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Buscas sobre ansiedade disparam na internet durante a pandemia

Confira as perguntas mais feitas ao Google sobre o problema e as respostas de médicos, além de dicas para acalmar a mente

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 10 mar 2021, 16h49 - Publicado em 23 jul 2020, 18h13

Essa falta de ar é Covid-19 ou só estou ansioso? A pergunta rodou as redes sociais recentemente em forma de meme, reforçando um fato notório: a pandemia está mexendo com a saúde mental de todo mundo.

Nosso comportamento online dá outros indícios de que a ansiedade é uma baita preocupação no momento. Em 2020, os brasileiros procuraram três vezes mais pelo tema na internet do que a média dos últimos 16 anos, informa o site de buscas Google. Em comparação ao semestre anterior, a pesquisa pela questão “como é ter crise de ansiedade” teve uma alta superior a 5 000% entre janeiro e julho.

Ora, o sentimento de angústia é justificável, especialmente em um período incerto como este. Ele pode se manifestar com pensamentos intrusivos, além de preocupações e sensações físicas bem desagradáveis. E, embora não signifique necessariamente a presença de uma doença psiquiátrica, é um sinal de alerta para um sofrimento que pode andar escondido e precisa vir à tona.

Para te ajudar a entender melhor a ansiedade, elencamos aqui as perguntas sobre o assunto que mais cresceram em volume de buscas entre janeiro e julho no Google e pedimos para psiquiatras auxiliarem nas respostas.

Como é ter uma crise de ansiedade?

Geralmente, a crise é caracterizada por um período de intensificação dos pensamentos de apreensão e preocupação, acompanhada de sinais corporais variados, entre eles:

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● Tensão muscular (dores ou tremores)
Cansaço extremo
Dores de cabeça
● Palpitações
● Suor excessivo
● Tontura
● Ondas de frio e calor
● Falta de ar
● Desejo de urinar constante

Existem dez tipos de transtorno de ansiedade segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, o DSM, um guia utilizado pelos médicos para diagnosticar distúrbios que acometem a mente. Historicamente, a crise sempre foi mais associada ao pânico, com duração de poucos minutos.

Entretanto, hoje vemos mais relatos de episódios de ansiedade que não estão relacionados à síndrome do pânico. “No transtorno de ansiedade generalizada, por exemplo, um dos mais comuns, as crises podem durar horas e até dias”, aponta Arthur Danila, psiquiatra colaborador do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (IPQ-FMUSP).

O psiquiatra Marcelo Kimati, professor da Universidade Federal do Paraná, só faz um alerta: “A ansiedade é uma resposta natural do corpo. Mas, muitas vezes, acaba sendo encarada como algo patológico a ser evitado, devido à necessidade de controlar constantemente as emoções”, explica.

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“Não digo isso para minimizar o quadro, porque episódios do tipo causam uma agonia real à pessoa, mas para mostrar que tais respostas emocionais são legítimas. E elas demandam a busca de ajuda para que seja possível entender quais aspectos da vida estão ligados à angústia”, completa o médico.

Como saber se você tem ansiedade? Quais são os sintomas da ansiedade?

Primeiro, vale reforçar que todo ser humano apresenta ansiedade. “Desde os primórdios da humanidade ela funciona como um sinal de alerta que nos protege do perigo iminente e ajuda a tomar decisões”, descreve Danila. O problema é quando o estado de vigilância e tensão vira um tormento diário, sem conexão com ameaças reais.

A ansiedade fora de hora pode ser uma resposta emocional temporária a problemas da vida como os que estamos enfrentando agora: desemprego, incertezas sobre o futuro, medo de contrair a Covid-19 ou de ver alguém que amamos morrer, falta de contato físico… Nesse contexto, é compreensível vivenciar picos de ansiedade.

“Temos que tomar cuidado para não transformar emoções em doenças”, alerta Livia Beraldo de Lima Basseres, psiquiatra e mestre pelo IPQ-FMUSP. “A ansiedade passa a ser patológica quando é uma constante que interfere na sua vida, te impedindo de fazer as coisas e trazendo angústia na maior parte dos dias”, explica a médica.

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Além dos sintomas físicos que descrevemos na pergunta anterior, outros merecem atenção, como pensamentos negativos sobre tarefas que ainda serão realizadas e uma sensação constante de que “algo pode dar errado”. Resumindo: vive-se em um estado permanente de apreensão na tentativa de antecipar os perigos.

O resultado é uma dificuldade para relaxar e se desligar dos problemas. “Pode ocorrer também insônia, muita irritabilidade, dificuldades de concentração que levam ao esquecimento de coisas cotidianas e sintomas depressivos, como tristeza, perda de prazer, sentimento de culpa e falta de perspectiva com o futuro”, lista Danila.

Como é a falta de ar provocada pela ansiedade?

Em uma crise de ansiedade, a respiração fica curta e pesada sem nenhum motivo aparente. A sensação é de estar ofegante e não conseguir inspirar ar suficiente. Só que essa dificuldade para respirar também pode ocorrer na Covid-19 ou em outras doenças.

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Por isso, quando esse sintoma surge pela primeira vez de maneira intensa e demora para ir embora, mesmo depois de técnicas de relaxamento, o ideal é buscar o médico. “Ele é quem deve fazer a diferenciação”, informa Livia. “Agora, se a pessoa já procurou atendimento recentemente para investigar sua saúde, sabe que está bem, e a falta de ar surge novamente, a chance de estar relacionada à ansiedade é maior”, pondera a médica.

Alguns fatores, como o fato de o fôlego sumir depois de um esforço físico aparentemente leve (na ansiedade ele não piora com esforço físico) e a presença de sintomas como febre, ajudam a levantar a hipótese de que outra doença pode estar por trás do desconforto.

Como diminuir a ansiedade rapidamente? O que fazer durante uma crise de ansiedade?

Primeiro, tente diferenciar o que é o medo real do que é abstrato. Para isso, olhe para a situação racionalmente em busca de ameaças verdadeiras. Vale também apostar em medidas que te tragam de volta para o presente e para a realidade, como as técnicas de respiração. Elas envolvem contar as inspirações e expirações e podem ser feitas com a ajuda de aplicativos.

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“Ao regular a respiração, baixamos os níveis de adrenalina e conseguimos sair da crise”, ensina Livia. Se possível, vá para um lugar tranquilo, onde você se sente seguro, e converse com alguém.

“Fale sobre o que está sentindo e busque estratégias que tragam alguma lógica para essa experiência ilógica”, destaca Kimati. Com o tempo, a pessoa que sofre com um transtorno de ansiedade tende a desenvolver suas próprias táticas para se acalmar, como um banho quente, uma caminhada, consumo de chás e por aí vai…

Como ajudar alguém com uma crise de ansiedade?

Estar ao lado e demonstrar empatia são as coisas mais importantes. “Reforçar a presença pode ajudar muito, pois a pessoa lembra que não está desassistida”, nota Danila. Nesse momento, evite frases como “calma” e “vai ficar tudo bem”, que podem gerar uma pressão em cima do indivíduo para que ele seja capaz de controlar a própria crise – o que é difícil e nem sempre acontecerá.

Para auxiliar a pessoa a dimensionar o perigo e evitar pensamentos catastróficos, aborde fatos e observações do ambiente onde estão, os acontecimentos da casa, a vista da janela, enfim, qualquer coisa concreta que a coloque de novo no momento presente. Mas só faça isso se ela quiser conversar. Caso contrário, respeite a decisão e deixe claro que está ao seu lado.

Como controlar a ansiedade?

Se a angústia e tudo o que descrevemos até agora virou rotina na sua vida, busque um psicólogo ou psiquiatra para avaliar o quadro. “Costumo recomendar primeiro o psicólogo, para evitar a medicalização do sofrimento, que é um problema em crescimento na psiquiatria atualmente”, destaca Kimati.

Na maioria dos casos, o ideal é começar por táticas que não envolvam remédios, como a psicoterapia. Várias linhas podem ser eficazes, mas, em quadros agudos, os estudos são mais favoráveis à terapia cognitivo-comportamental.

Quando o remédio é de fato necessário, antidepressivos são a classe mais utilizada. Ocorre que eles são mais eficazes se acompanhados de psicoterapia e de mudanças de estilo de vida, principalmente a prática de exercícios físicos regulares.

Acima de tudo, não ignore o que está sentindo. “A melhor forma de lidar com a ansiedade é se desfazer da negação e prestar atenção às manifestações do corpo. Se ele está dizendo algo, é porque sua vida precisa de algum tipo de ajuste hoje”, conclui Kimati.

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