Estresse gerado pelos jogos da Copa pode maltratar o coração
Cardiologista conta como as emoções despertadas pelas partidas podem servir de gatilho para doenças cardiovasculares
A Copa do Mundo de Futebol da Alemanha perdeu um pouco a graça quando foi anunciada a morte do comediante Cláudio Besserman Viana, o Bussunda, na época um dos protagonistas do programa humorístico mais popular do país.
Bussunda morreu de infarto, após começar a passar mal na cobertura de um dos jogos. Não dá para afirmar se a tensão do torneio foi decisiva para a fatalidade, mas Bussunda era obeso e tinha histórico familiar de colesterol alto, fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCVs).
O fato é que as emoções das competições tendem a dar uma “ajudinha” negativa para quem se envolve emocionalmente além do limite e tem propensão às doenças cardiovasculares. Por ser o futebol um dos esportes mais competitivos e populares do planeta, capaz de causar tanta paixão, muitas pesquisas já se propuseram a investigar a relação entre esses campeonatos e cardiopatias.
Em um estudo publicado no The New England Journal of Medicine sobre a Copa do Mundo da Alemanha, a conclusão foi que assistir uma partida estressante praticamente dobra as chances de infartar.
Os homens cardiopatas são os protagonistas: durante os jogos, foram 3,26 vezes mais atendimentos masculinos contra a elevação de 1,82 nas ocorrências entre as mulheres, na comparação com um ano antes do mundial. E Bussunda pode ter entrado para as estatísticas, uma vez que faleceu em Parsdorf, a 15 minutos de Munique.
Outro achado mostrou que o número de internações hospitalares por infarto foi 3,7% superior na Copa da Alemanha na comparação ao mesmo período no ano posterior.
É citado ainda o número de mortes em decorrência de problemas cardíacos: nas primeiras fases da competição, a mortalidade por patologias do coração subiu de 7,9% para 9,3% e, nas etapas finais, esse percentual foi de 12,0%.
Um trabalho brasileiro desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto corrobora com os resultados da pesquisa internacional. De acordo com “Copa do Mundo de Futebol como Desencadeador de Eventos Cardiovasculares”, o índice de infartados nessas ocasiões cresce em até 8%.
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A apuração contou com o banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), selecionando casos atendidos em todos os prontos-socorros do país com o Código Internacional de Doença (CID) sugerindo suspeita de infarto. O levantamento foi feito entre os meses de maio e julho em quatro Copas: da França, Coreia do Sul e Japão, Alemanha e África do Sul.
A importância da prevenção
As pesquisas contribuem para que os serviços de emergência das cidades-sede, bem como os estádios, se preparem adequadamente para uma demanda maior, com equipes de socorristas treinados, aparelhos de ressuscitação e mais leitos disponíveis para o caso de hospitalizações.
Porém, de nada vale esta estrutura se o torcedor demora a buscar atendimento, principalmente para quem estará in loco, assistindo ao vivo, ou para os telespectadores que, ao perceberem qualquer desconforto no peito também precisam ser socorridos sem esperar os 45 do segundo tempo.
E se os jogadores convocados estão com o condicionamento físico em dia para a Copa do Catar, nós, os atletas da plateia, não podemos deixar por menos, principalmente quem já convive com problemas desse tipo. Por isso, não vale abrir precedentes na dieta porque a ocasião é festiva.
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Ao contrário: a alimentação deve ser leve e saudável, sem abuso de bebidas alcóolicas, de petiscos com excesso de sódio (a exemplo de pipoca, amendoim salgado, etc) ou de comidas gordurosas. Inclusive, é importante destacar que estamos chegando no verão, com dias mais quentes, o que exige cuidado redobrado com a hidratação.
Outra dica para curtir os jogos sem deixar o estresse dominar é ter uma boa noite de sono anterior à partida e manter as atividades físicas regularmente.
Aliás, a Copa pode ser, sim, um excelente pretexto para adultos e crianças pegarem gosto pelas práticas esportivas. Adotar essas orientações garante um golaço em prol da nossa saúde cardiovascular – e seguimos avançando no campeonato por uma vida mais saudável.
*Leandro Echenique é cardiologista e assessor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP