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As fezes revelam muito sobre sua saúde

A forma, a cor e o cheiro de seus resíduos corporais podem sinalizar que seu organismo não está operando com 100% de eficiência. Médica ensina o que avaliar

Por Priscilla Rebouças, coloproctologista*
14 dez 2022, 09h05
cores das fezes
As fezes dizem muito mais sobre a saúde do que se imagina. (Ilustração: Marcus Penna/SAÚDE é Vital)
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O famoso “número dois” pode ser o sinal número um de algum problema médico. Por isso, ao evacuar, é sempre bom dar uma checada antes de acionar a descarga, pois você pode encontrar pistas importantes sobre sua saúde.

Fezes duras e irregulares podem significar que você está desidratado, por exemplo. Vermelha? Pode ser um sinal de sangramento retal. Já um cocô com cheiro forte e pungente talvez indique uma infecção.

Basicamente, há um tesouro de informações para quem está disposto a dar uma analisada no cocô. Só é preciso saber o que procurar. Para isso, vou explicar os principais sinais que devem ser analisados.

Antes, porém, alguns dados gerais: a matéria fecal é composta por 75% de água e 25% de matéria sólida, consistindo de bactérias, resíduos alimentares, secreções do processo de digestão, células intestinais e outras substâncias.

O tempo de digestão (até a formação e eliminação das fezes) varia de pessoa para pessoa, podendo ocorrer em 24 ou até 72 horas. Mas, quando a comida passa muito rapidamente ou lentamente, características como tamanho, cor e textura das fezes são afetadas.

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O que significa o formato do seu cocô?

O cocô não é exatamente um produto pessoal de tamanho único. Ele pode ser grande ou pequeno, dependendo do dia. Redondo ou alongado, duro ou macio — ou mesmo líquido. Há muita variação.

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Felizmente, para ajudar na análise, há uma classificação geral, a escala de Bristol, que divide as fezes em sete tipos, com base na forma e consistência.

Os tipos são os seguintes:

  • Tipo 1: Pedaços duros e separados, como bolinhas ou pedrinhas
  • Tipo 2: Duro e grumoso, começando a se assemelhar a uma salsicha com rachaduras profundas
  • Tipo 3: Formato de salsicha, porém, com rachaduras mais superficiais
  • Tipo 4: Como uma salsicha, porém, mais homogênea, com superfície lisa e mais macia
  • Tipo 5: Bolas macias com bordas bem definidas
  • Tipo 6: Pedaços amolecidos, mais pastosos, com bordas irregulares
  • Tipo 7: Fezes líquidas, sem pedaços sólidos

Com base nessa escala, dizemos que os tipos 3 e 4 são as fezes ideais, refletindo, na imensa maioria dos casos, dieta e hábitos de vida saudáveis.

Já os outros cinco tipos podem sinalizar que algo está errado:

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  • Os cocôs tipos 1 e 2 indicam constipação, intestino preso, e sua passagem pode ser difícil e dolorosa. A causa mais comum para a formação de fezes com essas características encontra-se na rotina diária. Beber mais água, adicionar fibras à dieta e praticar exercícios diariamente são atitudes que ajudarão a melhorar o quadro.
  • Os tipos 5, 6 e 7 se enquadram na categoria de diarreia, e podem ser indícios desde falta de fibra alimentar, intolerâncias alimentares e infecções intestinais até inflamações intestinais, por exemplo. Caso suas fezes tenham persistentemente algum desses perfis, é importante consultar um especialista.

+ Leia também: Como alcançar a meta diária de fibras na alimentação

É normal ter cocô de cores diferentes?

Antes de explorarmos o fascinante mundo do cocô “technicolor”, vale dizer que o tom considerado normal e ideal é um marrom básico. Essa cor vem da mistura de vários ingredientes no seu trato digestivo – como a bilirrubina, principal composto da bile, que é produzida e eliminada pelo fígado e vesícula biliar, e participa da digestão de alimentos gordurosos, além de restos digeridos de todos os alimentos da sua dieta.

Então, o que faz uma cor diferente aparecer de vez em quando? Geralmente, isso está ligado a algo que você comeu. Legumes, frutas e corantes alimentares podem “pintar” o cocô – e é perfeitamente normal (mesmo que não pareça).

No entanto, vale destacar que a tonalidade relacionada à comida deve desaparecer dentro de um dia ou mais. Se a tonalidade estranha persistir, serve de sinal de alerta para problemas médicos, como:

  • Cocô esverdeado pode ser sinal de diarreia “à vista”. Há risco de o quadro estar relacionado a infecção bacteriana ou viral, intolerâncias alimentares, uso de antibióticos (ou outros medicamentos), por exemplo.
  • Cocô avermelhado pode indicar sangramento, e muitas vezes isso têm a ver com condições como inflamações intestinais (a exemplo de doença inflamatória intestinal), hemorroidas, fissuras anais ou até mesmo pólipos e câncer colorretal.
  • Cocô enegrecido pode sinalizar sangue digerido, normalmente vindo das partes mais altas do trato digestivo, como por úlceras do estômago ou intestino à direita. Também há a possibilidade de estar relacionado a medicamentos, como ingestão de suplementação de ferro.
  • Cocô acinzentado ou esbranquiçado normalmente está ligado a alterações do fígado, da vesícula e das vias biliares.
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Na maioria das vezes, porém, uma cor diferente costuma estar associada à comida (oi, salada de beterraba!). Mas, se o seu cocô ficar com a tonalidade estranha por vários dias, reforço: entre em contato com seu médico.

+ Leia também: Por que levar o celular ao banheiro aumenta o risco de hemorroidas

Por que o cocô cheira mal?

O cheiro é ruim mesmo, isso é um fato básico. Mas há cocô que cheira muito pior do que o normal – e é aí que devemos prestar atenção.

Fezes extremamente malcheirosas podem apontar para desequilíbrios da microbiota intestinal, com presença de bactérias mais “indesejadas”, que produzem gases mais fétidos relacionados a digestão de proteínas, por exemplo.

Outras possíveis causas são: presença de sangue digerido, conhecido como melena, que são fezes enegrecidas, amolecidas e com odor característico, ou episódios de diarreia e suas variadas causas.

Se o odor for causado por algo que você comeu, deve desaparecer rapidamente. Se o problema persistir, no entanto, fale com seu médico para ver se há uma condição médica por trás do cheiro.

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Como manter o intestino saudável?

É muito importante ficar atento a isso, pois cerca de 80% das células do sistema imunológico do nosso corpo estão no trato digestivo, principalmente no intestino.

Para manter seus movimentos intestinais frequentes e saudáveis, aconselho os seguintes hábitos:

  • Adote uma alimentação equilibrada, baseada em alimentos naturais ou minimamente processados, e rica em fibras, que ajudam a compor uma microbiota intestinal saudável e previnem ou aliviam a constipação. Invista em frutas, verduras, legumes variados, além de cereais como psyllium e aveia.
  • Mantenha-se hidratado. A água ajuda a eliminar toxinas e melhora a consistência das fezes, favorecendo os movimentos intestinais. O cálculo deve ser de cerca de 30 ml de água por quilo de peso por dia. Portanto, uma pessoa de 70 kg deve beber algo em torno de 2100 ml de água por dia.
  • Pratique atividade física regularmente. Isso contribui para os movimentos intestinais, combatendo a constipação.
  • Consulte um especialista para saber se você tem indicação para fazer uma colonoscopia. Esse exame permite que os médicos procurem pólipos dentro do cólon e do reto, contribuindo para a prevenção do câncer colorretal. As indicações envolvem todas as pessoas a partir de 45 anos, além daquelas que têm histórico familiar de câncer colorretal ou pólipos, aquelas que já tiveram pólipos ou que têm doença inflamatória intestinal, e aquelas com sintomas como sangramento, perda de peso ou oscilações do funcionamento intestinal. Alguns casos devem iniciar a prevenção antes mesmo dos 45 anos.

*Priscilla Rebouças é médica coloproctologista, formada pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. 

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