu Marcos Buckeridge, vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) no evento que celebrou os dez anos da formalização científica do conceito de saúde planetária.

Um termo que precisa ser mais conhecido e passa uma mensagem clara: não dá para se manter saudável em um mundo cada vez mais doente.

Nesta reportagem especial, você vai conferir:

  1. O que é saúde planetária e por que precisamos falar mais dela?
  2. Os problemas na produção de alimentos 
  3. Os limites planetários
  4. A tríplice monotonia do sistema agroalimentar
  5. Uma transição alimentar é possível
  6. Poluição: um boleto que já estamos pagando 
  7. A saúde na COP30 
  8. O poder da reconexão com a natureza
  9. Efeitos da crise ambiental pelo corpo
  10. As principais fontes poluentes
  11. Microplásticos, o perigo da vez 
  12. O conceito de saúde única 
  13. Os ecossistemas estão doentes 
  14. Cuidar para sobreviver 
  15. Estudo mostra a diferença entre pensar e fazer 
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Clique imagem para ampliar (Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral/Veja Saúde)
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O que é saúde planetária e por que precisamos falar mais dela?

Em novembro, o Brasil recebe a COP30, a principal conferência internacional sobre mudanças climáticas, que pela primeira vez acontecerá na Amazônia — mais precisamente em Belém, capital do Pará, estado cuja população já é bastante afetada por problemas como queimadas, secas e desmatamento.

Diversas entidades, incluindo o próprio Ministério da Saúde, estão se movimentando para levar ao evento a voz da saúde planetária, ideia que virou um campo da ciência cujo pontapé inicial foi dado com uma publicação no renomado periódico The Lancet em 2015.

Neste texto, ela foi descrita como “uma nova ciência para uma ação extraordinária”. Ou seja, desde o início algo nada apocalíptico, mas sim motivador. Para propor soluções, se encara o desafio de unir áreas do conhecimento que antes pouco conversavam, o que os acadêmicos chamam de transdisciplinaridade.

Agrônomos, enfermeiros, médicos, biólogos, veterinários, engenheiros… Está todo mundo convidado a embarcar nessa. “Falamos de crises simultâneas, que se retroalimentam e impactam a saúde, o clima, a biodiversidade, o cultivo de alimentos”, explica o engenheiro e agrônomo Antonio Saraiva, do Instituto de Estudos Avançados da USP, um dos principais nomes por trás da disseminação do conceito.

Ele alerta para o fato de que o mesmo progresso tecnológico que nos fez viver mais e melhor no último século ampliou nossa capacidade de arruinar o planeta.

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Os problemas na produção de alimentos

Comecemos pelo uso do solo. A expansão agrícola, propiciada por diversos avanços técnicos, hoje é responsável por 75% das emissões de gases de efeito estufa, aqueles que elevam a temperatura global, no Brasil.

O calor é apenas uma das repercussões. “A forma como o solo é utilizado afeta a disponibilidade de água na superfície e nas áreas subterrâneas”, aponta o engenheiro ambiental Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, que avalia essas mudanças à flor da terra.

Não à toa, o Cerrado, bioma vital para os rios do país e para o agronegócio, está mais seco do que nunca. A perda chega a 31 piscinas olímpicas por minuto, calculou o trabalho Cerrado, o Elo Sagrado das Águas do Brasil, da Ambiental Media.

Isso não só se reflete nas torneiras das cidades mas também no fogo que afeta animais e humanos — como o Brasil comprovou respirando as partículas tóxicas emitidas pelas queimadas no ano passado.

Embora soe “pop”, o avanço agropecuário tem um prazo de validade, na visão dos especialistas. “A maneira como se produz hoje é inviável economicamente e já temos dados comprovando essa tendência”, afirma o sociólogo Arilson Favareto, professor da Cátedra Josué de Castro, da USP. Sim, podemos chegar a um ponto de não retorno — em vários sentidos.

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Inclusive, já se chegou a um deles.

Em outubro, uma força-tarefa de 160 cientistas comunicou que o mundo atingiu seu primeiro ponto de não retorno climático: a morte em massa dos recifes de corais causada pelo aquecimento do oceano.

Algo que afeta centenas de milhões de pessoas que dependem do mar para viver, e as outras bilhões que vivem no planeta, já que o mar presta serviços ambientais importantes, como a produção do oxigênio que respiramos e a absorção da maior parte do calor excessivo na atmosfera.

Limites planetários

Antes disso, em setembro deste ano, o mundo superou o sétimo dos nove limites planetários, métrica criada pelo Centro de Resiliência de Estocolmo para avaliar a sustentabilidade do planeta. A última barreira a ser ultrapassada também diz respeito aos oceanos.

A água salgada está com tanto CO2 que se tornou mais ácida, o que inviabiliza a vida não só dos corais, mas de diversos micro-organismos e animais marinhos. E o que isso tem a ver com o agronegócio? Muito, já que ele é um dos grandes emissores desse e de outros gases poluentes.

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A produção de pescados é outro problema. Lembre-se: estamos falando de conexões. “O atual sistema agroalimentar, da produção ao consumo, contribui para a ultrapassagem de todos os limites planetários já esgotados”, aponta Favareto, que é um dos autores do livro Caminhos para a Transição do Sistema Agroalimentar: Desafios para o Brasil (Editora Senac), a ser lançado no início de novembro.

A tríplice monotonia do sistema agroalimentar

A obra destaca que o sistema vigente padece de uma tríplice monotonia. A primeira se refere à produção vegetal, muito focada na monocultura de grãos como a soja, o que exige maior uso de fertilizantes e pesticidas e altera solo, água e biodiversidade locais, incluindo a perda de insetos polinizadores — algo que, indiretamente, está relacionado a meio milhão de mortes humanas por ano, segundo uma pesquisa.

É que a produção de frutas, legumes e verduras depende desses insetos. Mas não a de soja, milho, trigo… Plantados, aliás, para sustentar a segunda dimensão da monotonia: a da pecuária. “Você tem milhares de vacas, frangos e porcos aglomerados. Um ambiente não só de sofrimento, mas que facilita a transmissão de doenças e intensifica o uso de antibióticos, com repercussões também na saúde humana”, descreve Favareto.

Conhecemos essa história. O vírus da gripe espanhola de 1918 pode ter emergido de uma criação de porcos. O patógeno da gripe suína de 2009 também.

E, em 2025, vaga a ameaça do influenza H5N1, por trás da gripe aviária, que já circula entre vacas americanas e em diversos mamíferos. Basta uma mutação e um pulo entre espécies para a zoonose virar epidemia — algo que vivenciamos com a covid.

Por isso se fala hoje em saúde única, um conceito que está sob o guarda-chuva da saúde planetária, mas é mais focado no estudo de doenças que se originam em animais e chegam à nossa espécie — 70% das infecções emergentes seguem essa rota. “O aumento das doenças zoonóticas têm a ver com a perda de biodiversidade e com a perturbação imposta pelos humanos nos ambientes silvestres”, crava a virologista Helena Lage, também professora da USP.

+Leia também: De varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias?

Uma transição alimentar é possível

A terceira monotonia citada no novo livro dos cientistas brasileiros, e a que diz mais respeito diretamente a nós, é a da alimentação. Ora, boa parte da dieta global é composta de ultraprocessados, em detrimento de alimentos frescos e naturais. No Brasil, ao menos 20% do cardápio é preenchido por comida industrializada e cheia de aditivos. Em outras nações, esse índice passa dos 50%.

O problema é que esse mesmo padrão alimentar é aquele associado a mais doenças crônicas, como obesidade, diabetes e demência. “Se há um número restrito de fontes de comida baseado em um modelo padronizado de produção global, perdemos diversidade inclusive em termos nutricionais”, avisa Marcos Borba, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Pecuária Sul.

Não à toa, cientistas acabam de apresentar um manifesto baseado em evidências sobre a necessidade de divulgar e adotar a dieta planetária, programa alimentar que leva em conta a saúde do ambiente.

Outra saída para esse modelo é apostar em iniciativas que promovem o cultivo local e a agricultura regenerativa. Mais comida de qualidade, mais áreas verdes preservadas, mais contato com a natureza, menos substâncias químicas contaminando as águas e o ar…

Não é conversa de bicho-grilo, não. “Durante muito tempo, pensou-se que uma transição alimentar seria inviável economicamente, mas hoje sabemos que é justamente o contrário: que o modelo de hoje só se sustenta porque seus altos custos são transferidos de maneira oculta para a sociedade”, expõe Favareto.

Isso ocorre na forma de subsídios para diferentes elos do meio produtor, no forte poder político que o dinheiro traz, no negacionismo climático que espalha desinformação e desafia consensos… No fim, todo mundo paga essa conta.

+Leia também: “A causa básica da pandemia de obesidade são as corporações de ultraprocessados”

Poluição: um boleto que já estamos pagando

Um dos boletos mais caros da insustentabilidade do modelo econômico atual, aliás, é o da poluição. Esse já está sendo debitado à vista: hoje ela é o elemento da crise ambiental que mais afeta as pessoas diretamente, causando cerca de 7 milhões de mortes ao ano no mundo.

Em 2021, mais de 170 mil crianças brasileiras morreram por doenças ligadas à sujeira no ar. Grandes estudos recentes acusam sua relação com o câncer, as doenças cardíacas e até o Alzheimer.

+Leia também: Paulo Saldiva: “A gente já sabe 99% do que precisa sobre poluição. Falta ação”

“Mesmo assim, nenhum estado brasileiro tem um plano de ação para episódios críticos como os das queimadas do ano passado, e eles nem sequer têm monitoramento adequado da qualidade do ar”, critica a médica Evangelina Araújo, do Instituto Ar, que há 17 anos defende essa pauta.

Fora os poluentes tradicionais, cada vez mais se coloca nesse cálculo desastroso o problema dos microplásticos que impregnam a natureza. E sim, eles também estão presentes no ar.

A saúde na COP30

Evangelina faz parte do movimento Médicos pelo Clima, que já conta com 15 mil apoiadores e, no dia 11 de novembro, fará uma marcha durante a COP30.

O governo brasileiro também planeja destacar a saúde no evento. “Lançaremos um plano com linhas de ação mais concretas para todos os países: fortalecimento de vigilância dos efeitos da crise ambiental, preparação do sistema e linhas de pesquisa e inovação”, adianta a enfermeira Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo e enviada especial do setor de saúde na conferência.

“O fato de o Brasil ter vivido tão de perto muitos desses impactos ajuda a dar centralidade à pauta”, acredita. O encontro terá, pela primeira vez, um pavilhão dedicado à ciência planetária.

O pavilhão ficará em lugar de destaque, na zona onde acontecem as negociações entre autoridades, e será liderado por um time de alta estirpe: Carlos Nobre (um dos principais cientistas climáticos do país, vencedor do Nobel da Paz), Johan Rockström (sueco que liderou a criação dos estudos sobre limites planetários), Adalberto Val (referência mundial no estudo da fisiologia dos peixes da Amazônia) e Francisco de Assis Costa (professor e pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos).

O poder da reconexão com a natureza

Soluções unificadas e satisfatórias de um evento como a COP30, entretanto, soam cada vez mais difíceis. O “global”, em geral, envolve questões humanas e muita geopolítica, que ainda operam sob uma lógica do passado.

Governos se agarram aos seus interesses, então creio que, apesar de sabermos o que precisa ser feito do ponto de vista técnico, não teremos resultados positivos nas grandes instâncias de poder”, diagnostica Chakrabarty, o historiador indiano que defende que, com humildade, cada vez mais pensemos em termos planetários.

As estratégias urgentes propostas pela saúde planetária ultrapassam fronteiras, mas têm forte caráter local. Até porque envolvem atitudes que nos aproximam da natureza.

“Mas não estamos falando de contato, e sim de conexão, que é muito mais potente para a saúde”, distingue a enfermeira Lis Leão, do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, autora de diversos estudos que mostram o valor de intervenções terapêuticas baseadas em natureza. Entre os benefícios encontrados, estão melhora na imunidade, recuperação mais rápida e menos dor em indivíduos internados e fazendo quimioterapia.

Aliás, a saúde mental, tão afetada pelo cenário pessimista da crise climática, é uma das esferas que mais tiram vantagem dessa vida menos vidrada em celulares e mais solta ao ar livre, perto de plantas e bichos — o que ainda ativa o senso de pertencimento ao planeta e a capacidade de se engajar por ele. Afinal, não se cuida do que não se conhece.

“Não vamos todos fugir das cidades, mas precisamos repensar nossa vida. A boa notícia é que, como tudo está conectado, à medida que a gente organiza um ponto, o resto se beneficia”, diz a bióloga Tatiana Camargo, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

É o efeito borboleta, agora operando pelo bem — o seu e o de todo o planeta.

Efeitos da crise ambiental pelo corpo

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Clique na imagem para ampliar (Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral Ilustração: Thiago Almeida/Veja Saúde)

Cérebro
O calor aumenta o risco de AVCs e piora a cognição e o humor. Já a poluição e os agrotóxicos estão ligados ao risco de demência, depressão e até transtornos mentais como esquizofrenia.

Coração
A crise na alimentação afeta indiretamente o sistema cardiovascular, por meio dos efeitos do cardápio na constituição corporal. Já a poluição tem impactos diretos, imediatos e duradouros no órgão e nas artérias.

Sistema reprodutor
Agrotóxicos, microplásticos e poluentes podem alterar o funcionamento de hormônios e são estudados por efeitos na fertilidade e no desenvolvimento fetal.

Pulmão
O órgão onde os danos da poluição são mais apurados. Há um maior risco de doenças respiratórias, crises de asma, bronquite e de câncer de pulmão, incluindo em não fumantes.

Pele
Tanto os poluentes quanto as alterações climáticas repercutem no maior órgão do corpo. O excesso de agentes irritantes e a queda da umidade abrem caminho para eczemas e dermatites.

Metabolismo
A obesidade é a principal consequência da mudança no padrão alimentar. O sumiço das comidas in natura e a popularidade dos ultraprocessados elevam ainda o risco de doenças crônicas.

Bem-estar geral
A combinação de comida ruim, poluição e a vida desconectada da natureza, em cidades onde é difícil se deslocar a pé ou fazer exercícios, prejudica a saúde como um todo.

Vias aéreas
Poluição e baixa umidade do ar irritam nariz e garganta, elevando a incidência de diversos “ites”, como rinite, sinusite. E podem bagunçar as defesas locais, abrindo caminho para os vírus.

As principais fontes poluentes

Trânsito
O uso de combustíveis fósseis para o transporte é a principal fonte de emissão de gases tóxicos nos ambientes urbanos: material particulado fino, carbono negro, dióxido de carbono etc.

Queimadas
A queima incompleta de matéria orgânica gera fuligem, que faz estragos imediatos nos pulmões, e libera outros gases ligados ao efeito estufa. Os poluentes podem viajar centenas de quilômetros.

Criação animal
Uma das questões envolve o metano, gás produzido pela criação bovina. Há ainda a perda da floresta, que sequestra carbono da atmosfera, e o uso intenso de combustíveis na cadeia produtiva.

Plásticos
Poluente que ganha atenção crescente da ciência. É encontrado em quase todos os ecossistemas, da água dos rios e mares ao corpo humano. E está inclusive no ar que respiramos.

Microplásticos, o perigo da vez

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Clique na imagem para ampliar (Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral/Veja Saúde)

Os microplásticos são partículas minúsculas que surgem das mais diversas formas. “Todo mundo já teve um vasinho no quintal que, depois de muito tempo no sol, craquelou até virar um pó. Isso é microplástico”, ilustra a patologista Thais Mauad, professora da USP e líder de um estudo pioneiro que detectou essas substâncias no cérebro humano.

Outras pesquisas já os acharam na placenta e nas placas de gordura nos vasos sanguíneos. Milhares de componentes dessa categoria são investigados hoje por possíveis efeitos no corpo, como processos inflamatórios, mas ainda não se sabe o tamanho do estrago. “Até pouco tempo atrás, ninguém nem tinha noção que havia plástico no corpo humano”, comenta Mauad.

+Leia também: Microplásticos por toda parte… inclusive dentro de nós

O conceito de saúde única

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Clique na imagem para ampliar (Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral Ilustração: Thiago Almeida/Veja Saúde)

Entenda como essas três esferas estão conectadas:

Saúde animal
Animais como vacas, porcos e frangos são criados aos montes em condições que exigem o uso disseminado de antibióticos e suprimem uma diversidade genética importante para prevenir doenças.

Saúde ambiental
As alterações climáticas e a degradação do meio ambiente alteram habitats, facilitando a disseminação de vetores em novos locais e o contato com vírus até então desconhecidos e escondidos em áreas silvestres.

Saúde humana
Pense nos casos de dengue em regiões onde antes ela não existia, até na Europa. Ou na própria covid-19. São exemplos de zoonoses alimentadas pelos desequilíbrios na delicada equação da saúde única.

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Clique na imagem para ampliar (Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral/Veja Saúde)

Os ecossistemas estão doentes

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(Ilustração: Thiago Almeida/Veja Saúde)

Os problemas que já afetam o solo, as plantas e os corpos hídricos do planeta — e suas consequências. Veja algumas das dimensões desta crise.

Solo

Uso desenfreado
Mineração, agropecuária e desmatamento alteram a paisagem em ritmo acelerado. Na toada atual, mais de 90% dos solos do planeta podem ser devastados até 2050, alerta a ONU.

Monocultura
Ela exige o uso de uma quantidade maior de pesticidas e fertilizantes, elevando os impactos desses químicos na saúde e no bolso. Tanto que o gasto com eles cresceu mais do que a produção agrícola em si.

Perda da floresta
Entre queimadas e secas, a Amazônia já chegou a emitir mais carbono do que absorvê-lo. Já as terras protegidas sustentam boa parte das chuvas em áreas agrícolas no país.

Água doce

Seca
Mudanças no padrão das chuvas e a drenagem de recursos hídricos afetam o abastecimento. Agrotóxicos e metais pesados provenientes da mineração podem contaminar a água.

Cerrado
Bioma onde nascem oito das dez principais bacias hidrográficas do país, inclusive a Amazônica e a do São Francisco. É o mais ameaçado. Pode perder um terço de suas águas até 2050.

Amazônia
As secas na região estão mais severas, prejudicando o acesso da população a serviços básicos e aquecendo a pouca água que resta. Mais de 300 botos morreram por causa disso no ano passado.

Água salgada

Acidificação
O oceano absorve 90% do calor excedente gerado pelo dióxido de carbono e, assim, regula o clima do planeta. Mas essa absorção causa uma reação química que altera o pH da água, tornando-a mais ácida

Mundo invisível
Os mais afetados por essa mudança são micro-organismos de alta importância ecológica, como os fitoplânctons, além dos corais. Ambos fazem parte da cadeia alimentar e de carbono.

Desequilíbrio
O desaparecimento desses organismos afeta a produção de alimentos e o equilíbrio do oceano. Isso sem contar os efeitos do aquecimento da água e da elevação do nível do mar mundo afora.

Cuidar para sobreviver

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(Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral Ilustração: Thiago Almeida/Veja Saúde)

Entenda por que cuidar do planeta é cuidar de si:

Pela mente
O contato com a natureza libera neurotransmissores ligados ao bem-estar, aumenta a criatividade, a sensação de pertencimento e a empatia… E derruba os níveis de estresse.

Pelo corpo
Áreas naturais acessíveis, como parques e praias, incentivam a prática de atividades físicas. A vida ao ar livre já foi associada a ganhos na imunidade e melhora na percepção da dor.

A regra do 3-30-300
Casas, escolas e locais de trabalho devem ter vista para três árvores, estar em bairros com mais de 30% de cobertura de copa arbórea e a menos de 300 metros a pé de um espaço natural.

Pelo clima
O planejamento urbano dos novos tempos deve incluir recursos naturais contra calor, enchentes e outros eventos extremos. E adivinhe que recursos são esses… As mesmas áreas verdes que nos beneficiam.

+Leia também: Síndrome metabólica urbana: quando uma cidade fica doente

Estudo mostra a diferença entre pensar e fazer

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Clique na iamgem para ampliar (Design: Letícia Raposo/Estúdio Coral/Veja Saúde)

 

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