Burnout não é cansaço! Não podemos banalizá-lo
Uma jornalista que já sofreu com a síndrome do burnout conta como diferenciar esse problema do cansaço que vem nos atingindo por causa da pandemia
Uma amiga me ligou aflita dizendo que a filha de 13 anos vivia um burnout. Eu, que já estava preocupada com algumas pesquisas e relatos indicando “sensação de burnout” durante o home office, tive certeza de que chegava a hora de falar sobre a banalização do problema. Estresse intenso, ansiedade e distúrbios do sono são algumas reações normais diante de uma pandemia, como alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Também sabemos que quem não dorme bem não vive bem, e esse estilo de vida em que as noites não são suficientes para recuperar o desgaste do dia pode gerar uma mistura de tristeza com falta de energia e, com o passar do tempo, vários problemas de saúde.
No entanto, como já estive perto de um infarto ao ser diagnosticada em um dos últimos estágios da síndrome de burnout, posso dizer que a sensação de cansaço descrita por tanta gente nos últimos meses não é burnout. Esse cansaço causado pelo estresse das mudanças e adaptações que praticamente todo mundo vem vivenciando é diferente do esgotamento físico e mental que chega depois de anos de ausência de si mesmo. Quando você está cansado, uma noite bem-dormida ou um fim de semana sem trabalho e internet renovam as energias e a vida volta a ter cor. Mas, quando você ultrapassa os limites do seu corpo e da sua mente por muito tempo, 30 dias de férias não vão devolver seu ânimo e sua saúde.
A síndrome de burnout é um conjunto de sinais e sintomas adquiridos dentro do ambiente profissional, que chegam com aquelas mensagens que seu corpo, já inflamado, envia em forma de dor. Burnout é tudo que você disfarça com remédios no necessaire ou fica escondido debaixo da maquiagem — aliás, mulheres encaram maior risco de desenvolvê-lo porque são cobradas por mais desempenho, além de lidarem com muitos preconceitos e assédios. Burnout é um luto que leva à compensação da exaustão com alimentos calóricos, bebidas, drogas e compras.
Identifico quatro fatores que contribuem para esse estado perigoso, silencioso e que pode estar mais perto do que você imagina — só no Brasil, são 20 milhões de profissionais com o diagnóstico, segundo levantamento da USP. São eles: 1) Empresas que querem produtividade sobre-humana, não importam as condições de trabalho; 2) Medo de dizer “não” para mais trabalho… e do desemprego; 3) Querer ser mais produtivo e não ver problema em entregar tudo de si, abrindo mão do sono, da família e do lazer para trabalhar; 4) A valorização desse comportamento pela sociedade.
Sabendo disso, você consegue prevenir o burnout buscando um profissional de saúde que analise seus exames, comportamentos e sentimentos, e atualizando sua identidade — afinal, nosso corpo muda do bom-dia ao boa-noite. Na prática, revise seus hábitos e condições de saúde e se inclua na própria agenda. Só os limites podem garantir a liberdade e uma produtividade sustentável. Ninguém quer ser o funcionário do mês e, em seguida, o afastado do mês. Por essas e outras, não podemos ignorar nem banalizar o burnout!
*Izabella Camargo é jornalista, palestrante e autora do livro Dá um Tempo! (clique para comprar)