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Trombose é mais comum em quem tem doenças reumáticas?

Esta doença pode trazer prejuízos graves à saúde com sequelas irreversíveis. E atenção: você pode ter risco aumentado para trombose e não saber disso

Por Danieli Andrade, reumatologista*
22 out 2023, 09h08
trombose-autoimune
Trombose é mais comum em pessoas com doenças autoimunes (VEJA SAÚDE/SAÚDE é Vital)
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A trombose é uma interrupção na circulação do sangue em qualquer parte do corpo. Pode ocorrer nas veias, sendo mais frequente, e nas artérias, sendo mais grave.

Os fatores de risco mais comuns na população em geral são obesidade, dislipidemia (gordura no sangue), diabetes, hipertensão e gestação.

Algumas condições como câncer, doenças reumatológicas ou da coagulação e infecções também estão associadas a aumentos significativos nos eventos trombóticos. Na pandemia de Covid, por exemplo, muitos infectados foram acometidos por essa complicação.

Quanto mais fatores de risco o paciente somar, maior será o perigo. Pacientes idosos, por essa junção de fatores, costumam ser mais acometidos.

Situações específicas e até comuns podem também estar associadas, como cirurgias, uso de hormônios, determinados medicamentos e imobilização prolongada.

Por fim, entram na lista os hábitos, como tabagismo, consumo de álcool e sedentarismo.

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Tipos e sintomas da trombose

A trombose mais comum, que ocorre nas pernas e é chamada de trombose venosa profunda, apresenta dor, vermelhidão e inchaço.

A segunda mais comum é o acidente vascular cerebral (AVC). A pessoa pode ter fraqueza em uma parte do corpo, dormência, tontura, perda de visão, dificuldade para falar, entre outras manifestações, dependendo do local acometido no cérebro.

O infarto agudo do miocárdio também é uma variante do problema, mas desta vez em algum vaso do coração, com dor intensa e aperto no peito.

Já o tromboembolismo pulmonar, ou embolia pulmonar, é outra manifestação usual, que muitas vezes pode decorrer do deslocamento de um trombo dos vasos das pernas, causando dor no peito e falta de ar.

Alguns tipos são de difícil diagnóstico por ocorrerem em lugares atípicos, como por exemplo a trombose no olho ou em algum órgão interno, como o fígado.

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Mulheres podem ter abortos de repetição e/ou perda tardia na gravidez, devido à trombos nos vasos que nutrem o bebê.

+ Leia também: Cancele a trombose! Um chamado para prevenir e tratar a doença

O que fazer

Na presença de qualquer um desses sintomas, o ideal é comunicar o médico que o acompanha rotineiramente e ir ao pronto-socorro para realizar exames.

O tipo de investigação dependerá do local acometido, e o tratamento é feito com anticoagulantes injetáveis ou orais, a depender da gravidade e conduta médica.

Se a pessoa teve um evento trombótico ocasional, sem mais fatores de risco associados ou qualquer doença primária identificada, a anticoagulação será feita por 3 a 6 meses. Caso algo mais grave seja identificado, a terapia pode até se estender por toda a vida.

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Trombose nas doenças reumáticas

A reumatologia é a parte da medicina que estuda um grande grupo de doenças, dentre elas as autoimunes inflamatórias (quando o sistema imunológico, no lugar de proteger, ataca o próprio organismo), que na maioria das vezes acometem mulheres jovens.

Alguns exemplos desta categoria: artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite psoriásica, lúpus eritematoso sistêmico, vasculites e esclerose sistêmica. Algumas dessas doenças também podem ocorrer na infância.

A gota, bem mais comum em homens, é outra doença que é acompanhada pelo reumatologista e também está associada a um risco aumentado de trombose.

Todas essas doenças, sem exceção, aumentam o risco de o paciente ter uma trombose.

Uma revisão recém-publicada na revista científica Annals of the Rheumatic Diseases, mostrou que pacientes reumatológicos têm em média 12 vezes mais chances de ter trombose, dependendo da associação de fatores no momento da avaliação.

Além dos fatores já citados como de risco para a população geral, estes indivíduos agregam outras questões que devem ser levadas em conta: atividade de doença, início recente da doença, imobilidade por dor, uso de corticosteroides e a presença no sangue de anticorpos antifosfolípides.

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Algumas medicações específicas, como os inibidores de JAK usados na artrite reumatoide, devem ser evitados em pacientes com alto risco de evento trombótico.

Síndrome antifosfolípide

Entre as doenças reumatológicas, a mais associada com trombose e frequentemente subdiagnosticada ou reconhecida tardiamente é a síndrome antifosfolípide (SAF).

Pacientes jovens com qualquer trombose ou perdas gestacionais de repetição, principalmente sem fatores de risco associados, precisam ser cuidadosamente avaliados.

A doença é pesquisada por meio de coleta de sangue com a dosagem de anticorpos antifosfolípides.

Prevenção

Em indivíduos mais suscetíveis a eventos trombóticos ou em situações de risco como cirurgias, voos prolongados, períodos de imobilização e gravidez, o médico deve considerar o risco-benefício de dar remédios que previnam distúrbios na coagulação.

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É muito importante também orientar a adoção de medidas que reduzem fatores associados, como perder peso, fazer exercício físico, parar de fumar, usar meia elástica de compressão e ter uma dieta saudável.

Muitos avanços têm ocorrido no tratamento da trombose, com medicamentos mais fáceis de serem tomados e que exigem menos controle da anticoagulação por meio de exames de sangue.

É o caso, por exemplo, do Xarelto (rivaroxabana). Porém, segundo vários estudos, os pacientes com SAF grave podem ter maior risco de trombosar e sangrar se fizerem uso deles.

Daí a necessidade de conversar com o médico sobre qual o medicamento mais indicado para seu caso.

Há um ditado que diz: “Na medicina, como no amor, nem sempre, nem nunca”. Na trombose, cada caso precisa ser avaliado com muito cuidado, para que a tentativa de cuidar não prejudique o paciente.

*Dra. Danieli Andrade é reumatologista, membro da Comissão Científica da Sociedade Paulista de Reumatologia e responsável pelo ambulatório e laboratório de SAF (síndrome do anticorpo antifosfolipídeo) no Hospital das Clínicas da USP

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